Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

domingo, 30 de abril de 2017

Évora nos anos da pré-Revolução - 1975 - 01

* Victor Nogueira

(fotos VN, salvo indicação em contrário)


Praça do Giraldo e Café Arcada em dia de S. Porco

Évora é uma terça-mercado numa praça
…......numa praça em terça-mercado um café
…......de um café em praça numa terça-mercado
de agrários cinzentos
como cepos sem vida (...) - 

Évora  1972.Outubro.17 (Setúbal 1985.Outubro.13/1989.Março.01)

Hoje, em Évoraburgomedieval é terça‑feira e, para além dos turistas habituais, a Praça do Giraldo e o Café Arcada encontram‑se cheios de forasteiros, solidamente especados, indiferentes a quem passa e ao estorvo provocado. É dia de S.Porco, i.e, dia de mercado, em que os homens vêm à cidade para o negócio do gado, enfiados nos seus fatos escuros, de mau corte, botas enlameadas e chapéu na cabeça. Detesto a sua falta de maneiras, embora por vezes seja uma distracção observar as suas atitudes. O mais interessante neles é o modo como se escarrancham nas cadeiras, à mesa do café, solidamente instalados, o chapéu na cabeça atirado para trás. (MAF - 1971.10.09)

 Dos outros, é de assinalar o seu mau gosto no vestir, fatos escuros, a boina ou o chapéu de abas viradas para os olhos. Conversam com a cabeça apoiada na mão, uns sorridentes, outros de rosto grave, testas enrugadas. Por vezes recostam-se para trás nas cadeiras, outras juntam as cabeças, convergindo para o centro da mesa, quais conspiradores.(MCG - 1972.03.18)

Amanhã é 3ª feira, o meu dia negro, pois a cidade - e o café - enchem-se de alentejanos corpulentos, solidamente parados no meio do caminho, de chapéu na cabeça e fatos escuros, como se nada mais existisse no mundo senão as suas irritantes pessoas ! (NID - 1973 ?)


Largo Luís de Camões (Praça Vermelha, por nela se situar o Centro de Trabalho do PCP) Debaixo destas arcadas situava-se um restaurante onde por vezes íamos almoçar ou jantar mas cujo nome esqueci




Centro de Trabalho do PCP no Largo Luís de Camões

Debaixo dos arcos situava-se a Livraria dos Salesianos e uma loja de electrodomésticos. No tempo em que os aparelhos receptores de TV eram um luxo inacessível à maioria, os lojistas por vezes deixavam um dos aparelhos ligados para a plebe poder assistir da rua a eventos como os desafios de futebol. Debaixo destas arcadas se passou o que conto em 

"Um homem na Lua"

Ontem um bêbado abordou-me quando via os livros na montra da Livraria dos Salesianos [Évora]. Queria saber qual era a melhor história que ali estava. Ou a maior ? A de todo o mundo! De todos os tempos. Que todos aqueles livros eram mentiras. Para as pessoas comprarem pensando serem verdades. Era a máquina! Se eu acreditava que  o homem tinha ido à Lua, se eu vira com os meus olhos. Que os jornais e os livros só diziam mentiras. Que nenhum homem pudera ter ido à Lua porque ele não vira. E que eu tinha sido enganado pelos jornais. Era mentira, talvez tivessem ido, mas tinham morrido todos. Que isso dos submarinos andarem debaixo de água era diferente: era a Terra. Quanto pagaria eu para ele me contar uma história daquelas, vinda do fundo do coração? ( E vai daí, faz um gesto como que proveniente das profundezas do mesmo mas, ou pela bebedeira, ou lá porque fosse, o gesto iniciou-se baixo demais e não pude deixar de comentar com a minha habitual ironia: "O seu coração está baixo demais!". ) Quis saber o que eu fazia - se era escritor e já escrevera o meu livro - e não acreditava que eu vivesse do ar e do vento. Enfim, que se tivesse 25 anos como eu estava mas é em Lisboa, que isso sim! E lá se ia agitando desequilibradamente  o velho (de 57 anos), num asilo, convidando-me (ou convidando-se) para um copo ali na taberna, beata ao canto da boca com um grande morrão e deitando perdigotos como nuvem rota em dia de inverno. Mas nem queiras  saber a insistência com que ele duvidava da ida dos homens à Lua. (MCG - 1972.10.23)


Rua Serpa Pinto, à porta da casa onde morávamos (autor desconhecido, talvez alguém que fosse a passar na rua)


Largo Marquês de Marialva (autor Noémia Mendes ?)


Pátio de casa de  hóspedes da D. Vitória, na Rua do Raimundo (autor não identificado)


Ao fundo  as torres e o lanternim da Sé


Á direita uma das torres da Sé


A cúpula é da Igreja do Carmo


As 4 fotos acima são de Évora vista duma das torres das Portas de Moura. 




As fotos acima são da Praça 1º de Maio, onde se situa o Mercado  Municipal. Notam-se as inúmeras carroças puxadas por burros, pois os restantes meios de transporte não estavam ao alcance de qualquer bolsa.. Andar de motorizada era então um luxo.



Templo romano - à esquerda vê-se o antigo Palácio da Inquisição, onde funcionava o ISESE, sob direcção e orientação da Companhia de Jesus


A pré.Revolução nas paredes do ISESE





A de baixo é junto ao Convento do Salvador do Mundo, na Praça do Sertório / Rua de Olivença

O Partido faz a sua campanha e no palco estão pessoas que já conheço de há muito. Por detrás delas, enormes, em fundo vermelho, as efígies de Marx, Engels e Lenine. A brancura de Évora é agora quebrada por cartazes do PC

Marx, Engels e Lenine enchem as ruas, conjuntamente com cartazes com a foice e o martelo. (MCG - 1974.07.28)


A Sé vista do terraço do ISESE, vendo-se o edifício do Museu de Évora, no antigo Paço Episcopal


Foto a trabalhadores do ISESE, entre os quais o Sr..Veladas que era o contínuo e registava as presenças ds alunos nas aulas no início das mesmas. Avistam-se duas das torres da muralha medieval, sendo à esquerda a das 5 Quinas.


Numa rua de Évora (foto Celeste Gato)


EN 114 - 4 junto à Tapada do Ramalho e Quinta de Sta. Catarina. Ao fundo o Aqueduto da Prata


A Mourraia vista do Jardim de Diana. Em 1º plano a Rua do Menino Jesus


Muralha medieval e torre das Portas da Lagoa (Alagoa)  vistas da casa onde morávamos na Quinta de Santa Catarina


Rua do Muro e torre da muralha medieval






Sé de Évora


numa rua de évora



Nas piscinas de Évora



foto de autor não identificado (Carlos ou Teresa)





foto Isabel  CF- 
As fotos acima são no Jardim Público


foto Isabel CF




Na Rua do Raimundo

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