Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

terça-feira, 24 de junho de 2008

Vida e Morte duma Cosina 1000 S (reflex)

Terça-feira, 24 de Junho de 2008


Vida e Morte duma Cosina 1000 S (reflex)

Mindelo - Fotografando Joana Princesa - Foto de Susana Silva

Cascais - Auto-Retrato espelhado numa montra

Vilar de Mouros - Foto Fátima Pereira
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* Victor Nogueira
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1 - Neste local ermo [Lourinhã] , já com a noite adiantada, apanhamos um valente susto. Ao contornar a igreja gótica, no local do destruído castelo, encontramos uma motocicleta estacionada, mas prosseguindo, afoitamente, chegamos à fachada principal, que não tivemos tempo de admirar e fotografar, pois alguém assomou e gritou por entre a escuridão dos arbustos do jardim vizinho; resolvemos abreviar a visita e procurar local menos isolado, incomodados pelos passos rápidos que se aproximam cada vez mais até que surge um jovem de capacete na mão, olhar esgazeado e fixo, dirigindo-se-nos sem responder às minhas interpelações, sempre direito a nós, sem que eu encontrasse no chão algo que permitisse usar em nossa defesa.
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No chão nada que me pudesse servir de «arma». Perdidos por cem, perdidos por mil, utilizei a táctica de que a melhor defesa é o ataque pelo que, fazendo das tripas coração, me voltei para ele olhos nos olhos e voz áspera e perguntei: «Que queres, pá?!»
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Tratava se afinal dum surdo-mudo, que pareceu querer falar-nos das obras na igreja, onde seria operário, cuja conversa procurei abreviar pois poderia apenas estar a entreter-nos até aparecer mais alguém. Conseguimos largá-lo e ele foi noutra direcção interpelando alguém mais para além, invisível no fundo duma rua deserta e mal iluminada, o que em nada contribuiu para aumentar o nosso sossego.
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Estugámos o passo, descemos a escadaria rumo ao grupo de jovens à porta da discoteca ao lado da antiga Misericórdia, ouvimos uma motorizada aproximar-se, alcançamos os jovens e a motorizada passa por nós, pára e o jovem mudo faz grandes gestos de alegria por encontrar-nos e segue viagem rumo ao largo lá mais abaixo. Não ganhámos para o susto! Mas resolvi voltar à igreja, para admirá-la, desta feita de carro, mas nem parei quando lá encontrámos dois ou três carros despejados dos seus ocupantes, rapazes de mau aspecto àquela hora tardia e solitária, pelo que seguimos viagem sem abrandar, não fosse aquele isolado local de prostituição e tráfico de droga!


