Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

sexta-feira, 12 de março de 2021

a casa da Quinta de Santa Catarina, em Évora

 * Victor Nogueira

1974

O meu 1º trabalho a tempo inteiro, remunerado, foi como professor de Vida Política e de Introdução à Política, na Escola Industrial e Comercial de Évora,  no início de Dezembro de 1974. 

Regressado a Évora, viver em pensões era incomportável para o meu salário, como  registava então:

Tenho de arranjar outro quarto, pois aquele [nos Manuéis] é muito acanhado (apesar de pagar 60 paus por dia) e sem água corrente (tenho de ir ao 2º andar e apanhar grandes frialdades quando passo nos corredores) (MCG - (1974.12.05)

Agora não tenho pachorra para procurar quarto em casa particular - os "Manuéis" é uma merda para 1800$00. Antes mudar para a "Giraldo" e pagar 2 100$00. Mas isto não é sistema e não pode ser senão uma solução provisória. (MCG - 1974.12.08)

Em consequência com antigos colegas meus no ISESE, o João e a Filomena, resolvemos arrendar uma casa na Quinta de Santa Catarina, extramuros, compartilhando as despesas e equipamentos domésticos. Inseria-se no conjunto de moradias de dois pisos, construídas em banda, com quintal na frontaria e nas traseiras. 

1975

Tenho em mim uma certa nostalgia e também saudades tuas. Como te disse os meus tios vieram a Évora este fim-de-semana. No entanto só hoje me levaram a mobília e só hoje durmo lá em casa. Agora podes escrever-me para a QUINTA SANTA CATARINA - LOTE 24 r/c ÉVORA. (MCG 1975.03. )

Se a memória me não falha, para além das varandas, a casa, no piso térreo, tinha  duas assoalhadas à frente (a sala comum e o quarto do João e da Filomena), situando-se as restantes nas traseiras (cozinha, despensa, wc e duas ou três outras assoalhadas, uma das quais era o nosso quarto. Há fotos apenas no exterior da casa. 

Em Março de 1976, decidimos arrendar uma casa no centro da cidade, na Rua Serpa Pinto, quando fomos destacados ao abrigo das "experiências pedagógicas" do então Ministério da Educação e Cultura, leccionando aos alunos-mestres na Escola do Magistério Primário de Évora, eu Sociologia e a Celeste nas Escolas anexas.


1976

Gozamos os últimos dias nesta casa, pois no fim do mês mudamos para outra, perto da Praça do Giraldo. É uma casa velha mas que foi arranjada. Tem quatro assoalhadas (a mais pequena é do tamanho da maior desta onde estamos), cozinha, casa de banho, dois terraços. (...) 

À tarde estive a pintar a cama de ferro e o lavatório com uma mistura de água, cal de pedreiro e soda  cáustica, para retirar a tinta de modo a ser pintada de novo. Aquilo até fumegava e tenho a mão direita ardendo um pouco.

O jardim (?!) está se transformando num matagal e numa estrumeira. Tirei as plantas que coloquei em vasos e latas. O cão vai se entretendo a destruir o resto. Mas é interessante o desabrochar e o florescer dos arbustos e árvores plantados no inverno, que pareciam completamente ressequidos! ...

As acácias ainda estão na jarra mas já pederam o viço e o esplendor. Na nova casa não há quintal. É um 2º andar, mas como disse tem dois terraços, um ao pé da cozinha e outro por cima, no último piso. Vou fazer uns jardins suspensos, com vasos. Teremos de fazer uma compras que são indispensáveis para a casa nova: o esquentador, o aspirador, etc. (NSF - 1976.03.14)





(foto MNS)





A casa onde morávamos  e as cercanias


(foto MCG)


(foto  MNS)


Caricatura feita pelo Barradas Teixeira em 1966, para as Festas dos Finalistas do Liceu Salvador Correia, em Luanda, Creio que este era o cão do João e da Filomena.



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A cidade vista da Quinta de Santa Catarina, distinguindo-se a torre da antiga Porta da Lagoa e a Sé, com as suas duas torres sineiras e o lanternim


O  "Chinês", a Filomena e o João na Estrada de Arraiolos (ao fundo o Aqueduto da Água da Prata)

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