2010-05-07
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O júri do certame atribuiu galardões compartimentados em dez categorias distintas, abarcando assim, 62 fotógrafos de 22 nacionalidades. Mas as fotografias eleitas, que perfazem um total de 167, não se circunscreverão à capital. Naquela que é uma iniciativa da revista Visão em parceria com Fundação EDP, a exposição itinerante passará pelo Funchal em Junho, Portimão em Julho, e por fim, pela Maia, em Novembro.
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E não se destina apenas a profissionais, ou a aficcionados de fotografia. Fornece antes ferramentas a todos para um exercício de rememoração, para um passar em revista dos principais acontecimentos do ano que tenham marcado a agenda planetária.
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Como não poderia deixar de ser, os conflitos, sobretudo os resultantes de protestos de rua, que fizeram jorrar sangue, constituem dos principais protagonistas das imagens. Há mesmo uma que, metáforas à parte, foca o rosto de um jovem iraniano, entrosado num cenário bélico, como se derramasse lágrimas vermelhas.
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E é justamente sobre os embates em Teerão que versa a fotografia vencedora da edição de 2010 do World Press Photo, pertencente a um free-lancer italiano. As críticas de que foi objecto por facções puristas da fotografia foram refutadas pelo comissário holandês da exposição Jurre Janssen.
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"De facto não é a típica foto icónica", diz. "Foi tirada por um fotógrafo de 29 anos que estivera preso três dias e proibido de circular na capital do Irão", conta em jeito de contextualização do momento em que a máquina foi disparada. Sozinho, Pietro Masturzo perpetuou, então um episódio deveras simbólico. Mulheres, que naquele país não gozam de liberdade, fazem ecoar o seu grito de revolta, curiosamente, o mesmo usado numa revolução em 1979.
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"É como música. Demasiado alta não se percebe a letra, mas se baixarmos o som, aí se apreende o seu verdadeiro significado", salienta o holandês. Foi portanto um rasgo de silêncio poético que garantiu a esta imagem a distinção máxima. Quanto às acusações da alegada escassez de movimento, responde: "Não vejo que esse seja um critério. "Ela levanta dúvidas, provoca questões e não dá respostas". A história por detrás exige, pois, que se leia nas entrelinhas.
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E Jurren é justamente a favor do misticismo das imagens e da sua opacidade. A vencedora não é a sua fotografia favorita. Elege outras para o pódio pessoal. Uma delas espelha uma espécie de "conto de fadas de terror", outra, um aparentemente simples retrato de uma criança destituída de expressão.
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