Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Murais em Setúbal 60 - O Caminho dos Pescadores

* Victor Nogueira

Partindo da Rua da Batalha do Viso encosta acima se encontra esta escadaria, em zona que após o 25 de Abril foi possível tornar habitacionalmente mais digna com o Projecto SAAL e a participação dos moradores das casas então abarracadas. Ingénuas quadras de Abílio Paciência ao longo do percurso são a memória desses tempos, substituindo grafitos anteriores.

Penosamente uma mulher idosa sobe a escadaria com um cão pela trela; saudamo-nos, cedo-lhe o lado do corrimão e ela agradece, enquanto lanudo canito saltita em meu redor deliciado com as festas que lhe faço. Mais adiante, no relvado, hierático, um indiferente e plácido gato aquece-se com os raios de sol duma tarde de céu azul mas algo neblinada. Áspero e acidentado era o caminho então feito a pé, entre a beira-mar e o Viso, encosta acima ou abaixo, incluindo a íngreme Rua do Clube Recreativo da Palhavã. onde as belas  vistas e horizontes estavam ao alcance da vista das populações vivendo na penúria, em estreitas vielas, atascadas na  lama.







O caminho que percorri / Até chegar ao sítio onde vivi


Noites sem conta / Semana após semana / Foi uma afronta / À dignidade humana


Hoje podemos viver / Este caminho percorrer / Em liberdade crescer / Na busca de outro fim


Este caminho renovado / Tem novo visual / Às cores foi pintado /  Satisfazendo o nosso ideal



Tudo o que se constrói / Há quem queira derrubar /  Mas o que mais me dói / É conhecer quem não quer amar


Um pássaro sózinho faz ninho / Mas criação não pode fazer / A ti te peço, amiguinho / Ajuda-me a crescer  (Abílio Paciência 21 - 5 - 2017)







Rua do Clube Recreativo da Palhavã

fotos em 2018.02.17


Série Murais e Grafitos em Setúbal






 O caminho em 2014 . 12 (Google Earth)

Sem comentários: