Castro Barroso Gato Nogueira - Blog Photographico - lembrança da moça do Alentejo
Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui
“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)
«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973
A finalidade era ir até Esposende e Apúlia mas como já era tardia a hora em que pus rodas a caminho e para evitar a morosidade do pára-arranca da Estrada Nacional resolvi seguir pela A28 e dou por mim na A11 rumo a Barcelos. Saio em "Barqueiros", que me parece uma povoação interessante e desafogada à beira da estrada, em cuja zona central se encontram uma igreja, uma bomba de gasolina e uma alameda ajardinada. Ignoro a razão de ser do nome dos lugares de Barqueiros e das Necessidades. Conduzir para oeste nestes dias de longo entardecer e com sol baixo a encandear - mesmo que de óculos escuros - é incómodo e perigoso por estas estreitas e sinuosas estradas secundarias.
Estaciono junto à Igreja e dou início ao meu périplo fotográfico desde o Santuário de N. Sra das Necessidades até à alameda fronteira e ajardinada, com bancos a esta hora desocupados e um parque infantil onde brinca uma solitária criança acompanhada por um adulto. É neste jardim que se realizará dentro de poucos dias a Romaria e nele está uma escultura enaltecendo a vitoriosa luta das populações contra a extracção de caulino no que ficou conhecido como Guerra do Caulino ou Guerra dos Caulinos. O caulim ou caulino é um abundante minério composto de silicatos hidratados de alumínio, como a caulinita e a haloisita, e apresenta características especiais que permitem sua utilização na fabricação de papel, cerâmica, borracha, e tintas, entre outras aplicações,
Ladeando a alameda (Avenida Arcebispo Dr. Gaspar Bragança) - que é o Terreiro do Santuário - casas de dois pisos, a maioria bem-conservadas, algumas com a pedra aparelhada à mostra. Junto à Igreja há uma edifício brasonado mas nas pesquisas posteriores nenhuma referência a ele encontro. Vários cafés estão abertos com as esplanadas vazias pois a tarde pôs-se frescalhota. Resolvo entrar na Pastelaria Rosa Brilhante, num mini centro comercial com a maioria das lojas vagas. Na pastelaria os bolos são uma tentação ao olhar. Compro dois que não sei como se chamam, um deles bem saboroso, com agradável mistura de paladares, mas ambos demasiado doces.
Na freguesia, habitada desde tempos imemoriais, existiu uma exploração aurífera romana ou mesmo anterior, que depois de abandonada acabou por ser naturalmente inundada dando lugar a uma lagoa e a um povoado denominado Lagoa Negra. Segundo o site da freguesia "nos arredores há vestígios de mamoas como a mamoinha da Rocha que serve de marco de limite da freguesia, o castro de S. Félix e o de Terroso da época castreja e a povoação de Barqueiros da época romana, indiciando uma intensa ocupação humana desde a antiguidade." Mas esta informação só a obtenho ao pesquisar na internet posteriormente e a Cividade de Terroso já foi por mim visitada em anos anteriores.
Acabada a visita rumo a Apúlia para apanhar a Estrada Nacional e com trânsito lento especialmente nos abarrotados restaurantes à beira da estrada na zona de Estela, atravesso Póvoa de Varzim e Vila do Conde. Na Póvoa e no largo do Município ou Praça do Almada há festa, tendas e movimento de transeuntes mas prossigo o caminho de regresso ao Mindelo.
Santuário de Nossa Senhora das Necessidades, do séc XVIII
Ficou célebre durante a década de 1980 pelos protestos da população contra a extracção de caulino a céu aberto no centro da localidade, um episódio longo que ficou conhecido como a Guerra do Caulino ou Guerra dos Caulinos. Iniciado em 1986 este conflito foi-se arrastando até se saldar na morte de um rapaz em 1989. (wikipedia)
A festa em honra da Nossa Senhora das Necessidades é conhecida no país inteiro.
As Festas atraem milhares de forasteiros que visitam Barqueiros nos dias 6, 7 e 8 de Setembro, destacando-se a procissão, a corrida de cavalos, as bandas de música e a queimada das Vacas de Fogo, cujo significado não consegui apurar.
