Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

José Rosa - A magia da luz no buraco da agulha


O fotógrafo é adepto da fotografia pinhole (ou artesanal), sem uso de máquinas convencionais.

O fotógrafo paulista José Rosa (abaixo) está expondo em Curitiba 20 fotografias feitas a partir da técnica Pinhole, aquela com a qual a imagem é reproduzida através de recipientes fechados, como latas e caixotes.


Gazeta do Povo Online - Quinta-feira, 01/10/2009

Fotos: José Rosa

Fotos: José Rosa / Rosa usou as “nesgas de luz” para revelar as galerias subterrâneas de Brasília
Rosa usou as “nesgas de luz” para revelar as galerias subterrâneas de Brasília
Visuais

A magia da luz no buraco da agulha

O fotógrafo José Rosa exibe 20 fotografias que retratam o “lado B” de Brasília feitas com a técnica artesanal pinhole

Publicado em 30/09/2009 | Annalice Del Vecchio

Quando se pensa em uma exposição de fotos de Brasília, quais as primeiras imagens que vêm a cabeça? “O inconsciente coletivo nos remete à arquitetura de Oscar Niemeyer”, responde logo o fotógrafo paulista José Rosa, que há cinco anos vive na capital federal. Ele decidiu fugir da luz intensa do Planalto Central e dos famosos edifícios públicos em busca de um “lado B” mal-percebido até mesmo pelos seus habitantes.


Com câmeras rústicas como, por exemplo, uma latinha de leite em pó perfurada por uma agulha, produziu 20 retratos de passagens urbanas muito utilizadas pelos pedestres que circulam em uma urbe de raríssimas calçadas e largas avenidas de trânsito intenso. Entre estes espaços estão o Buraco do Tatu, a Galeria dos Estados, as passagens de pedestres sob o Eixão e os eixinhos Norte-Sul, o metrô.

As imagens feitas exclusivamente em técnica pinhole podem ser vistas na exposição Subterrâneas Passagens, que a Galeria da Caixa mantém aberta até 18 de outubro, apesar da greve dos bancários. “São espaços aos quais as pessoas não se atêm no lufa-lufa do cotidiano, não têm tempo, isso é função de quem trabalha com o olhar”, explica o fotógrafo, que escolheu a técnica por lhe permitir justamente contemplar mais longamente estes espaços sem a intermediação de um visor.

Mas, afinal, o que é pinhole? A palavra inglesa, que significa “buraco de agulha”, denomina uma técnica que remete aos primórdios da fotografia. A câmera é construída artesanalmente com materiais como uma lata e um alfinete para furar o recipiente. A luz que entra pelo furo, que corresponde à lente, desenha a imagem em um papel fotográfico colocado no interior da câmera.

 / “Com a técnica pinhole, o fotógrafo se aproxima de sua matéria-prima: a luz. Com ‘fótons grafamos’. É um modo simples, mas não simplório de fotografar, com o qual desmistificamos a complexidade técnica de um equipamento fotográfico.” José Rosa, fotógrafo Ampliar imagem

“Com a técnica pinhole, o fotógrafo se aproxima de sua matéria-prima: a luz. Com ‘fótons grafamos’. É um modo simples, mas não simplório de fotografar, com o qual desmistificamos a complexidade técnica de um equipamento fotográfico.” José Rosa, fotógrafo

Além das latinhas – que Rosa ensina a fabricar em um projeto de oficinas chamado Fotolata Arte & Ciência –, ele também fabrica suas câmeras artesanais com caixas de sapatos e até uma câmera digital desprovida de lentes. “É uma técnica que leva a uma contemplação maior porque como o furo é pequeno, a luz que entra é muito reduzida, e a sensibilidade do papel é baixa. Então, a única variável é o tempo de exposição, que precisa ser longo”, explica.

Rosa chegou a dedicar até 15 minutos para registrar uma única imagem. Por isso mesmo, na maioria das fotos não há gente, com exceção de um retrato em que um pedestre permaneceu sentado durante todo o tempo de exposição. Com a pinhole digital, no entanto, ele pôde registrar os rastros coloridos de luz deixados pela movimentação dos carros em uma das passagens aumentando a sensibilidade ao diminuir a velocidade de obturação.

Estudioso de fotografia, José Rosa encantou-se pela possibilidade de fotografar com uma simples lata. “Com a técnica pinhole, o fotógrafo se aproxima de sua matéria-prima: a luz. Com ‘fó­­tons grafamos’. É um modo simples, mas não simplório de fotografar, com o qual desmistificamos a complexidade técnica de um equipamento fotográfico”, diz.

Saber utilizar a luz é um desafio para este fotógrafo que registrou dentro de passagens subterrâneas sem nenhum recurso artificial. “Busquei nesgas de luz e trabalhei com altos contrastes”, diz. Em suas oficinas, ele fala de luz aos participantes na escuridão de um trailer transformado em câmera gigante. “Digo sempre que a câmera fotográfica é como um olho fechado: quando ele se abre, vê, e quando se fecha, registra a imagem.”

Serviço: Subterrâneas Passagens. Galeria da Caixa (R. Cons. Laurindo, 280), (41) 2118-5114 (agendamento de visitas monitoradas). 3ª a sáb., das 10 às 21 horas; e dom., das 10 às 19 horas. Até 18 de outubro.

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