Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

terça-feira, 7 de março de 2017

Como era Portugal quando a RTP entrou na nossa vida




João Villaret numa das emissões da RTP no primeiro ano da televisão
Foto Arquivo


Uma ida à praia em 1957, em Quarteira, Algarve
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A chegada de Isabel II, no Cais das Colunas, em Lisboa
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Obras para a construção do metro no Marquês de Pombal, em Lisboa
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Feira de São Martinho, em Penafiel
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Festa das Vindimas na sede do Rancho Infantil de Matosinhos
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O desfile da Queima das Fitas do Porto
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Casal de namorados na Feira de São José, em Matosinhos
Foto Arquivo

Sessenta anos depois, o país mudou bastante. Nos hábitos, na saúde e sociedade e na realidade financeira. Aqui fica um retrato de um país quando a RTP entrou, enfim, na nossa casa...

Pouco mais de 8,5 milhões de portugueses, mas uma taxa de natalidade que nos faz hoje corar de vergonha: 215 mil nascimentos por ano contra os 85 mil que as estatísticas oficiais registaram em 2015. Era assim Portugal em 1957: apenas 9,5% dos rebentos nasciam fora dos casamentos. Hoje são a maioria (50,7%, de acordo com os dados da Pordata). Uma taxa de mortalidade infantil de 77,5 óbitos de crianças por cada mil nados vivos (em contraponto com os 2,9 da atualidade) e esperança média de vida de 60 e 66 anos para homens e mulheres, respetivamente, muito aquém dos 77 e 83 anos estimada nos dias de hoje.

Nesse ano, a inflação fixou-se nos 1,43%. O produto interno bruto estava abaixo do 30 mil milhões, a léguas dos 185 mil milhões que o INE apurou para 2016.

Quando a caixa mágica entrou definitivamente na vida dos portugueses, um recetor de TV custava entre 5900 e 7800 escudos (entre 30 e 39 euros), um valor equivalente a nove meses de salário de um trabalhador não qualificado. Júlio Isidro, 72 anos e 57 de carreira, o mais antigo profissional de televisão português no ativo ("e provavelmente o que tem mais tempo de vida profissional em toda a Europa"), era um dos sortudos com televisão em casa. "Por causa de circunstâncias caricatas. A minha avó tinha sido fiadora de uma loja de eletrodomésticos. O homem fugiu e não pagou aos fornecedores. A minha avó lá teve de pagar as contas e ficou proprietária da loja. Portanto, fomos lá buscar um televisor. Um Nordmende, alemão, claro", recorda ao DN.

A visita da rainha Isabel II de Inglaterra a Portugal, em fevereiro, já tinha sido o primeiro grande teste à capacidade de mobilização dos profissionais da RTP. Durante os quatro dias de visita oficial, a monarca "mereceu da RTP as honras de um jornal diário que lhe era integralmente dedicado", relata Vasco Hogan Teves, o biógrafo oficial da RTP no livro do cinquentenário da empresa.

Chegou, enfim, o dia 7 de março. A primeira emissão regular da RTP começou às 21.30. Três minutos depois, o chefe dos serviços de produção, Domingos de Mascarenhas, fez uma alocução sobre o "Presente e o Futuro da RTP". Canções a Granel, um espetáculo de variedades apresentado por Raul Solnado, com Maria de Lurdes Resende, entre outros artistas convidados, durou 20 minutos, antes do noticiário. Após um intervalo, os jogos de futebol militar comentados por Lança Moreira (22.25), o documentário A TAP por Dentro (22.40), o bailado Os Enganos do Amor (23.00) e um último bloco noticioso (23.25) completaram a emissão.

"Em minha casa jantava-se religiosamente às 20.00. Naquele dia, logo a seguir, a empregada levantou a mesa, arredou a mesa, alinhou as 12 cadeiras lado a lado, como se fosse um teatro, e sentámo-nos todos a ver a emissão", recorda Júlio Isidro, cuja carreira televisiva haveria de começar logo três anos depois, no Programa Juvenil, ao lado de Lídia Franco e João Lobo Antunes.

O apresentador recorda que a emissão "foi vista de luz apagada". "Estávamos lá todos: o meu pai no meio, os avós, a criançada num canto e a vizinha de cima", lembra ao DN, acrescentando que o "fascínio da televisão" já tinha começado meses antes, aquando das emissões experimentais, em setembro de 1956. "Morava na João Crisóstomo, paredes meias com a antiga Feira Popular. Tinha 11 anos e, como as crianças não pagavam, aproveitava a chegada de casais, pedia-lhes para me darem a mão e entrava à socapa."

Percorra a galeria de imagens acima para ver vários momentos do dia-a-dia do país em 1957

http://www.dn.pt/sociedade/interior/como-era-portugal-quando-a-rtp-entrou-na-nossa-vida-5708655.html

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