Castro Barroso Gato Nogueira - Blog Photographico - lembrança da moça do Alentejo
Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui
“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)
«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973
João Morgado, José Campos, Fernando Guerra, Ivo Tavares e Luís Ferreira Alves viajam pelo país e pelo mundo para fotografar arquitectura. Ficam sozinhos com a obra, estudam-na sem a máquina e depois retratam-na, sempre à procura de novas perspectivas (e aqui entram, também, os drones). Ser fotógrafo de arquitectura é uma profissão com saída em Portugal
“A minha base é o meu carro”, garante ao P3 João Morgado, 30 anos, fotógrafo de arquitectura desde 2007. Começou “por acaso”, ainda durante o curso de arquitectura — profissão que nunca chegou a exercer — e agora já conta com quase 600 reportagens fotográficas no currículo. É em viagem, de Sever do Vouga para o Porto, onde vive, que Morgado fala da recente distinção da publicação “Top Teny”, que o incluiu na lista dos 10 melhores fotógrafos de arquitectura do mundo. Estão lá as imagens tiradas do ar, com recurso a drones, da Piscina das Marés em Leça da Palmeira (de Álvaro Siza Vieira) e do Parque Tecnológico de Óbidos (de Jorge Mealha), dois trabalhos que o fotógrafo considera terem tido um “alcance diferente e especial”. Gosta de fotografar para mostrar ao público um edifício “o mais próximo possível da realidade”, sem romantizar ou “espectacularizar a obra”. O ideal é quando consegue surpreender o arquitecto com um novo ponto de vista, “sempre em trânsito” e a conhecer arquitectura nova. Bragança, Aveiro, Lagos e Sardenha, na Itália, são os próximos destinos.
José Campos
Estudou arquitectura mas nunca foi arquitecto e a culpa é da fotografia. José Campos, 34 anos, prefere o prazer de fotografar um edifício a ter de o conceber. Procurar uma perspectiva nova em obras que demoraram anos a concluir é um desafio. Em 2012, ementrevista ao P3, considerava-se um “fotógrafo do mundo”, com um trabalho “muito solitário” que exige “dedicação contínua”. Tudo isso se mantém — sobretudo os “dias doentios”, em trânsito ou à espera do momento ideal para fotografar. O Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, na ilha açoriana de São Miguel, foi um dos edifícios que mais gostou de fotografar nos últimos tempos. Continua a trabalhar na Alemanha, como já tinha referido há três anos, mas Portugal é o melhor mercado (e onde não lhe falta trabalho, “felizmente”). Para breve está a divulgação das fotografias da Casa do Rio, a nova extensão do hotel Quinta do Vallado, no Douro.
Fernando Guerra
O “Archdaily” apelidou-o de “um dos mais proeminentes fotógrafos de arquitectura” quando viajou com os arquitectos Álvaro Siza e Carlos Castanheira pela Ásia, em 2014. Foi uma “viagem histórica”, contou Fernando Guerra ao P3, dois meses depois de ter regressado. “Tenho o melhor arquivo do Siza de sempre. (…) O lado pessoal, que eu consegui nos últimos anos, para mim não tem preço”, revelou na altura o fotógrafo de 45 anos. No site Últimas Reportagens, Guerra lista quase 900 reportagens, em 15 anos de trabalho a partir de Lisboa. Para Álvaro Siza há uma secção especial, onde consta o trabalho fotográfico do “Edifício sobre a água”, construído sobre um lago artificial em Huaian, na China. Mas há outros arquitectos de renome, portugueses e não só, cujas obras foram retratadas por Guerra: Manuel Graça Dias, Gonçalo Byrne, João Luís Carrilho da Graça, Paulo Mendes da Rocha, ARX Portugal, Mário Kogan e Zaha Hadid (só para mencionar alguns). “Entre os edifícios que fotografa não se percebe, exactamente, um juízo de valor sobre os conteúdos da arquitectura; antes um controle, ao nível das emoções, que busca homogeneizar todos os registos”, lê-se no site.
Ivo Tavares
Estar sozinho com a obra é o que Ivo Tavares mais gosta na fotografia de arquitectura. “Só tens que controlar a luz, o resto está lá, é interpretação tua”, explica o jovem de Aveiro. “É como fotografar natureza morta, sozinho. Adoro.” Dedica-se a retratar edifícios há seis anos mas, ao contrário de muitos dos colegas, não tem formação em arquitectura mas sim em fotografia. A partir do Ivo Tavares Studio, em Aveiro, o foco são “empresas que criam materiais para arquitectura”. “A linguagem é a mesma, os clientes também, mas aumentamos o espectro da empresa para implementar mais pessoas”, diz. Ivo, de 30 anos, nunca fotografou uma obra de um arquitecto famoso — “por uma questão de opção”, sublinha. “Trabalho ao contrário, prefiro projectos pequenos, de arquitectos não tão conhecidos mas que me dão muito mais gozo.” Para breve está a reestruturação do Archmov, um projecto de vídeo de arquitectura que o P3 apresentou no final de 2012.
