Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Ripper: IMAGENS HUMANAS



João Roberto Ripper: IMAGENS HUMANAS. Ripper não faz apenas imagens das pessoas, mas faz imagens junto às pessoas. A sua fotografia é um olhar igualitário. E destaca a dignidade daqueles que vivem em situações de extrema carência. Segundo Robert Capa. “Se a sua foto não está boa o suficiente é porque você não chegou perto o suficiente”. Em Imagens Humanas, essa é uma regra frequente com relação à distância focal, mas não só isso. Se a frase de Capa pode ter uma abrangência maior, então o trabalho de Ripper serviria ainda perfeitamente para ilustrá-la. Há proximidade no trato do autor com cada um que está em seu trabalho – ou talvez se deva dizer: com cada um que trabalhou junto a ele. “Ao longo dos últimos 36 anos acredito ter desenvolvido uma linguagem autoral própria, marcada pela proximidade com o fotografado. Uma fotografia que é, em parte, uma extensão da minha personalidade, sem deixar de ser o reflexo daqueles que, assim como eu, envolvem-se em malabarismos econômicos de toda ordem, para sobreviver com dignidade”. São as palavras de Ripper. Sua trajetória profissional ajudou na formação de uma classe de fotógrafos e no surgimento da fotografia de autor no país, além de criar espaços de grande autonomia para a documentação social. Esta carreira que cedo ganhou forma ao contribuir para o reconhecimento do fotojornalista na grande imprensa, logo passou a integrar as agências independentes e ONGs – consecutivamente a F4, Imagens da Terra, e Imagens do Povo. E ao longo dos seus 35 anos de estrada Ripper foi sempre fortalecendo sua ação em setores mais segregados do Brasil. Imagens Humanas reúne a coleção de seu trabalho pessoal, que sempre ocorreu em paralelo a seus coletivos fotográficos. Hoje, Ripper administra a Agência Imagens do Povo, que orienta garotos do subúrbio carioca para se formarem como fotógrafos profissionais – dentro do Observatório de Favelas do Complexo da Maré. (Rio de Janeiro/RJ). Este é um projeto que traz “um olhar endógeno, capaz de mostrar a favela para além da visão estigmatizante (...) quase sempre associada a violência e tráfico de drogas”, como bem fala Dante Gastaldoni, fotógrafo parceiro, amigo e autor do prefácio do livro homônimo a esta exposição. Dante observa também que Ripper é “sempre voltado para os outros e omisso em relação a si próprio”. E isto se confere nos fatos. Só agora, com Imagens Humanas, Ripper tem seu primeiro livro e sua primeira exposição individual. Quem organizou e viabilizou essa iniciativa foi Mariana Marinho, da Dona Rosa Produções: “Quando eu vi as fotos do Ripper, percebi que aquelas imagens iam muito além de uma linguagem documental, com forte acento de denúncia social. Aquelas fotografias eram, na verdade, obras de arte e, como tal, deveriam ser expostas para o maior número possível de pessoas”. As imagens foram produzidas principalmente entre 1999 e 2004, e retratam as ligas camponesas, os povos indígenas e o trabalho escravo no Brasil. Como boas obras contam elas mesmas, diante do público, as suas histórias – que são muitas, e são fortes. Venha conferir a ótica de Ripper sobre um Brasil que é às vezes deliberadamente oculto – como no caso do mercado escravo. Outras vezes, está apenas longe da vista da maioria de nós. Mas que vive com muita luta e intensidade.
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Por: Ímã Foto Galeria Lotado

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