Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

a caminho de labruge e do castro de s. paio

* Victor Nogueira

Ao chegar ao Outlet do Mindelo, em vez de virar para poente a caminho de Vila Chã prossigo para sul, direito a Labruge, paralelamente a A28, logo ali à esquerda entrevista por entre as árvores e arbustos, os aviões sobrevoando o espaço aéreo Chegado perto da praia de Moreiró sigo uma placa que indica "praia", o estreitíssimo caminho (rua do Fundo da Vila) ladeado de muros e paredes graníticas  e logo me arrependo da minha decisão, pois não deve haver mais que um palmo para cada lado do Fiesta II, lembrando-me aventura similar em Alpedrinha, na Beira Baixa (1).

Afinal ainda há bastantes veículos estacionados ao longo da rua de Sampaio pois as praias por aqui não estão ainda completamente despejadas de banhistas. Ao chegar ao entroncamento viro para sul e pronto  ... cá está a estação arqueológica, batida pelo vento ao som do marulhar das ondas aos pés da rochosa e granítica penedia, a 28 metros de altitude, numa zona também de interesse geológico pois situa-se numa falha cujos deslocamentos tectónicos permitiram a criação da praia de S. Paio ou dos Castros, com a deposição sedimentar (2)

Uma verde vivenda de madeira com alpendre em redor e um vasto terreiro descampado em torno de uma granítica capela sobressaem na paisagem. Sigo o passadiço, por entre denso canavial, cruzando-me com pessoas e bicicletas, transportadas ao ombro nos troços com escadas, aqui e ali deixando entrever o areal, as rochas e o mar. A estação arqueológica não tem a dimensão das de Bagunte  (3)  ou de Terroso (4).

Já não há vestígios nem memória dos pescadores e produtores de sal que aqui terão habitado até aos tempos da ocupação romana mas persistem os dos tempos neolíticos e da Idade do Ferro.

Junto á Praia dos Castros (entre as de Moreiró e de Labruge) situam-se os “penedos amoladoiros” contendo pequenas depressões alongadas, escavadas na rocha granítica, que teriam servido no neolítico para polirem ou afiarem instrumentos de trabalho. Nesta zona teria passado uma estrada romana.

No Alto do Facho, nas cercanias do marco geodésico existe um afloramento rochoso com gravuras rupestres, remontando às Idades do Bronze ou do Ferro, entre urzes, cactos (figueiras da índia ?) e margaridas selvagens. Do castro marítimo, que seria protegido a poente pela penedia e a leste por uma muralha, conservam-se os vestígios de duas habitações

A ermida centenária e que já existia no século XVII, eventual sucedânea de cultos pré-históricos, tem como orago um mártir cristão, morto às mãos dos sarracenos, de seu nome Pelayo, em 820 E.c. A capela tem vitrais recentemente colocados e a fachada principal está coberta com o que chamo azulejos de casa de banho. As festas religiosas, essas celebram-se anualmente no 1º domingo de Julho. (5)

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(1) Em Alpedrinha, na Beira Baixa (Fundão) meti o Fiesta I pela estreita Rua do Passadiço, tão estreita que à cautela a Fátima quis recolher o espelho retrovisor quase ficando com a mão entalada entre o carro e a parede de granito.  No fim da rua tive de fazer inversão de marcha e depois comentei com os mirones que na vila havia ruas não assinaladas demasiado estreitas e sem saída. Ripostaram-me admirativamente que tinha sido o primeiro carro a percorrê-la, pelo que sugeri que a rebatizassem como Rua Victor Nogueira, com a indicação do feito. Nesta outra Rua do Fundo da Vila não recolhi os espelhos retrovisores até que um deles raspou na parede. Enfim ... 
(2) Araújo, Maria da Assunção – O interesse científico e a necessidade de conservação da Área de Sampaio (Labruge, Vila do Conde) – Universidade de Coimbra - Territorium  4.1997 in http://www.uc.pt/fluc/nicif/riscos/Documentacao/Territorium/T04_artg/T04_Artg09.pdf
(4) entre os rios Ave e Cávado: Terroso, S. Pedro de Rates e Rio Mau in http://kantophotomatico.blogspot.pt/2014/09/entre-os-rios-ave-e-cavado-terroso-s.html
(5) Cuñarro, José Manuel Hidalgo - CASTRO DE S. PAIO ( VILA DO CONDE ) in http://castrosgalaicos.blogspot.pt/2008/03/castro-de-s-paio-vila-do-conde.html

a caminho de Labruge






em torno do castro de s. paio




ermida de S. Paio







 a zona castreja





("penedos amoladoiros")





(subindo para o Alto do Facho)






(praia de Labruge)



(gravuras rupestres)





 (praia de Labruge) 


(Alto do Facho e marco geodésico)


(praia de Moreiró)








(habitação castreja)


(praia dos Castros)


 (praia de Moreiró)


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