Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

fotos de capa em dezembro 31

 * Victor Nogueira


2020 12 31 - Volpedo - o 4º Estado


2020 12 31 A vida dos prisioneiros palestinos nas cadeias de Israel – cartum [Al-Arabya] in https://www.monitordooriente.com/20191004-o-isolamento.../



2020 12 31 Alexandre O’Neill - Perfilados de Medo

Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
e a vida sem viver é mais segura.

Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.

Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.

Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido…


2019 12 31 foto victor nogueira - autocarro na Belavista, em Setúbal (2019.12.17)

VER   Nocturnos em Setúbal, decembristas


2017 12 31 Cumprindo o ritual, um bom ano, com saúde, soalheiros dias e românticas noites
🙂
OS AMANTES SEM DINHEIRO
Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.
© EUGéNIO DE ANDRADE
In Os Amantes sem Dinheiro, 1950
·
foto victor nogueira - setúbal - pormenor da estátua do actor setubalense Carlos Rodrigues (Manuel Bola), da autoria do escultor Jorge Pé Curto, inaugurado em 2016.12.11




2017 12 31


2016 12 31 Carlos Drummond de Andrade, RECEITA DE ANO NOVO


2015 12 31 cartoon de Luís Afonso in Público 2015.12.31


2015 12 31 Carlos Drummond de Andrade - Receita de Ano Novo


Susan Branch
Feliz ano de 2015. ❤
 
2014 12 31 Cecília Barata






2014 12 31

2013 12 31



quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

fotos de capa em dezembro 30

 * Victor Nogueira



Carlos Drummond de Andrade - Receita de Ano Novo


2020 12 30


2020 12 30 Carta ao filho  

Não vivas sobre a terra como um estranho
Um turista no meio da natureza.
Habita o mundo como a casa do teu pai.
Crê na semente, na terra, no mar.
mas acima de tudo crê nas pessoas.
Ama as nuvens,
as máquinas,
os livros,
mas acima de tudo ama o homem.
Sente a tristeza do ramo que murcha,
do astro que se extingue,
do animal ferido que agoniza,
mas acima de tudo
Sente a tristeza e a dor das pessoas.
Alegra-te com todos os bens da terra,
Com a sombra e a luz,
com as quatro estações,
mas acima de tudo e a mãos cheias
alegra-te com as pessoas.
.
Nazim Hikmet, (1902 - 1963) c. 1960.
Traduzido do inglês por Carlos Eugênio Marcondes de Moura.
.
Escritor e poeta turco nascido em Salonica, Grécia, então parte do império otomano, que, perseguido por suas idéias políticas, marcou profundamente a literatura turca ao romper com a tradição islâmica e sob a influência dos futuristas russos, propôs a despoetização da poesia. Pensando seguir uma carreira militar, entrou para a academia naval de Istambul e serviu na Marinha, da qual foi expulso (1919) por atividades revolucionárias. Partiu para Moscou, onde estudou ciências políticas e sociais por cinco anos, na Universidade Comunista de Moscou. Regressou à Turquia (1924), após a proclamação da república e tornou-se conhecido com seus primeiros poemas, de cunho patriótico. Condenado (1938) pela suposta participação num complô, após ser posto em liberdade (1950) por força de uma intensa campanha internacional, radicou-se então em Moscou, onde morreu. Publicou as coletâneas 835 satir (1929) e 1 + 1 = 2 (1930), os poemas históricos Sesini kaybeden sehir (1931) e Benerci kendini niçin öldürdü? (1932), as peças para teatro Kofatos (1932) e Unutulan adam (1935) e lançou uma autobiografia em Berlim (1961).


2020 12 30


2020 12 30 fotos victor nogueira e rui pedro - o trio dos caçulas



2019 12 30 RECEITA DE ANO NOVO - Carlos Drummond de Andrade


2019 12 30  foto victor nogueira - Setúbal - Bairro da Belavista - Escultura "5 Continentes", do Núcleo Museológico Urbano da Bela Vista denominado “O Museu está na Rua”, do escultor João Limpinho, que pode ser vista em Estatuária em Setúbal 11 - Belavista - “O Museu está na Rua”
 

2016 12 30 RECEITA DE ANO NOVO - Carlos Drummond de Andrade 



2015 12 30 RECEITA DE ANO NOVO - Carlos Drummond de Andrade 


2014 12 30


2014 06 21 foto victor nogueira - em Lisboa (Alfama)



2014 23 30 - isto dos calendários e dos ciclos anuais tem que se lhe diga. Já não se diz 2015 dC (depois de Cristo) mas 2015 dEC (da era comum). Só que a era comum que se pretende impor continua a ser a Cristã/Católica Gregoriana, pois maometanos, judeus e chineses entre outros têm diferentes calendários. Tal como cada um de  nós, cujo ciclo de vida inicia a contagem a partir do dia do nascimento.

OPINIÃO - Mudar tudo para que tudo mude - JOSÉ VÍTOR MALHEIROS 30/12/2014 -

ESCREVE O ARTICULISTA
Feliz Natal. Bom Ano Novo. Repetimos as fórmulas, escrevemo-las em cartões, em mensagens de mail. Por que o fazemos? Para exprimir os nossos desejos. Para que aqueles a quem endereçamos os nossos votos saibam que nos preocupamos com eles e que lhes desejamos alegria, felicidade, saúde, bem-estar, amor. Para que serve isso, além de cumprir um ritual, de manter uma tradição? Apenas para manter a cola social que faz de nós uma sociedade em vez de seres isolados? (...)