Nota a 2008.06.24 – Naquela altura tinha uma óptima reflex, daquelas antigas e pesadas. Resguardada no estojo. O meu «amor» pela máquina, que me fora oferecida pelo meu irmão entretanto já falecido, era tal que nem me lembrei que se fosse necessário defendermo-nos poderia usá-la como aríete: deixaria a cara do rapaz em mau estado e a máquina destruída.
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Doutra vez, altas horas da madrugada, dessa vez deambulando por Valença do Minho, sem companhia, as ruas desertas, ao procurar completamente alheio o melhor ângulo para uma foto, caí desamparado e a minha preocupação, acrobática, foi salvar a máquina. Bati com a face esquerda na áspera e rugosa pedra da calçada, dorido e arranhado, tal como todo o meu lado esquerdo, a manga da camisa esfarrapada. E depois dei por mim a pensar que tinha sido uma grande besta. Poderia ter morrido e ficado ali até alguém me encontrar de manhã. E até a máquina e todo o seu valioso equipamento e acessórios poderiam ter sido roubadas.
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Afinal, apesar destas loucuras, a «reflex» teve uma morte inglória num café no centro da Póvoa de Varzim. Eu, os meus filhos, a Joana Princesa, o filho dela e a minha mãe, de férias no Mindelo, fôramos lanchar a um café e distraidamente, sem olhar, pousei-a no assento duma cadeira ao meu lado e pimba, caiu ao chão e como estava fora do estojo e com a teleobjectiva, ficou completamente desalinhada e sem conserto possível, incapaz de focar correctamente fosse o que fosse a partir daí. Sabem pk caiu ao chão e teve aquela morte inglória? - o assento das cadeiras não era quadrangular, como habitual, mas triangular (xico-modernice)
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Mas era uma grande máquina; dáva-nos liberdade de comando, obrigava a conhecer as regras para saber se e quando as teríamos em conta, se faltassem as pilhas tudo podia ser feito manualmente e obrigava-me a uma grande disciplina nos enquadramentos, na cuidada escolha de ângulos, na previsão mental do resultado final e numa eventual ampliação, ainda mais cara, das que distinguisse ..... Só depois da revelação poderia saber o que ficara bom ou não e as cópias eram caras. Mas a percentagem de fotos positivas era bastante alta.
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Naquela altura revelava as fotos numa casa em Setúbal e a empregada,  a Tóia (Antónia), ainda hoje minha amiga,  desde há uns 30 anos, dizia-me que cada cópia normal ficava ao patrão por cerca de cinco escudos, todos os custos incluídos, e era vendida ao público salvo erro a sessentas. Bem as ampliações, essas davam um lucro muito maior.

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segunda-feira, 23 de junho de 2008

Toponímia (2)

Sexta-feira, 24 de Agosto de 2007


Toponímia (2)

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* Fotografias de Victor Nogueira
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Colares (Sintra)
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Vimeiro (Coutos de Alcobaça)
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Serra do Bouro (Caldas da Rainha)
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1 comentários:

De Amor e de Terra disse...
Sempre achei "muita graça" a esse tipo de placas; essas são das que têm beleza. Existem muitas sem beleza nenhuma, mas todas nos dizem da terra que marcam e têm sempre escondida um ou muitas ´(estórias e história); por isso gosto delas.

Maria Mamede

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sábado, 14 de junho de 2008

Templos Religiosos (2)

Quinta-feira, 23 de Agosto de 2007

Templos Religiosos (2)


Fotos por Victor Nogueira


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Sé de Évora
(vista do terraço duma casa, junto à Praça do Giraldo)
Creio que a vista é a partir do 2º terraço - o mais alto da casa onde morámos dutante 11 anos - a Celeste e eu - na Rua de Serpa Pinto, à «sombra» da Igreja de Santo Antão
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Convento de Cós (Coutos de Alcobaça)
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Coimbra (Claustro da Sé Velha ?)
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Beringel
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1 comentários:

De Amor e de Terra disse...
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Dos hoje apresentados,conheço dois; ou melhor, conhecer, conhecer, nem tanto...
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quando vivi em Coimbra,(um ano apenas)fui ver a Sé velha; enfim posso dizer que conheci...
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O outro, foi na minha brevíssima passagem por Évora, mas a esse, só lhe passei à porta,de corrida, tão escasso o tempo...
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Mas gosto sempre e das tuas fotografias também!!!


Maria Mamede

terça-feira, 10 de junho de 2008

10 de Junho - O Dia da RAÇA e o que mais se lerá



Helena Vieira da Silva

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Évora - manifestação dos trabalhadores agrícolas (Largo junto à Porta de Avis ?)

