* Victor Nogueira
Castro Barroso Gato Nogueira - Blog Photographico - lembrança da moça do Alentejo
Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui
“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)
«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973
quarta-feira, 31 de março de 2021
fotos de capa em março 31
terça-feira, 30 de março de 2021
fotos de capa em março 30
* Victor Nogueira
segunda-feira, 29 de março de 2021
fotos de capa em março 29
* Victor Nogueira
2019 03 29 foto victor nogueira - o Bairro do Troino, em Setúbal, visto do Outeiro da Saúde. À esquerda a Igreja da Anunciada e ao fundo o Forte de S. Filipe, na Serra da Arrábida
2017 03 29 foto victor nogueira - Oeiras - Quinta da Junção do Bem - moinho de vento, americano
domingo, 28 de março de 2021
os jardins em évoraburgomedieval
* Victor Nogueira
In illo tempore não tinha Évora senão três ou quatro jardins e alguns largos arborizados, como o Largo do Chafariz do Chão das Covas, o Largo 1º de Maio (na época com outra designação), a Praça Joaquim António de Aguiar, o Largo Marquês de Marialva, o Largo D. Miguel de Portugal e o Largo de S. Mamede, para além do chamado Jardim do Bacalhau, este junto ao Largo da Porta de Moura, e o Rossio de S. Brás.
O Jardim de Diana, circunvizinho do templo romano, ergue-se sobre a muralha romana, com ampla vista para a antiga mouraria e para os arredores da cidade.
O Jardim Público, antigo Passeio Público da burguesia citadina, com a sua mata, assenta parcialmente num baluarte do século XVII, estendendo-se desde a Porta do Raimundo até à Rua da República. Dentro deste jardim se situa o que resta do Palácio de D. Manuel, para além do coreto e das ruínas encenadas por Cinatti ao gosto romântico e provenientes do paço do bispo D. Afonso de Portugal. O jardim tem acessos pela Rua da República, pela Rua do Raimundo, pelo largo de Mercado, onde se situam a igreja de S. Francisco, com a sua capela dos Ossos, e o Celeiro Público, e pelo parque infantil, junto à Praça de Touros e perto do Rossio de S. Brás, onde se encontra a ermida homónima , gótico mudejar, e se realiza a feira de S. João. Não me lembro de assistir a concertos de música no coreto, o que não significa que os não houvesse. É ornamentado por esculturas diversas: uma estátua de Vasco da Gama, um busto de Florbela Espanca, dois bustos de carácter alegórico representado a juventude e a velhice, e um outro de Giuseppe Cinatti. A entrada no recinto vedado do parque infantil era, nesses tempos, paga, como se refere no texto Cenas do Jardim (O miúdo e o carrocel).
O Jardim dos Colegiais situava-se fora das muralhas mas adjacente a estas, nele existindo uma porta ou postigo da muralha.
Nos meus escritos há algumas referências aos jardins eborenses, sobretudo àquele em que mais estacionava, o jardim público para onde ia ler, estudar ou jogar minigolfe. Para lá das cenas descritas em Cenas do Jardim, no fim desta nota reproduzidas, há algumas outras, como a daquela vez em que estando sentado com a namorada num dos bancos, dei-lhe um brevíssimo e "casto" beijo e logo a varinha do guarda bateu-me no ombro avisando que poucas-vergonhas daquelas eram proibidas. Outra cena envolve o então Presidente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano. Descontraído e distraidamente ia a passar junto à entrada do Palácio D. Manuel I, onde se aglomeravam algumas poucas pessoas, quando me apercebi da saída rápida deste, precedido duns três Pides, um dos quais me deu um inesperado e violento empurrão para desimpedir o caminho, num ápice desaparecendo Marcelo da minha vista e dos poucos mirones que o aclamavam à passagem.
1968
Imaginem uma ilha de pedra escura ou casas irritantemente brancas no meio de uma infindável planície. Imaginem umas muralhas que encerrem umas relíquias sagradas, mais intocáveis que os "intocáveis". Imaginem umas igrejas velhas, escuras, uma delas cheia de tíbias e caveiras e dois esqueletos pendurados na parede [Capela dos Ossos na Igreja de S. Francisco] e a encorajadora frase "Homem, lembra-te que és pó e em pó te hás-de tornar". Uma janela manuelina, num canto, num dos muitos cantos escusos, e que foi do Garcia de Resende. Um templo romano, vulgarmente denominado de Diana. Muralhas medievais e seiscentistas. Um aqueduto ou o que dele resta. E casas, muitas casas, dolorosamente caiadas de branco, um branco frequentemente maculado por umas escuras pedras graníticas, restos duma janela, duma porta, duma parede, duma muralha... E ruas estreitas e tortuosas, onde passam pessoas e carros. Évora, ei-la, cidade sem presente nem futuro, com passado, um passado que se pretende preservar a todo o custo. Aqui, se não fossem os automóveis e as antenas de televisão, poder-se-ia dizer que o tempo parou. Algumas décadas ou mesmo séculos atrás.
