Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Arte e fotografia - da 8ª arte

ARTE E FOTOGRAFIA (31/12/2010)

Da oitava arte

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Os fotógrafos Hellen Van Meene (autora das duas primeiras imagens, na sequência) e Jeff Wall são alguns dos nomes estudados por Charlotte Cotton em sua mais recente publicação
FOTO: REPRODUÇÃO
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31/12/2010
A curadora inglesa Charlotte Cotton mostra, em seu novo livro, as diversas maneiras pelas quais os criadores contem- porâneos recorrem às técnicas fotográficas para elaborar suas poéticas artísticas
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Na história da fotografia, sempre houveram aqueles que a consideraram uma forma de arte, da mesma forma que expressões da pintura e da escultura. Essa perspectiva, portanto, nunca foi tão defendida quanto no tempo presente. Momento em que a aspiração de muitos fotógrafos consiste em identificar a arte como território preferencial de suas imagens.

Com o objetivo discutir a gama de possibilidades pelas quais os artistas contemporâneos revisitam a fotografia para compor sua arte, a curadora e diretora de criação do Museu Nacional da Mídia do Reino Unido, Charlotte Cotton, publicou o livro “A fotografia como arte contemporânea”. Publicado originalmente, em inglês, em 2005, a obra acaba de ganhar edição brasileira pela WMF Martins Fontes.

A autora desenvolve uma atualização da história da fotografia artística atual, apresentando diferentes questões, como o caso de artistas que enfatizam as propriedades físicas e materiais da fotografia, utilizando-a apenas como um componente de sua atividade “pan-midiática” ou que fazem experimentos com novos modos de propagação de trabalhos. Incluindo nomes consagrados, como Isa Genzken e Sherrie Levine, ao lado de uma geração mais jovem que conta com Florian Maier-Aichen, Anne Collier e Walead Beshty.

O livro também sinaliza a durabilidade, a diversidade e a força que a fotografia de arte vem conquistando no século XXI. Para Charlotte Cotton, o foco dos capítulos consiste em agrupar aqueles fotógrafos que têm a mesma base em termos de motivação e de método de trabalho. “Essa estrutura prioriza as ideias que alicerçam a fotografia artística contemporânea antes de partir para a consideração do resultado visual em si”, acredita a curadora.

Questões
A fotografia contemporânea é um dos assuntos tratados na publicação. De acordo com Cotton, ela é derivada em parte das fotos documentais de performances de arte conceitual, comuns nos anos 60 e 70.

A autora se concentra, ainda, nas narrativas de histórias dentro da fotografia de arte, com atenção ao predomínio da fotografia do tipo “quadro-vivo” (às vezes descritas como fotografia “construída” ou “encenada” porque os elementos reproduzidos são montados antecipadamente e reunidos para expressar uma ideia já elaborada para criar a imagem); nas fotos contemporâneas: trabalhos em que a narrativa foi destilada até render uma única imagem.

Outra questão discutida é o conceito de uma estética fotográfica a partir das ditas fotos “inexpressivas”, que se referem a um tipo de fotografia artística marcada pela ausência de dramaticidade. Essas imagens parecem resultar de uma mirada objetiva em que prevalece o objeto e não a perspectiva que dele tem o fotógrafo.

Há um capítulo, chamado de “Vida íntima” que se concentra nas relações psicológicas e pessoais, como num tipo de diário da intimidade humana, por meio de fotos com um estilo evidentemente informal e amador, que fazem pensar nos instantâneos de família obtidos com câmeras “Instamatic” e a conhecida coloração das ampliações feitas em máquinas expressas.

Cotton, no entanto, ressalta: “os fotógrafos contemporâneos agregam a esse estilo expressivo, como sua construção de sequências dinâmicas e seu foco em momentos inesperados da vida cotidiana, eventos que são claramente diferentes daqueles que o leigo seria capaz de capturar normalmente”.

Novos tempos
A autora busca dá destaque ao uso da capacidade documental da fotografia na arte. Numa época em que, segundo ela, minguou o apoio a projetos de documentação intensiva destina às páginas editoriais de revistas e jornais, a galeria vem se tornando a vitrine para essas documentações da vida humana. Além disso, a pesquisadora traz vários trabalhos em que tanto a temática como a abordagem fotográfica se contrapõem ou desafiam nossa percepção dos limites das convenções fotográficas clássicas nos documentários.

O leitor vai se deparar também com uma série de métodos recentes, centrados em nosso conhecimento prévio de imagens, incluindo a releitura de fotografias conhecidas e a imitação de tipos genéricos de imagens, como as de núncios publicitários.
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Por fim, Charlotte Cotton apresenta uma análise interessante sobre a fotografia em que a própria natureza do meio faz parte da narrativa da peça.

“Com a presença maciça da fotografia digital como elemento da vida cotidiana, vários fotógrafos artísticos atuais tomaram a decisão consciente de salientar as propriedades físicas e materiais da fotografia, reagindo aos novos modos de disseminação fotográfica. As fotos ilustradas nesse capítulo chamam a atenção para as muitas escolhas que um fotógrafo deve fazer quando cria uma obra de arte”, conclui.

Fique por dentro
Perfil da autora

Charlotte Cotton é diretora de criação do Museu Nacional da Mídia do Reino Unido. Anteriormente, foi chefe do Departamento Wallis Annenberg de Fotografia do Museu de Arte do Condado de Los Angeles, diretora de programação da Galeria dos Fotógrafos de Londres e curadora de fotografia do "Museu Victoria & Albert de Londres". Além de curadora de várias exposições de fotografia, ela é autora e organizadora de publicações como "Imperfect Beauty" (Beleza imperfeita), "Then Things Went Quiet" (Então as coisas ficaram quietas) e "Guy Bourdin".

Ensaio
A fotografia como arte contemporâneaCharlotte Cotton

WMF Martins Fontes
2010
248 páginas
R$ 59

Tradução: Maria Silvia Mourão Netto

ANA CECÍLIA SOARESREPÓRTER
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http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=911005
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