Luís Ferreira Alves
Há mais de 30 anos que Luís Ferreira Alves fotografa arquitectura. Começou por ser fotógrafo amador e foi o desafio de um amigo que o levou a olhar para a área como uma oportunidade. “Em poucos meses fui obrigado a decidir entre a minha sólida situação como responsável comercial de uma grande empresa pelo desafio, sem rede, da aventura fotográfica. Decidi por esta”, contou à versão brasileira do “Archdaily” em Fevereiro deste ano. A partir do Porto, Ferreira Alves trabalha com uma assistente e “quase exclusivamente em fotografia de arquitectura, institucional e do território”. Diz privilegiar “ a luz existente, mesmo quando coexistem diferentes fontes luminosas”, com especial destaque para as obras do Prémio Pritzker 2011, Eduardo Souto de Moura. O Edifício Cantareira, o Convento das Bernardas ou o Loteamento e casas das Sete Cidades são disso exemplo.
Logo de manhãzinha
oiço uma barulheira inabitual, assomo à varanda e passam tractores puxando
enormes atrelados, saindo dum terreno contíguo. Vou às traseiras do quintal e
assisto à apanha do milho, segado pelas ceifeiras-debulhadoras, transformado em
grão e despejado num atrelado que caminha paralelo. Enchido este, outro lhe
ocupa o lugar, numa faina ininterrupta e barulhenta. Pouco depois uma pequena
empilhadora apanha o pouco restolho e em menos de duas horas o vasto campo está
completamente "limpo", sem que ocorram as desfolhadas de outrora de
que se fala no final deste post, após o registo fotográfico. O dia está de neblina, húmido e não soalheiro.
A
desfolhada do milho é uma tradição que já perdeu alguns rituais de outrora, mas
aindapermanece bem viva no quotidiano anual da aldeia.
A
sementeira do milho é feita nos princípios de Maio. Quando o milho já é uma
plantinha verde, o terreno é sachado para tirar as ervas daninhas. Estas já são
raras devido aos produtos químicos lançados no solo. É nesta época que, vezes
sem conta, os agricultores vão buscar as águas das represas. Quando o milho
cresce, é-lhe cortado a bandeira que servirá de alimento aos animais.
[Em Junho, começam as regas. Quando o milho cresce e que a espiga já começa a estar criada, cortam-se a canas, ou seja a parte que fica a seguir à espiga, que é um óptimo alimento para o gado]. Em meados
de Setembro, princípios de Outubro, as espigas são colhidas. É aqui que a velha
tela da tradição das desfolhadas é bem revivida como nos tempos de antigamente.
De dia, o
milho é retirado dos campos e transportado, em gigas à cabeça, ou em tractores,
para a eira ou a casa do lavrador. Antigamente eram utilizados os carros de
bois. À noite, juntam-se os amigos, os vizinhos e os familiares para se
ajudarem uns aos outros como forma de troca de trabalho. As espigas são
desfolhadas, uma a uma, sendo amontoadas umas sob as outras em gigas. As gigas
cheias são esvaziadas no canastro/espigueiro. Os adultos, pela noite dentro,
vão contando histórias e as crianças brincando.
Antigamente
a desfolhada terminava sempre com comes-e-bebes ao som de algumas canções
populares. Não faltavam os petiscos gastronómicos, como a regueifa doce, as
azeitonas e o vinho, que acalentava a alma de todos os que ajudassem como forma
de agradecimento e de convívio.
Actualmente, já são poucas as pessoas que
retribuem alguns comes-e-bebes, é uma "pena". São estes belos e
pequenos momentos, entre muitos outros, que tornam a vida repleta de alegria.
Fazem-nos perceber de como os nossos antepassados, em tempos de trabalhos
árduos e de fome, eram tão alegres e não se esmoreciam perante os trabalhos
árduos.
Até 15
anos atrás, tinha-se também como ritual a descoberta do “milho rei”. Os mais
jovens tinham sempre a esperança de encontrar milho-rei ou rainha (uma espiga
vermelha) para poderem dar um beijo ou um abraço a um rapaz ou uma rapariga da
qual gostassem. [Esta era uma oportunidade única para se aproximar fisicamente das raparigas , das namoradas, até das noivas porque, na época, as convenções sociais eram muitas e a vigilância por parte dos pais era muito apertada]Por outro lado, as pessoas também contam uma outra versão: quem
encontrasse o milho-rei ou rainha teria que dar um abraço à pessoa que
estivesse a seu lado. Quando aparecesse uma espiga sem milho significava dar um
beliscão.
Actualmente
o milho-rei ou rainha já não aparecem com tanta frequência, e quando aparecem,
normalmente, chama-se uma criança e ela dá o beijo ou beliscão a uma pessoa.
Outrora,
eram nas desfolhadas que se começavam muitos namoros. Os rapazes vinham das
aldeias vizinhas e lá lançavam o seu charme a uma donzela de seu interesse.
Neste cenário também surgia uma personagem chamada de curandeiro. Tratava-se de
uma pessoa que aparecia no escuro sem que ninguém o visse e começava a
proclamar sons e frases criticas.