Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Necrópoles e túmulos (14) - Panteões Reais

 * Victor Nogueira

Alcobaça - Mosteiro (Panteão Real)





Foto Victor Nogueira - Alcobaça - Mosteiro (Panteão Real) - Este é um dos vários panteões dos reis, rainhas e princípes de Portugal, a par dos da Igreja do antigo Mosteiro de Santa Cruz (Coimbra), do Mosteiro da Batalha (Aljubarrota), da Igreja do Mosteiro de São Vicente de Fora (Lisboa) e do Mosteiro dos Jerónimos (Lisboa). 

Também a Igreja de Santa Engrácia (Lisboa) se destinava a Panteão Real, mas a centenária morosidade na conclusão das suas obras ("obras de santa engrácia", expressão que significava morosidade e inacabamento) inviabilizam-no, acabando por tornar-se já no século XX e após a implantação da República, Panteão para os Heróis e Glórias da Nação, tão ecletico que nele repousam desde Almeida Garrett a Aquilino Ribeiro e a Sofia de Mello Breyner (a 2ª mulher), dos ditadores Carmona e Sidónio Pais democratiamente coabitando com adversários como Manuel de Arriaga e Humberto Delgado, este assassinado pela Pide a mando de Salazar, na Presidência de  ... Carmona. 

Depois de Amália, outras glórias se pretende que lá repousem,  como o futebolista Eusébio ... Mas quem fala em José Afonso ou na assalariada rural alentejana morta pela GNR qd reclamava "Pão e Trabalho". ou em Bento Gonçalves, morto no Campo de Concentração do Tarrafal com muitos outros presos políticos, ou em Dias Coelho, escultor,assassinado pela Pide numa rua de Lisboa ?

Lá está  ele a meter a política  em tudo, dir-me-ão algumas das minhas leitoras mais ou menos fiéis. Pelo que ....



... o convite hoje é para uma deambulação pela vila de Alcobaça e alguma da sua história. e do Mosteiro cujo Abade era tão ou mais poderoso que o Rei de Portugal, a tal ponto que nos seus domínios se gritava em pedido de socorro "Aqui do Abade" e não "Aqui d'el Rey". Vasto domínio criado na terra de ninguém entre  os cristãos a norte e os muçulmanos a Sul, "revolucionou" a agriculttura na região. Com os tempos os seus frades e o Abade "renderam-se" a prazeres pouco ascéticos, a eles se podendo aplicar a expreessão "Comeu como um Abade" ou "Gordo que nem um Abade", desse estado falando um viajante inglês William Beckford nas suas Memórias. 


Numa nova visita passamos para além da igreja do mosteiro, passeando pelos claustros e pela sala do capítulo, defronte da qual existe um lavabo. Visitámos a sala dos reis, com estátuas de todos eles até determinada altura, para além duma série de peanhas vazias, talvez porque entretanto não tivessem concluído a estatuária por extinção das ordens religiosas; inexplicavelmente, do D. Manuel I salta para o D. José, sendo a peanha da filha deste, vazia, mais larga que as restantes. Reparámos na floreada porta para a sacristia, tomámos consciência da vastidão do dormitório, do refeitório (com o seu púlpito encrustado na parede) e da cozinha, na qual passa um braço do rio Alcoa e onde antigamente se guardaria o peixe vivinho da costa antes de passar aos caldeirões. Na sala dos reis, que foi panteão real, até transferirem os túmulos para outra sala, existe um painel de azulejos que pretende contar uma história, afinal inventada, relacionada com a coroação de D. Afonso Henriques, pelo papa e pelo fundador da ordem de Cister! As arcas tumulares daqui transferidas têm menos riqueza decorativa relativamente que as de D. Pedro e D. Inês. (Notas de Viagem, 1998.02.21)


NOTA - William Beckford nas suas «Recollections of an Excursion to the Monasteries of Alcobaça and Batalha», realizadas nos finais do século XVIII, refere a opulência da vida dos frades, nada condicente com as Regras iniciais. Por outro lado os Abades tinham-se tornado poderosíssimos, e nas suas vastas terras havia os coutos, onde se refugiavam criminosos fugidos à justiça d´El Rei, que neles não podia entrar. E deste modo conseguiam os frades braços para cultivarem as suas imensas terras, com porto de mar, com métodos agrícolas inovadores para a altura.

Tão poderoso era o Abade que nas terras de Alcobaça, em momento de aflição, não se gritava "Aqui d'El Rey" mas sim "Aqui, do Abade". Os povos queixaram-se a D. João I das prepotências da Abadia, mas as suas súplicas pela Justiça d'El Rey não foram atendidas, dado o poder imenso da Ordem.

Túmulos de D. Pedro I e D. Inês de Castro







(Fotos jj castro ferreira)





(Fotos victor nogueira)

D. Pedro e D. Inês de Castro - Os sarcófagos
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Quando subiu ao trono, D. Pedro I tinha dado ordem de construção destes túmulos para que lá fosse enterrado o seu grande amor, D. Inês, que tinha sido cruelmente sentenciada à morte pelo pai de D. Pedro I, D. Afonso IV (1291-1357). Este pretendia, também, ser ele próprio ali enterrado após a sua morteOs túmulos de D. Pedro I (1320-1367), com o cognome O Cruel ou também O Justo, e o de D. Inês de Castro (1320-1355), que se encontram agora em cada lado do transepto, conferem, ainda hoje, um grande significado e esplendor à igreja. Os túmulos pertencem a uma das maiores esculturas tumulares da Idade Média.

As cenas, pouco elucidativas, representadas nos túmulos, ilustram cenas da História de Portugal, são de origem bíblica ou recorrem simplesmente a fábulas. Por um lado, esta iconografia é bastante extensa, sendo, por outro lado, muito discutível.»


Mosteiro da Batalha



Capelas imperfeitas (foto de família)



(Fotos MENS)


De Fátima fomos à Batalhha ver o Mosteiro. Lembro me das Capelas Imperfeitas, de quando cá estive em 49/50. Gostei bastante de ver o Mosteiro, que é de calcário. Vi os claustros, a Sala do Capítulo, onde se encontra o Túmulo do Soldado Desconhecido. É proibido dar donativos naquela sala, mas os visitantes metiam nos no bolso da sentinela que lá estava perfilada. Vimos a sala de 14/18, mas à pressa. Eu gosto de ver as coisas calmamente. 

A Igreja é estilo gótico, o mesmo da Sé do Porto ( ). Vi a sala do fundador, com os túmulos de D. João I, D. Filipa, D. Henrique e outros. Vi também a campa do soldado que salvou a vida de D. João I na Batalha de Aljubarrota. Todo o mosteiro é bonito. (1963.09.02 - Diário III)


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