Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

sábado, 8 de abril de 2017

Rúben Garcia - "Prostituição. Retratos de uma vida na rua"


Fotografia da exposição do espanhol Rúben Garcia, no Centro Português de Fotografia, no Porto
DR
Centro Português de Fotografia abre no Porto mostra de fotografia do espanhol Rúben Garcia. 

Valdemar Cruz

São prostitutas. Vivem na rua. Trabalham na rua. Cruzam-se a cada instante com personagens de histórias várias. São clientes. Outros são amigos. Outros ainda são proxenetas. Partilham uma mesma mundividência e são postos a nu através das lentes do fotógrafo espanhol Rúben Garcia, como a partir de hoje, sábado, se poderá ver no Centro Português de Fotografia, no Porto.

Ao longo de dois anos, entre 2011 e 2013, empenhou-se no projeto "Prostituição. Retratos de uma vida na rua". Andou pelas veredas de Almería. Recolheu testemunhos, realizou entrevistas em particular nos bairros de El Puche e Pescadaria.

Como o próprio Rúben explica, entrou nos meandros mais esconsos, conseguiu ganhar a confiança daquelas mulheres e retrata-as, "sem pudor, em plena via pública", bem como a todos quantos giram à volta delas. Mostra a nudez sem filtros. De pé, em frente à câmara e por vezes sem contextualização. Os seus rostos e corpos, diz, "refletem a dureza a que estas pessoas estão sujeitas diariamente na rua".



"Depois de entrar é muito difícil sair" 

Naquelas duas zonas de Almería, explica o fotógrafo, há um significativo número de mulheres, sobretudo emigrantes, que se dedicam à prostituição. Os motivos mais importantes são, em geral, as precárias condições económicas em que vivem, a exclusão social, a falta de emprego e, sobretudo, o aumento do uso de drogas. Estão permanentemente sujeitas a agressões praticadas por delinquentes e expostas à possibilidade de contraírem doenças sexualmente transmissíveis.

Ao considerar que "a prostituição de rua marca as pessoas para toda a vida", Rúben Garcia constata estarmos em presença de "uma realidade social dura, cruel e injusta", vivida num mundo onde, "depois de entrar é muito difícil sair".

Nesse sentido, conclui, "os rostos, os corpos magros e o aspeto marcado dos personagens retratados" são "um verdadeiro testemunho dessa crua realidade".

Natural de Almería, onde nasceu em 1975, Rúben Garcia realiza fotografia de retrato documental desde 2011. Publicou já o livro "A tradição do nu" e já expôs em cidades como Madrid, Porto, Arezzo, Vigo ou Tóquio.

http://expresso.sapo.pt/cultura/sugestoes_culturais_exposicoes/um-fotografo-no-rasto-das-prostitutas-de-rua-em-almeria=f880812

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