Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Santuários 20 - Santa Maria de Goios e o culto da Santa Cruz, por Paulo Lobarinhas -

* Paulo Lobarinhas

Santa Maria de Góios  ~ História, histórias e memórias adormecidas

1.1. Capela de Santa Cruz de Cima 


A semelhança do que aconteceu noutras freguesias do concelho de Barcelos também em Góios se verificou, a meados do século XIX, o fenómeno da “invenção das cruzes”.

A “Invenção das cruzes” ou o “milagre das Cruzes” consistiu no aparecimento de cruzes “inscritas” em veios de terra negra. Este fenómeno deu-se a meados do século XIX em algumas freguesias do concelho de Barcelos - Góios, Remelhe, Alvelos, Carvalhal e Gamil - e tinha, em cada uma destas, um acontecimento similar. Regra geral a deteção destas cruzes aconteceu no mês de Maio, por altura da Festa da Cruzes em Barcelos e acontecia por intermédio de juntas de bois ou cavalos que, ao aproximarem-se dos lugares onde se vieram a encontrar as cruzes, paravam e recusavam-se a prosseguir a sua marcha. 

Em Góios este fenómeno terá ocorrido, inicialmente, entre os anos de 1840 e 1845 no local onde foi erigida a Capela de Santa Cruz de Cima.

  
Infelizmente não existe documentação que nos permita hoje conhecer com exatidão o que aconteceu. Temos alguns relatos orais que indicam a existência de uma festa onde acorriam romeiros de várias paragens no sentido de pedirem a ajuda divina para a cura das suas doenças. Segundo a mesma tradição oral terá existido um culto à Santa Cruz zelado por padres que viviam na casa vizinha à capela. 

1.2. Capela de Santa Cruz de Baixo 

No final do século XIX, por volta de 1890 ter-se-á repetido em Góios, em lugar próximo do anterior, o milagre das cruzes. 

O novo surgimento de uma cruz de terra preta, que ainda hoje pode ser visível, fez desencadear novamente o fervor do culto da “Santa Cruz”. 

A elevada ocorrência de romeiros à Santa Cruz de Góios, sobretudo no dia 3 de Maio de cada ano, fez com que a população se unisse no projeto e construção de um grandioso templo. 


 As obras de construção decorreram a bom ritmo nos primeiros anos após o novo aparecimento da “Santa  Cruz”, a verdade é que por algum motivo o culto foi perdendo força, há quem afirme que se terá devido ao facto de deste “novo culto” ter concorrido com as “Festas da Cruzes” em Barcelos, motivo que terá contribuído para que o clero lhe tenha, de certa forma, descredibilizado o culto que, com grande fulgor, havia surgido em Góios. Existe ainda a “tese” de que as festas se terão tornado demasiado pagãs, tendo igualmente contribuído esse facto para a sua descredibilização junto das entidades eclesiásticas. 

O que realmente aconteceu é hoje desconhecido pois não chegaram até nós documentos que nos permita descrevê-lo de forma sustentada. O que ficou até aos nossos dias foi uma “ruína” do início de uma construção de um templo que seria grandioso. 



Agradeço ao meu amigo Paulo Lobarinhas o envio e permissão de utilização deste texto de sua autoria.


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