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Évora - manifestação dos trabalhadores agrícolas

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Fotos de Victor Nogueira




[expo_abelmanta_grande.jpg]

João Abel Manta

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Lisboa - Mural (apagado) na Rua António Maria Cardoso (sede da PIDE/DGS)
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Foto de Victor Nogueira
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Abril em Maio após Novembro (1)

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O Sonho ...
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As eleições na Primavera Marcelista - 1969 - a «evolução na continuidade»

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Victor Nogueira

Esta última carta foi colectiamente subscrita por mim e mais dois ou três colegas meus e remetida tal como a anterior aos jornais da oposição
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clicar nas imagens para ler


Na «Primavera» Marcelista de Marcello, este, num gesto «largo e generoso», mal-citando eu Pessoa (1), permitiu o regresso de dois exildos políticos, Mário Soares e D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto. Para alguém mínimamente (in)formado tratava-se duma operação de cosmética, pois os exilados no Tarrafal, em S.Nicolau, em Caxias ou em Peniche continuaram no exílio com «seguras» medidas de protecção.

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Continua em As eleições na Primavera Marcelista - 1969 - a «evolução na continuidade» - Victor Nogueira

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O Dia da RAÇA e o que mais se lerá
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* Victor Nogueira
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Dentro de momentos a Praça do Giraldo será cenário duma manifestação [do 10 de Junho] que pretendem grandiosa e durante a qual se enaltecerá essa gloriosa e alegremente sacrificada juventude portuguesa que em terras de África defende a herança dos seus avoengos, numa guerra santa sobre cujos fundamentos se não admitem dúvidas. Entretanto a Universidade de Coimbra está em greve desde há largas semanas, greve de que os jornais não falam, a não ser publicando os diversos e por vezes incoerentes e inverosímeis comunicados das autoridades académicas. A música continua a ser monoral. (...) Está uma manhã cheia de sol, contrastando com o pluvioso e cinzento dia de ontem. Pela janela aberta chegam‑me aos ouvidos o chilrear dos pássaros e os discursos transmitidos pelos autofalantes, na cerimónia que se realiza a dois passos daqui, entrecortados por salvas de palmas. (NSF - 1969.06.10)
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Isto por cá não anda muito bom. As greves sucedem‑se diariamente - só por portas travessas se sabe - e as deserções do exército, nomeadamente dos oficiais milicianos, continuam a verificar‑se. Entretanto o problema do Ultramar continua a ser explorado emocionalmente, com completo desrespeito pelos interesses do povo português. A emigração aumenta. A nau mete água por muitos rombos. (NSF - 1970.07.18)
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No Giraldo Square erguem-se bancadas e toldos, que vedavam ao trânsito automóvel a rua da Selaria (ou 5 de Outubro). O Giraldo é uma "bancadaria" para [comemorações d]o 10 de Junho, que este ano deve ser comemorado em grande, para compensar os desastres que se vão averbando na Guiné e no Norte de Moçambique. (...) Domingo próximo, em Portugal de lés‑a‑lés, viver‑se‑ão jornadas de fervor patriótico! (MCG - 1973.06.07)
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Ontem à noite (1973.10.24), no regresso de Arraiolos, muitos Mercedes a caminho de Évora, onde às 21:30 alentejanos cinzentos de ar sisudo aguardavam ordeiramente o início da sessão de propaganda da ANP [Acção Nacional Popular]. Debaixo dos arcos [arcadas], uma fila de homens, com ar humilde e jeito de rebanho descido da camioneta, dirigia‑se para o cinema onde se realizaria a tal sessão. A Oposição não comparecerá as eleições no domingo. O Marcelo [Caetano] bater‑se‑à contra nada. (MCG - 1973.10.25).
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Levanto os olhos e vejo muitos magalas, na sua farda verde oliva. Andam também pelas ruas, aos grupos, espalhafatosos, como quem já tem o seu grão na asa. "Cheira‑me" que haverá dentro em breve mais um contingente para a guerra em África. Alguns escrevem, curvados sobre o papel, a caneta firme na mão, como quem não está habituado a frequentes escrituras. Parecem rapazes muito novinhos; uns conversam, irrequietamente, outros têm um ar absorto, ausente.
(MCG - 1973.11.26)
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Hoje foi o Dia da Polícia e está explicado porquê toda a semana têm desfilado pelas ruas da cidade: preparação do grande acontecimento, em que estrearam os capacetes cinzentos com viseira protectora, espingarda de baioneta calada ao ombro, deixando, na esquadra, o escudo protector das pedradas dos manifestantes. 50 000 mil contos teria sido a quantia gasta nos últimos tempos pelo Governo para equipar a polícia. Ah! Ah! Os tempos vão desassossegados! (1974.03.12)
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Dizia a BBC ontem que prosseguia o chamado "julgamento" das 3 Marias (Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa) autoras dum livro chamado "Novas Cartas Portuguesas" sobre problemas da mulher portuguesa, que a acusação pública considera pornográfico e ofensivo da moral e dos bons costumes. Mas uma das testemunhas de defesa, Maria Emília... , afirmou que ofensivo da moral e dos bons costumes era o facto duma mulher não poder andar na rua e transportes públicos em Lisboa (e em Évora ?) sem ouvir piropos indecorosos e ser apalpada. Referiu também as vantagens que os homens da classe alta tiram impunemente da sua posição sobre as jovens das classes inferiores. (MCG - 1974.03.21)
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ler o resto em O Dia da RAÇA e o que mais se lerá
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Um 1º de Maio no tempo do fascismo

