Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quinta-feira, 24 de março de 2011

Fotos que mentem - Uma exposição sobre manipulação de imagens.


11 Março, 2008

Fotos que mentem

Uma exposição sobre manipulação de imagens.
A exposição "Imagens mentirosas" do Museu de Comunicação de Berna alinha uma série de fotografias manipuladas. Seus organizadores pretendem incentivar o espírito crítico do público frente às imagens transmitidas pela mídia. A exposição está aberta até 6 de julho de 2008.

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O jornal populista inglês "The Mirror" publicou uma foto com um título enganador: "A imagem que todos queriam ver". À direita, a foto original da princesa Diana e do seu namorado, o egípcio Dodi Al-Fayed, tirada durante um passeio de barco no verão de 1997. (Foto: Michael Jensch, Axel Thünker, Fundação «Haus der Geschichte der Bundesrepublik Deutschland»/SIPA Press, Paris)

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Logo após os atentados de 11 de setembro de 2001, em Nova iorque, surgiu a suposta última foto tirada de um turista sobre o teto do World Trade Center.<br /><br />Essa fotomontagem se transformou em culto na Internet. O turista retratado já foi identificado: trata-se de Peter Guzli, de Budapeste. A foto foi realizada por ele e enviada aos amigos como anedota (imagens retiradas da Internet).
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Em 17 de novembro de 1997, 58 turistas, dentre eles 36 suíços, foram vítimas de um atentado em Luxor, no Egito. O jornal populista "Blick" e a televisão pública colorem de vermelho a poça de água que escorre frente ao templo de Hatchepsout, para simular um mar de sangue. (foto: Michael Jensch, Axel Thünker, Fundação «Haus der Geschichte der Bundesrepublik Deutschland»/Keystone)
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Um soldado iraquiano cercado por militares americanos em 2003.<br /><br />O exemplo mostra a maneira como o enquadramento da imagem pode modificar radicalmente sua mensagem. (foto: AP Photo/Itsuo Inouye/Montagem: Ursula Dahmen/«Der Tagesspiegel»)
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Beirute, 5 de agosto de 2006, após o bombardeio da cidade por aviões de combate de Israel. A imagem do fotógrafo Adnan Hajj foi difundida no mundo inteiro através da agência Reuters.<br /><br />Jornalistas britânicos perceberam que a fumaça no alto à esquerda tinha um perfil suspeito pela repetição. Posteriormente foi possível provar que o autor havia manipulado a imagem. A agência Reuters se desculpou publicamente, retirou todas as imagens de Adnan Hajj do seu banco de dados e cancelou o contrato com o fotógrafo. (Keystone)
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19 de março de 2005: durante uma partida de hockey entre os times Lausanne HC e o Fribourg Gottéron, o jogador Eric Landry foi vítima de uma fratura do nariz, uma lesão cerebral e um profundo corte no rosto. Seu clube decidiu depositar uma queixa na polícia. <br /><br />Frente à mídia, a direção do clube produz uma fotografia (à esquerda) para provar a gravidade dos ferimentos. Porém a comparação com uma imagem realizada pela agência Keystone mostra que os pontos da sutura são menos numerosos do que a foto enviada pelo clube. Esta havia sido falsificada.
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Berna, a capital suíça, tem dois jornais: o "Der Bund" e o "Berner Zeitung", que nasceu de uma fusão de outras publicações. Durante a temporada 1978/79, as camisas do clube local de futebol, o "BSC Young Boys", tem as novas cores do "Berner Zeitung".<br /><br />Porém seu concorrente, o "Der Bund", parece não concordar com o patrocínio. Dessa forma, o artilheiro Alfred Hussner, que marca o 2 a zero contra o time da Basiléia, aparece no "Berner Zeitung" com uma camiseta com as cores do jornal, enquanto a mesma camisa é branca no "Der Bund". (imagem retirada de um catálogo de exposição"
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Cartão postal original, onde Kamenew e Trotski (à direita) são exibidos ao lado de Lenin na praça Swerdlow em Moscou. Posteriormente a foto foi retocada para retirar os dois dissidentes do palanque. (Museu Histórico de Moscou)
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.Ainda candidato presidencial na França, o político Nicolas Sarkozy posa para os fotógrafos em Saintes-Maries-de-la-Mer, em 20 de abril de 2007.<br /><br />A mesma imagem, tirada de outro ângulo, é um exemplo de como funcionam atualmente os meios de comunicação de massa (foto: Keystone)
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O artita alemão Matthias Wähner desfigura fotografias históricas, colocando em cena a sua própria pessoa. (foto: Matthias Wähner/"Fundação Haus der Geschichte der Bundesrepublik Deutschland")
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Stéphanie de Monaco, a personalidade mais fotografada pela imprensa populista no mundo, posa com diferentes bebês, muitas vezes semanas antes do nascimento marcado do seu filho. (foto autorizada pela revista "Der Spiegel")

12. Novembro 2007 - 19:26
        

Quando as fotos contam uma "outra" verdade

  • O jornal populista "Blick" publicou sua versão da imagen...
    O jornal populista "Blick" publicou sua versão da 
    imagen... ((Museum für Kommunikation))
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Desde que existem imagens, elas são manipuladas. Uma exposição do Museu de Comunicação de Berna exibe 300 exemplos de fotos falsificadas ou manipuladas e explica as razões dos seus autores.

