Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Templos religiosos 13 - Vila do Conde - Igreja da Lapa

 * Victor Nogueira

A tarde estava soalheira e o trânsito escasso, terminada a época balnear. O périplo, esse  era para fotografar murais em Vila do Conde e um farol adossado a um edifício em Vila do Conde. Constato que este é a Igreja da Lapa. Apercebo-me que está aberto, pois muitas pessoas vagarosamente saem do templo. Regresso ao Fiesta II para ir buscar a malfadada máscara e chego a tempo de  encontrar ainda a porta aberta, o interior já sem fiéis salvo uma senhora idosa que colocava flores nos altares, retribuindo afavelmente a minha saudação. 

Percorro a igreja até ao altar mor, apercebo-me que entretanto um homem, talvez o pároco, se dirige para a porta para encerra-la, esperando pacientemente que eu termine a visita, saudamo-nos à minha saída. 

O adro do templo está agora deserto de pessoas, circundo o edifício, verifico que tem dois coretos, a par um do outro, com a torre do farol entre eles, enquanto um painel de azulejos narra uma tragédia  ocorrida em 1899, ceifando a vida de 105 pescadores.


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A saída da missa


Coreto














Os coretos



Painel de azulejos colocado em 1999

Um medonho e terrível temporal se desencadeiou na nossa costa, apanhando toda a pescaria da POVOA DE VARZIM no meio do mar, e,' accessando-a ceifou 105 pescadores que a dois passos da terra morreram no meio das vagas encapelladas e cyclopicas. Pede-se às almas boas e generozas que, pelo eterno descanço DAS ALMAS D'ESSES POBRES MARTYRES do trabalho, rezem um PADRE NOSSO E AVE-MARIA para que ellas peça a Deus Nosso Senhor por todas aquellas caritativas pessoas que de tao boa vontade deram suas esmolas para suavizar os horrores da fome e da miseria, a viuvez e a orphandade desprotegida.



Em 1770, os Mestres de Lanchas e barcos de pescar pediram licença para construírem uma Capela dedicada a Nossa Senhora da Lapa no espaço fronteiro à enseada, onde a comunidade piscatória estava a construir grande número de habitações. O edifício inicial, construído em madeira e coberto com panos de velas das lanchas, foi definitivamente substituído por outro em pedra e cal, cerca de 1813. A capela-mor foi reconstruída em 1849, ano em que também se arrematou a construção de uma sacristia e Casa da Mesa. A cabeceira encontra-se de frente para o mar, sendo encimada por um pequeno farolim (desativado), sob o qual se encontra um nicho com a imagem de Nossa Senhora da Lapa, em granito policromado, que encima um painel evocativo da tragédia de 27 de fevereiro de 1892 (em que naufragaram muitos pescadores da região). No interior, dentro dos retábulos neoclássicos, conservam-se boas imagens naturalistas, de finais do séc. XIX, em tamanho natural, do escultor João d’Affonseca Lapa, que são utilizadas nas majestosas procissões que se realizam na Póvoa. 

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PATRIMÓNIO RELIGIOSO - Freguesias da Póvoa de Varzi
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Fotos em 2021 09 07 Canon 196_09

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