O 1º de Maio é um dia dos trabalhadores comemorado em muito países desde 1889, por vezes em festa mas quase sempre em luta por melhores condições de vida e de trabalho. O mesmo sucedeu em Portugal na longa noite fascista, apesar de repressão e da negação de direitos elementares, como os de associação, manifestação e reunião.

Ao folhear jornais desse tempo encontramos o 1º de Maio de 1962 segundo o Diário de Notícias de 3 de Maio, de que transcrevemos partes essenciais, mantendo os subtítulos originais: (...)

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continua em Um 1º de Maio no tempo do fascismo - Victor Nogueira

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Arraiolos - Inquéritos às Condições de Vida e de Trabalho (1973)

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Arraiolos

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Os inquéritos vão correndo. Não acredito no trabalho que estou fazendo - uma maneira do Ministério das Corporações e Previdência Social despender umas massas dos contribuintes sem que para eles advenham benefícios. Com uma semana de inquéritos sou capaz de fazer um relatório sobre a situação dos trabalhadores do concelho de Arraiolos, que não diferiria muito dos resultados que se virão a apurar com o tratamento estatístico das informações obtidas. Qualitativamente melhor. A maioria das respostas parecem tiradas a papel químico.
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continua em
O Alentejo Rural - antes e depois de Abril - Victor Nogueira
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Evolução de Évora – a situação em 1975


A Rádio Renascença transmite "Os Vampiros", do Zeca Afonso! Rei morto, Rei posto! A Junta de Salvação Nacional, como a si própria se intitula, abre a tarracha e já hoje tornou público o seu programa, cujo ponto limite é a realização de eleições gerais para a Assembleia Constituinte e Presidente da República no prazo de 12 meses.

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No café Estrela, velhos falam dizendo que os jovens de agora são melhores que no seu tempo: "A gente também não concordava com o Salazar mas nunca tivemos coragem de fazermos o que eles fizeram.". Nas imagens que a RTP transmite a nota dominante entre os manifestantes e os mirones era a juventude. Outro velho diz que nunca foi marcelista. (MCG - 1974.04.26)

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continua em OS DIAS DA REVOLUÇÃO (notas soltas) - Victor Nogueira

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Bónus
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Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades em Setúbal
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O que sucedeu a 28 de Maio 28 de mayo 28 mai May 28 28 maggio


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Quanto à correspondência violada [pela PIDE], por razões que desconheço, só seguiam recortes de jornais relatando o que se tem passado na Assembleia Nacional.(...) Daqui para o futuro acompanharão os recortes uma lista detalhada dos mesmos e irão lacrados. Farto de malandros ando eu. (NSF - 1971.06.30)
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