Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quinta-feira, 14 de abril de 2016

entre a serra, o mar e o rio

* Victor Nogueira
(texto e fotos)

O tempo tornou-se escasso e do projecto inicial ficaram para outra feita o castelo de Sesimbra e o santuário do Cabo Espichel, lugares de encanto nas minhas deambulações.  Para visitar a Serra o melhor trajecto é de Ocidente para Oriente, com Setubal e o Estuário do Sado no horizonte.

Assim, o trajecto na ida faz-se por Vila Nogueira de Azetão, entrevendo a Quinta da Bacalhoa e passando em desvio pelo centro de Vila Fresca, Oleiros e Aldeia de Irmãos, Não há fotos e a tarde está soalheira embora o vento seja agreste na serrania.  Para trás ficaram a doçaria de Azeitão e a Biblioteca-Museu de Sebastião da Gama, um  dos poetas da serra da Arrábida, conjuntamente com Frei Agostinho da Cruz. Deste último é o poema seginte:

DA SERRA DA ARRÁBIDA

Do meio desta Serra derramando
A saudosa vista nas salgadas
Águas humildes, quando e quando inchadas
Conforme a qual o tempo vai soprando,

Estou comigo só considerando,
Donde foram parar cousas passadas,
E donde irão presentes mal fundadas,
Que pelos mesmos passos vão passando.

Oh! qual se representa nesta parte
Aquela derradeira hora da vida
Tão devida, tão certa, e tão incerta!

Em quantas tristes partes se reparte,
Dentro nesta alma minha, entristecida,
A dor, que em tais extremos me desperta!

Alta Serra deserta, donde vejo
As águas do Oceano duma banda,
E doutra já salgadas as do Tejo:

Aquela saüdade que me manda
Lágrimas derramar em toda a parte,
Que fará nesta saüdosa, e branda?

Daqui mais saüdoso o sol se parte;
Daqui muito mais claro, mais dourado,
Pelos montes, nascendo, se reparte.

Aqui sob-lo mar dependurado
Um penedo sobre outro me ameaça
Das importunas ondas solapado.

Duvido poder ser que se desfaça
Com água clara, e branda a pedra dura
Com quem assim se beija, assim se abraça.

Mas ouço queixar dentro a Lapa escura,
Roídas as entranhas aparecem
Daquela rouca voz, que lá murmura.

Eis por cima da rocha áspera descem
Os troncos meio secos encurvados,
Eis sobem os que neles enverdecem.

Os olhos meus dali dependurados,
Pergunto ao mar, às plantas, aos penedos
Como, quando, por quem foram criados?

poema completo em 
http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/fcruz.htm


Pedra da Anixa


Convento Novo


a serra, o mar e o rio



Convento Velho


Pedra da Anixa no Portinho da Arrábida


o Oceano



Núvens


Setúbal vista da Serra da Arrábida




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