Não só. Há nestes votos uma superstição implícita. Dizemos “Feliz Natal” como um conjuro, como se as nossas palavras pudessem invocar os lares e os penates e forçá-los a conceder as suas bençãos. Como quando desejamos “as melhoras” a um doente. Não é apenas um desejo pessoal, um sentimento interno e secreto, mas um voto público, um desejo anunciado, quase uma imprecação, quase uma oração. É verdade que dizemos e escrevemos tudo isso mecanicamente, sem pensar, mas as raízes do gesto e das palavras estão por aí. No lançamento de cada “Bom Ano Novo” há uma esperança demiúrgica. Há um eu primitivo que convoca os deuses, que acende uma fogueira na noite e que levanta os braços ao céu, que sonha que os poderes da terra e do fogo estão ao seu alcance.




2014 12 30 - ISTO NÃO É UM POEMA MAS SIMPLES DESALINHAVADO

quem responde ao meu apelo
não será quem eu quero
e
quem eu quero não sei quem seja
.
os dias e as noites liquefazem-se
e o meu sorriso é uma máscara que se me colou à pele
.
dentro da máscara e para lá do sorriso
uma crisálida moribunda
na busca do desassombro das portas e janelas abertas
ao sol, ao vento, à maresia, ao viandante sem arnês, andarilho ou maltês ....
.
na ressaca das ondas vem um país pequenino
vazio, frio e cinzento
um país de meias tintas e lantejoulas de pechisbeque
e salamaleques com mil reverências a suas "insolências"
preso a séculos de sujeição, de inquisição e de pinas maniques
com o passado como tiques
e, mesmo na penumbra, com medo da própria sombra !.
Resta-me a recusa
de não ser capacho ou mata-borrão
e a afirmação
da não sujeição!
Dói e rói esta solidão pela recusa em ser a formiga no carreiro !

Mindelo 2014.12.30


2013 12 30 O PCP e as ditaduras

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

fotos de capa dezembro 29

 * Victor Nogueira

2020 12 29 Foto rui pedro - Neste 29 Dezembro, antevéspera dum Ano Novo Gregoriano, a capa é dedicada à Mariana, hoje com 18 meses e 3 dias, indicando, no horizonte, o rumo ou o norte, como se fora indómita e destemida capitã de nau ou caravela.

2019 12 29 Foto victor nogueira - Túnel do Quebedo, em Setúbal ao entardecer (2019.12.07)

Não se trata propriamente dum túnel, mas sim duma passagem desnivelada, mas denominá-lo de "túnel" é mais "fino". Outrora uma passagem de nível separava a Avenida 5 de Outubro da Avenida Jaime Cortesão, com engarrafamentos sempre que o comboio passava ou estacionava no apeadeiro do Quebedo. Depois construiu-se este desnivelamento, a 5 de Outubro ficou apenas com o trânsito poente/nascente, tornando-se o trânsito mais fluido, apesar da nova "barreira" que são os semáforos

O "túnel" já esteve decorado com pinturas murais, uma delas dedicada a José Afonso, mas desde 2016 que nele foram colocados vários painéis de azulejos,

Segundo o "Diário da Região Setubalense" «“A concepção dos painéis, colocados numa área de 300 metros quadrados ao longo dos muros do túnel, tem como mote a referência a escritores e artistas que estiveram ligados à cidade de Setúbal, por nascença ou vivência, concretamente Bocage, Sebastião da Gama, Vasco Mouzinho de Quevedo, Luiz Pacheco e José Afonso”, lembra a edilidade.

Os painéis premiados foram idealizados, concebidos e desenhados ao longo de cinco “intensos” meses, conforme revelou Andreas Stöcklein, durante a cerimónia de inauguração em Setúbal, a 15 de Julho de

Nesse mesmo ano o conjunto destes painéis de azulejos conquistou o prémio nacional SOS Azulejo, na categoria Intervenção Artística. 

Painéis do Túnel do Quebedo vencem prémio nacional SOS Azulejo


 2018 12 29


2017 12 29

2010 12 29

  QUADRATURA DO CÍRCULO OU DO CIRCO ?

È Natal
É fatal:
É peta :
a treta
bem preta
sem teta !

An'ovo
É ovo
do Povo
ou logro !?

A fome
não some
No sono
ressono ?

Bom tom
sem som
é bom
ou non?

Victor Nogueira 2010.12.29

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Gaivotas em terra ou planando, nem sempre com tempestade no mar

 * Victor Nogueira

Esta é uma pequena recolha de fotos com gaivotas, no Porto, Vila do Conde, Carcavelos, Setúbal  .... De bónus, dois poemas musicados.



Vila Chã, em Vila do Conde



Vila do Conde, na Praia da Guia





Vila do Conde - Cais da Alfândega


Porto (Cemitério de Agramonte)



Mindelo





Setúbal


Carcavelos


Gaivota - - Letra e música: Ermelinda Duarte
 
Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos-do-rei
mastigando desespero.

Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,
ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa.

Uma gaivota voava, voava,
assas de vento,
coração de mar.
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.

Uma papoila crescia, crescia,
grito vermelho
num campo cualquer.
Como ela somos livres,
somos livres de crescer.

Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
não vou combater".
Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.

Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
não voltaremos atrás.


 Gaivota - Alexandre O'Neill (poema),  Alain Oulman (música)

Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.

Que perfeito coração
no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.