Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Joshua Benoliel

Joshua Benoliel em 1909-1910.
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Origem: Wikipedia


Fotografia: Joshua Benoliel, o pai do fotojornalismo português, a partir de hoje em Cuenca (Espanha)
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António Sampaio, da Agência Lusa.

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Cuenca, Espanha, 06 Jun (Lusa) -- Dezenas de imagens de alguns dos momentos mais relevantes do inicio do século XX em Portugal, dominam a exposição de Joshua Benoliel, considerado o 'pai' do fotojornalismo português e que está patente a partir de hoje em Cuenca (Espanha).

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A exposição é uma de oito que integram a OpenPhoto, um programa de exposições da PhotoEspanha, apoiado por oito países, que decorre em várias instituições da cidade de Cuenca, património da humanidade e aspirante a Capital Europeia da Cultura em 2016.

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Para alguns o pai do fotojornalismo português, para outros o maior fotógrafo português do início do século XX, Joshua Benoliel (1873-1932) registou os grandes acontecimentos da sua época. Viajou com D. Carlos e D. Manuel II nas suas viagens ao estrangeiro, registou a implantação da República e as revoltas monárquicas e acompanhou os combates na Flandres durante a 1ª Guerra Mundial.

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"Além da sua qualidade de trabalho, que faz dele um foto-reporter excepcional, destaca-se também a grande diversidade e a quantidade do trabalho que fez", explicou à Lusa Emília Tavares, comissária da exposição. Mais do que os momentos históricos, as suas imagens ainda hoje são relevantes

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Judeu, Benoliel era evidentemente um apaixonado por Lisboa, uma cidade que lhe serve de palco para contar a realidade mais precária de muitos dos habitantes.

"O que é próprio da imprensa ilustrada, e da forma como estas imagens começam a ser usadas, é o facto de que o cidadão comum também pode ser noticia. Não é só o líder político, as altas figuras de estado, as vedetas, mas também o cidadão anónimo", diz Emília Tavares. "Foi uma inovação interessante que se refelecte na sociedade e na forma como a comunicação se desenvolveu ao longo dos século XX", sublinhou.

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Ao mesmo tempo, Emília Tavares refere que com este 'nascimento' do fotojornalismo começa também a manipulação informativa da imagem, a edição de fotos para se adequarem mais ao perfil ideológico das publicações. Alguns consideram hoje que Benoliel foi pioneiro em Portugal, tanto no uso da imagem como informação, como no que toca à implantação das novas técnicas e dos novos desenvolvimentos gráficos.

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Trabalhou para as mais importantes publicações da altura, destacando-se na "Ilustração Portuguesa" para a qual enviava semanalmente 180 fotografias, então em placas de vidro, de gelatino-brometo.

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"Estávamos nos primórdios da fotografia, sem a rapidez na captação e reprodução que temos hoje. Mas apesar das dificuldades técnicas Benoliel tinha um ritmo de produção bastante intenso", disse Emília Tavares. "Esta exposição deixa bem claro um sinal da importância que os meios de comunicação em massa vão ter no arranque da modernidade", referiu a comissária.

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Grande parte da colecção pertence ao Arquivo Municipal de Lisboa que, a par da Câmara Municipal de Lisboa, do Instituto Camões e da Embaixada de Portugal em Madrid, apoiaram a mostra em Cuenca.

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Lusa/Fim

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in Fotografia: Joshua Benoliel, o pai do fotojornalismo português

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Expresso
, Portugal

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Joshua Benoliel em retrospectiva

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Joshua Benoliel - Embarque do Corpo Expedicionário Português para a Flandres,
Cais de Santa Apolónia, Lisboa, 1917

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A edição deste ano da bienal de fotografia LisboaPhoto integra uma notável retrospectiva – a primeira do género – dedicada ao trabalho de Joshua Benoliel, considerado o pai do foto-jornalismo português. Nascido em Lisboa, em 1873, Joshua Benoliel captou com a sua objectiva alguns dos momentos mais marcantes da história portuguesa do início do século XX: do assassinato do rei D. Carlos, em 1908, à participação portuguesa na Grande Guerra de 1914-18, passando pela implantação da república, em 1910, e pela “revolução” de Sidónio Pais, em 1917.
Judeu, membro activo da comunidade judaica de Lisboa e frequentador assíduo dos serviços religiosos da sinagoga Shaaré Tikvá (Portas da Esperança), Joshua Benoliel deixou transparecer na sua obra um fascínio indisfarçável por Lisboa. Sobre esta faceta de Benoliel conta José Pedro de Aboim Borges:

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“Sente-se o amor que este homem tinha pela sua cidade e pelas suas gentes, a facilidade com que deambulava pelas ruas mais esconsas, testemunhando a precaridade das situações sociais, numa atitude próxima dos americanos Riis e Hine. É uma postura mais íntima, mais ‘fado’, mais humana.”
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Quando o jornalismo português tentava colmatar o atraso que levava em relação à onda de modernização gráfica que varria o mundo – numa altura em que a própria arte da fotografia em Portugal era, ela própria, ainda embrionária – Joshua Benoliel transforma-se no primeiro repórter fotográfico português, produzindo milhares de “clichés” para inúmeras publicações nacionais e estrangeiras. De entre todas destaca-se a Ilustração Portuguesa, que chegou a atingir uma tiragem de 24 mil exemplares em 1908, um feito notável num país que na altura tinha cerca de 5 milhões de habitantes e uma taxa de analfabetismo na ordem dos 80%.

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Sobre a copiosa produção de Joshua Benoliel escreve ainda José Pedro de Aboim Borges:

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“Benoliel enviava semanalmente mais de 180 fotografias para a Ilustração Portuguesa (placas de vidro, de gelatino-brometo, de formato 9×12 cm). Se acrescentarmos mais umas 50 para as restantes publicações com quem colaborava, obteremos um número próximo das 260 fotografias semanais efectivamente transaccionadas.”
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A exposição retrospectiva da obra de Joshua Benoliel, organizada por Emília Tavares, pode ser visitada até 21 de Agosto na Cordoaria Nacional, Torreão Nascente, em Lisboa.

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Joshua Benoliel - Postal ilustrado. Sinagoga de Lisboa, inaugurada a 18 de Maio 1904.

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in Blog

ruadajudiaria

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