Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Maiorga, nos Coutos de Alcobaça

* Victor Nogueira


1998  02  21 / 22










Solar do Outeiro






ruas e casario


portal da antiga Igreja da Misericórdia





Igreja Matriz e Pelourinho



painel com o aviso Mouzinho de Albuquerque


Chafariz, "Obra da Ditadura"


Chafariz de Santo António, "Obra da Ditadura"




13 eram as vilas dos Coutos de Alcobaça, das quais 5 eram portos de mar: Alfeizerão, Parede, Cela Velha, Pederneira, S. Martinho do Porto, nos terrenos pantanosos e de fronteira oscilante  cedidos à poderosa Ordem de Cister - entre o reino Cristão  e os Árabes , para serem desbravados e em recompensa  dos serviços prestados a D. Afonso Henriques- Para atrair populações neles podiam “acoutar-se” fugitivos à justiça real. 

Cada vila era um concelho autónomo com sua Câmara, Pelourinho e Hospital da Misericórdia, dependentes não da justiça d’El Rei mas sim do Abade do Mosteiro de Alcobaça. Mas não seriam poucos nem pequenos os desmandos da Justiça Abacial, de tal modo que durante a Revolução de 1383/1385 os “homens bons” das vilas pediram em vão a D. João I que passassem a depender da Justiça Real. Quando, no século XIX William Beckford visitou a Abadia, os monges há muito haviam perdido a frugalidade e ascetismo iniciais, antes sendo opíparas e bem regadas as refeições. Daí talvez a expressão “Comer que nem um Abade”, gordinho, rechonchudo e nédio.

Uma das vilas era Maiorga, onde num temo se situa o solar do Outeiro, do século XVI,  no cimo duma elevação, já muito degradado em 1999  e presentemente arruinado e à venda.  Hoje não o compraria para restauro, mas na altura da foto fiquei encantado por ele.

Maiorga

Um minúsculo largo é o centro desta antiga vila, onde se encontram o pelourinho (que lhe dá o nome), a antiga igreja da Misericórdia ou do Espírito Santo, com o seu portal manuelino, hoje desactivada e que foi entretanto escola de música ([1]), mesmo ao lado da sede do clube da terra (Sociedade Filarmónica de Maiorga) e do edifício da nova igreja, de S. Lourenço, com o seu adro arborizado, templo despretensioso, com um relógio de sol na fachada principal e um altar barroco.

Neste mesmo largo um fontanário com azulejo de Santo António tem a inscrição de que se trata duma Obra da Ditadura (1933), como aliás consta dum outro mais pobre existente noutro largo, isto sem falar num cruzeiro dedicado Ao Portugal Eterno e num memorial aos combatentes do Ultramar (1993), este no Largo dos Combatentes.

Não obstante estes testemunhos, a rua principal denomina‑se do 25 de Abril e nela existe uma casa em cuja fachada figura um painel de azulejos representado o aviso Afonso de Albuquerque, o que em combate inglório foi afundado na chamada Índia Portuguesa quando da invasão pela União Indiana em 1961.

A povoação possui muitos cafés e três ruas com nomes de maestros locais. No termo da povoação situa‑se o degradado Solar do Outeiro, com escadaria exterior, varanda alpendrada e brasão de armas, que terá belas pinturas nas salas, condenado à demolição de acordo com notícia lida num jornal.

Numa papelaria compro dois postais ilustrados da povoação, facto insólito porquanto é a primeira vez que encontro vista das vilas dos coutos de Alcobaça.

Da toponímia registo o referido Largo do Pelourinho e as ruas da Filarmónica, do  Passadiço, dos Loureiros  e do Forno dos Frades, para além da azinhaga dos Barreiros, a travessa Central    e o beco do Torto. (Notas de Viagem, 1998.02.21/22) 




[1] - Orquestra Típica de Maiorga.



Solar do Outeiro num azulejo em Cós, que foi outra das vilas dos  Coutos  de Alcobaça



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