Um dos exemplos é a foto que mostra o templo de Hatschepsut, em Luxor, no Egito, onde uma poça de água se transforma num mar de sangue depois de um atentado terrorista.

A foto foi objeto em novembro de 1997 de muitas manchetes de jornal e discussões acirradas sobre o poder das imagens.


No atentado terrorista cometido num conhecido balneário turístico no Egito, conhecido como o "Massacre de Luxor", 62 pessoas morreram, dentre elas 36 suíços. 



Depois da tragédia, o jornal populista "Blick" e também o canal público de televisão na Suíça acabaram tendo a mesma idéia: pintar de vermelho a poça de água que escorria do famoso templo com ajuda de softwares especiais. 



A manipulação foi rapidamente descoberta por leitores mais atentos e os dois órgãos de imprensa foram obrigados a se desculpar publicamente. Porém esse não é o único exemplo de manipulação de imagens.



"Possivelmente esse seja um exemplo não nocivo, que alguns poderiam até qualificar de divertido ou interessante à reflexão. Por outro lado, também existem casos de fotografias falsificadas, onde pessoas podem ser fortemente prejudicadas", analisa Ulrich Schenk, curador da exposição que acaba de ser aberta no Museu de Comunicação de Berna. 



Uma delas está relacionada ao ex-embaixador da Suíça na Alemanha, Thomas Borer. A carreira do brilhante diplomata terminou arruinada depois que jornais sensacionalistas revelaram um suposto caso amoroso entre ele e uma cabeleireira. As provas haviam sido fotos truncadas. 



Posteriormente o jornal foi obrigado a se retratar publicamente e pagar uma indenização. Porém o estrago já havia sido feito. Borer abandonou o serviço diplomático e hoje atua como consultor de empresas na Suíça.


Manipulações

Esses são apenas dois dos exemplos destacados na exposição itinerante, cujo título é "Fotos que mentem". Montada na Alemanha, ela aborda os métodos de manipulação e falsificação mais aplicadas no passado e na atualidade. 


"Queremos sensibilizar as pessoas e faze-las com que dêem mais atenção às imagens. Elas precisam se perguntar o que pode estar por trás de determinadas montagens", reforça Schenk.



Perguntas importantes são descobrir a origem da foto, analisar o que ela mostra e tentar decifrar suas intenções. "Da mesma maneira que precisamos avaliar o que estamos lendo, também é importante investir mais tempo nas imagens que estão na frente dos nossos olhos". 



Aparentemente, muitos visitantes não querem economizar seus minutos. O interesse na exposição é grande. "Estamos tendo um retorno muito bom da exibição. É interessante de ver como as pessoas se interessam pelo tema", explica o curador.


Desde que existem imagens

Diversas imagens da revolução russa podem ser vistas na exposição. Com o tempo, o ditador Stalin sempre se preocupava em retirar das fotos históricas pessoas que não lhe eram mais simpáticas. Um exemplo: dissidentes do regime. 


O visitante pode ser perguntar então se a falsificação pertence à fotografia desde o seu começo. "Eu iria mais longe ao dizer que a falsificação ou a interpretação de imagens pertencem ao processo desde o momento que surgiram as imagens", analisa Schenk.



Como exemplo o curador cita quadros de rainhas ou reis, cujas imagens foram sempre melhoradas pelos seus autores para dar uma melhor aparência aos monarcas.


Técnicas modernas

Atualmente esse trabalho foi facilitado com o surgimento de softwares especiais. As máquinas fotográficas também se desenvolveram e hoje oferecem recursos nunca imaginados antes.


"Eu imagino que um dia elas possam retirar automaticamente alguns pixeis ou até rugas dos rostos das pessoas fotografadas. Assim elas parecerão mais jovens do que são na realidade. Estou curioso para ver o que vai surgir nos próximos anos em termos de inovações técnicas nessa área". 



Ele mesmo não se diz contrário à intenção de embelezar o objeto retratado. "Porém acho importante que isso esteja explícito na obra", adiciona o curador.


Inclusão da Suíça

A exposição "Fotos que mentem" foi criada pela Casa da História Alemã. Seu grande sucesso no país vizinho à Suíça levou os organizadores em Berna a traze-la para a capital do país dos Alpes. Para isso, eles expandiram-na para incluir temas helvéticos. Schenk não precisou buscar muito.


"Eu até me surpreendi de ver que existem tantos exemplos no nosso país. Em pouco tempo conseguimos encontrar um grande número de fotos divertidas ou chocantes para incluir na exposição". 



Elas vão desde a foto retocada tirada na abertura da primeira linha de ônibus dos Correios Suíços, em 1906. Nela, o motorista retratado perde a sua barriga. Outro exemplo é dos anos 1970, onde jogadores de futebol "perdem" misteriosamente o nome do patrocinador nas suas camisetas. 



swissinfo, Christian Raaflaub
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IN BRIEF

A exposição "Fotos que mentem" (Bilder, die lügen) no Museu de Comunicação de Berna está aberta até 6 de julho de 2008.


O museu organizou workshops para escolas, onde os monitores debatem sobre os métodos de manipulação de fotos, os motivos dos seus autores e o poder das imagens.


A versão suíça da exposição (originalmente ela vem da Alemanha) oferece também exemplos helvéticos.


Dois debates com especialistas de renome estão programados para ocorrer em fevereiro e março de 2008.


Paralelamente à exposição, os autores lançaram também um livro dedicado ao tema.

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