Que mais tem ela? Meia dúzia de jardins. As melhores piscinas da Península. Um Salão Central Eborense. Que dá sessões cinematográficas diariamente (à 6ª feira o filme é português) Um teatro (o Garcia de Resende) que em dois meses abriu para apresentar um concerto, uma peça de teatro ("D. Quixote", pelo Teatro Experimental de Cascais) e uma ópera ("Rigoletto", pela Companhia do Trindade). Um espectáculo de cada.
Cinema, café, Praça do Giraldo, casas e pouco mais. O que há para fazer. As perspectivas para as miúdas são mais negras. (JCF - 1968.12.26)
1969
Andei a deambular pelas ruas de Évora armado em explorador. Cruzes em esquinas assinalam o local onde foi assassinado, largos anos atrás, um homem qualquer, ruas desertas, miúdos, roupa estendida nas janelas, um gatito que roça nas minhas botas, o miúdo que me pede dinheiro, já não sei para quê. Por fim o regresso ao Giraldo. Rumo ao Mercado, onde se vendem animais embalsamados, artigos de barro, caça, peixe, brinquedos... esses brinquedos de lata ou de madeira que eu reconheci como já tendo sido meus numa longínqua infância que já não reconheço como minha. Seguiu-se a habitual passagem pelo Jardim Público. Onde está uma oliveira com uma lápide que reza assim: "Oliveira plantada em 14 de Julho de 1919 comemorando a Paz Universal após a Guerra dos Povos Aliados contra a Alemanha" (NSM - 1969.01.26)
Desta janela [da sala de aulas do Instituto em que me encontro] avistam-se telhados sujos, uma chaminé esbranquiçada e, lá ao fundo, muito ao longe, a verde campina alentejana, onde se destacam algumas manchas mais escuras, de oliveiras ou sobreiros. Pela outra janela, à minha esquerda, vêm-se as paredes brancas do edifício do Museu Regional, com as suas sacadas de ferro forjado. Há umas semanas atrás era a moldura dum dos quadros mais belos que tenho visto: os ramos das árvores do largo [Marquês de Marialva], agora descarnados, estavam cobertos de folhagem dourada. Quantas vezes, ao entrar para esta sala, os meus olhos se deliciaram neles. (NSM - 1969.04.09)
Os dias de sol alternam com os de chuva fria. Hoje o céu está azul, quase limpo; andorinhas volteiam pelos ares, o branco das casas fere impiedosamente o olhar, os jardins (Ah! a única coisa aproveitável nesta vilória!) multicoloram-se de flores e as árvores enverdecem. Mas no telhado e junto à minha janela, o musgo secou, deixando apenas manchas escuras. A erva que corria por entre as telhas está castanha e coberta de mini flores brancas. Já não parecem árvores correndo por entre vales e galgando montanhas. (NSM - 1969.06.03)
1973
Não gosto de Évora, porque não se vê o mar, nem a relva, nem as árvores, mas só pedras. Évora é um círculo que nos esmaga e constrange. (...) Também andam para aí a deitar prédios abaixo que até chateia. Pena não os deitarem todos e plantarem árvores e relvado que não fosse proibido pisar. (MCG - 1973.06.03)
De manhã fui até ao jardim e os meus passos levaram-me até ao campo de mini golfe. (...) Apesar da minha propaganda ainda não arranjei ninguém para jogar comigo. O Carlos e o Camilo só estão bem na poluição do Arcada. Quem lhes tirar a fumarada tira-lhes a vida e o ser!!! (XXX - 1973.07.03)
(...). Comecei hoje a comer aqui neste café, junto ao jardim infantil, entre a Praça de Touros e o Rossio [de S. Brás]. O almoço estava saboroso. Esperemos que assim continue. Ali numa mesa ao lado um grupo de jovens vê uma colecção de fotografias pornográficas, que de vez em quando mostram a outros noutra mesa, cruzando o meu campo de visão. Entretanto a TV transmite um documentário sobre a guerra israelo-árabe, prendendo a atenção dos clientes. (...) Na televisão sereias soam numa cidade síria, sobrevoada por aviões israelitas que a bombardeiam. Escombros e feridos enchem o ecrã. (MCG - 1973.11.21)
Jardim Público e Mata