Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

entre cascais e oeiras

* Victor Nogueira


Uma "piquena" reportagem de praia em praia, automobilística. com poucas fotos pois ou se conduz ou se fotografa. Cascais estava como sempre cheia de trânsito nas ruas, clientes nas esplanadas e transeuntes nas vias pedonais, que em nada facilitavam o meu acto de fotografar. Músicos tocavam parados nas ruas com reduzido e desafinado reportório: aqui um homem e um miúdo, aquele com acordeão e este com violino, compenetrados e em desajeitado dueto. Mais além outro com ar sério e algum contorcionismo tocava saxofone enquanto uma mulher penteava os cabelos duma miúda sentada em pequena cadeira, os recipientes das moedas quase vazios das dádivas dos passeantes, poucos dos quais paravam a escutar. O duo atrás referido ao fim de cada exibição fazia sorridentes vénias de agradecimento enquanto que noutro local mais concorrido o saxofonista não perdia o ar sério. 


Depois dum frugal lanche na pastelaria onde em tempos estive acompanhado deambulei pelas ruas do centro histórico, onde há anos morei durante larguíssimos meses, especialmente aos fins-de-semana e alternando com setúbal e paço de arcos,  desta feita descobrindo algo que nunca vira - o largo da Misericórdia e respectiva Igreja, esta com uma fachada exterior insípida e despojada, bem como a rua que corre nas traseiras. Nas ruas a calçada à portuguesa dá a ilusão do piso ser em relevo.



calçada portuguesa


Havia uma Feira do Livro no largo junto à Caixa e a livraria Galileu estava aberta. Mas desta vez não fui quer a uma, quer a outra, pois o tempo é de contenção de despesas e melhor é evitar as tentações mais ou menos  dispendiosas. Assim, na Galileu - que na cave é um alfarrabista - não entrei e não sei se ainda lá encontraria o simpático e atencioso livreiro com ar british. 


Depois foi o regresso a Paço de Arcos. Aos sinais vermelhos ou no para-arranca pode-se fotografar mas neste caso a envolvente nada tinha de especial e muitos eram os carros em fila. Hesitei se haveria de sair da estrada para fotografar dois ou três fortes da linha costeira de defesa da barra e do rio Tejo (S. Pedro da Poça, Santo António da Barra ...), mas acabei por prosseguir. Às praias - quase desertas a meio da tarde - não fui, fotografei-as apenas, cá de cima, com excepção da que fica a poente do forte de S. Julião da Barra, na fronteira entre Carcavelos e Oeiras, onde mergulhei os pés na areia, o que há muito não sucedia. Ao fim da tarde as praias de Carcavelos estavam sossegadas e quase despidas de banhistas, com uma cálida e suave  brisa .... ao sol. Se na juventude de universitário viajava e deambulava umas vezes sózinho, outras acompanhado de uma  colega e amiga ou em grupos, agora, com a idade, não me apetece a solidão nos passeios e deambulações.


Na de Carcavelos tentei em vão fotografar uma solitária gaivota e consegui uma má foto do que me parecia um impávido e plácido pombo caminhando imperturbavelmente pelo areal e à minha frente. As ondas encrespavam-se ligeiramente antes de se desfazerem num branco rendilhado e a rocha calcárea parecia uma paisagem lunar cravejada de mini-crateras. E disseram-me que aquela planta xerófila com enormes espigões floridos era do meu pais - a planta do sisal, de que se extraem fibras para tecelagem. Não sei se a que tenho na minha varanda em setúbal é também da mesma espécie.

Cascais




Praia de Santa Marta



 Centro Cultural de Cascais (antigo Convento de N. Sra da Piedade)



Casa das Histórias (Museu de Paula Rego)


Cidadela


Praia da Ribeira







Igreja da Misericórdia










Praia da Rainha



Praia de Carcavelos e Forte de S. Julião da Barra (Oeiras)



Planta de sisal






























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  Kant_O_Photomático: photoandado por Cascais

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