Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Proibido fotografar fotografias, por Renato Roque

Uma espécie de blog a partir da fotografia 
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25 October 2009
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©Renato Roque, Proibido fotografar fotografias, na exposição de Augusto Alves da Silva, Serralves, Outubro 2009
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Estive novamente Serralves (eu gosto muito de lá ir) para a abertura da exposição de Augusto Alves da Silva. Para minha surpresa, depois de fazer a "inocente" fotografia que reproduzo, com a minha maquininha de bolso,o segurança dirigiu-se a mim, cheio de energia, informando-me que era PROIBIDO fotografar naquela exposição. Confesso que tal me surpreendeu: proibido fotografar numa exposição de um fotógrafo, que todos os dias "rouba" fotografias pela rua? Para além do mais, tenho de reconhecer que Serralves tem mantido uma politica de grande abertura relativamente à possibilidade de fotografar todas as exposições que tem realizado. Tenho podido sempre fotografar à vontade, sem problemas, quando muito sendo obrigado a não utilizar o flash, que de qualquer maneira nunca uso. Isto ao contrário de muitas instituições, onde o caso mais paradoxal de que me lembro era o CPF, onde nem o edifício se podia fotografar! Lembro-me de um dia, um segurança me ter chamado à pedra, depois de me apanhar a fotografar umas pedras do tecto de uma das salas! A única excepção que me ocorre em Serralves foi a exposição de Rauschenberg e na altura manifestei a minha perplexidade, que hoje volto a manifestar. Curiosamente, ao jantar, tinha tido uma conversa sobre a atitude fechada, conservadora mesmo, de muitos artistas que (paradoxalmente na condição de artistas ?) tentam por todos os meios impedir a divulgação das suas obras, conversa a propósito de um vídeo, precisamente de Augusto Alves da Sila, em que ele filmou um espectáculo da Companhia Nacional de Bailado e que não pode exibir porque o autor da música, que é reproduzida parcialmente na banda sonora do vídeo, o não permite.
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Recebi mais tarde uma explicação: esta proibição resulta de um acordo feito com os modelos de um dos projectos na exposição: o projecto book, que mostra imagens de mulheres, algumas com conteúdo sexual explícito. As modelos quereriam impedir a difusão pública dessas imagens! Claro que esta explicação parecendo justificar a atitude de Serralves não me satisfaz e nem faz muito sentido. Primeiro, se o argumento fosse relevante e a proibição fizesse sentido, bastaria proibir a fotografia na ala onde esse projecto está montado, que está bem delimitado no espaço da exposição. De facto, as outras exposições em Serralves continuam a poder ser fotografadas. Mas a proibição não faz qualquer sentido e é fácil ver que assim é. Que sentido faz "impedir a difusão publica das imagens", quando as imagens foram publicadas em livro, que qualquer pessoa pode reproduzir com muito melhor qualidade do que aquela que eu conseguiria obter com um pequena câmara, com reflexos em vidros, etc? Se as modelos queriam controlar as imagens, só o poderiam fazer na produção dessas imagens (fizeram-no?), impedindo eventualmente algumas imagens de fazerem parte do projecto. A partir do momento em que as imagens são públicas, são públicas.
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Ainda ninguém conseguiu a solução para o problema de comer o bolo e ficar com o bolo...Nem sequer os físicos quânticos! Talvez perguntando ao gato de Schroedinger, mas eu não aprendi a falar com gatos...
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Claro que só este pequeno episódio poderia suscitar uma longa reflexão sobre o tema da autoria, dos direitos de autor, dos direitos à imagem, da internet, etc.

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