Para os curiosos aqui fica algo sobre esta freguesia, respigado da Wikipedia. "A paróquia de S. João de Barqueiros já aparece referenciada em 1059 no livro de D. Mumadona, no inventário das igrejas de Guimarães. Porém, somente abrangeria os actuais lugares de Barqueiros, Jouve e parte de Prestar. A maior parte da área da atual freguesia pertencia ao território de Lagoa Negra. A razão de existir uma tão minúscula paróquia só se justificará pela sua importância económica e estratégica na época romana, na altura em que ainda existiria o lago alimentado pelo rio Cávado.
Barqueiros não aparece nas inquirições de 1220. Contudo, aparece nas de 1258 (D. Afonso III) e 1288 (D. Dinis). Nestas é referido o lugar de Jouve. Lagoa Negra (Lacona Nigra) aparece referenciada em 1108 no Liber Fidei, na localização de uma propriedade nas proximidades de Criaz (Apúlia) e Contriz (Estela). Também não aparece nas inquirições de 1220. Aparece nas inquirições de 1258, nas quais, curiosamente, os inquiridores propuseram a constituição de uma paróquia. Nas inquirições de 1288 aparece com a descrição dos seus limites que iam para sul da atual estrada da velha igreja paroquial ao atual Santuário de N.ª Sr.ª das Necessidades até Laúndos.
(...) Durante séculos a freguesia estruturou-se ao longo dos vales periféricos: lugares de Prestar, Jouve, Barqueiros (ou Igreja), Vilares e Lagoa Negra. O núcleo mais povoado na atualidade: Necessidades, Terreiro das Necessidades, Abelheiros, Telheiras e Godo eram territórios despovoados e baldios. Mesmo o alto do Monte de Bassar do Couto de Apúlia – onde está o Santuário das Necessidades – era despovoado e com muitos baldios no séc. XVIII.
Note-se que o Monte de Bassar ou Aldeia de Bassar englobava os lugares de Cerqueiras, Bassar e Talhos. Era administrado pela Câmara do Couto de Apúlia e era meeiro entre as paróquias de S. João de Barqueiros e Salvador de Cristelo.
(...) No início do séc. XVIII, no local do primitivo povoado romano de Barqueiros só existia a igreja paroquial. Como estava decadente e em sítio ermo foi ordenada a sua transposição, em 1720, para a colina imediata a poente, para junto do povoado. Aí se situava o centro cívico de Barqueiros.
A velha igreja de Barqueiros manteve-se igreja matriz até 1931. Neste ano passou para o Santuário das Necessidades, após uma década de lutas entre fações a favor e contra essa passagem.
A deslocação do centro da freguesia, do lugar de Igreja ou Barqueiros para as Necessidades, iniciou-se com a divulgação local do culto a Nossa Senhora das Necessidades e consequente construção do respetivo Santuário. A iniciativa deveu-se a Frei João Veloso de Miranda Matos Godinho e Noronha que trouxe de Lisboa uma imagem e a colocou num nicho próximo à Quinta da Torre de Bassar, quinta dos seus antepassados Velosos de Miranda que durante gerações foram escrivães do Couto de Apúlia.
Apregoadas as graças e virtudes gerou um grande movimento de peregrinos e avultadas esmolas que deu para iniciar a construção do Santuário por volta de 1746. A sagração deu-se em 1762, ainda sem retábulo-mor. Este foi projetado em 1774 pelo conhecido arquiteto bracarense, Carlos Amarante.
Construído em Bassar, junto aos limites de Barqueiros, num local de bouças pouco produtivas, era constantemente visitado por devotos, sendo o maior afluxo por ocasião da romaria, nos dias 7 e 8 de setembro e domingo seguinte a estes dias. Tal facto motivou a doação de uma vasta área de terreno – o atual Terreiro – para as romarias, por parte do Arcebispo D. Gaspar de Bragança. Estas festas foram, na segunda metade do séc. XVIII e séc. XIX, das mais afamadas da região, havendo registos de romeiros vindos da região costeira entre a Maia e Viana do Castelo.
A partir de 1800 inicia-se a construção de moradias na orla norte do Terreiro em lotes de terreno pertencente ao Santuário, denominado Bouça da Senhora das Necessidades.
Em 1812 o Terreiro aparece referenciado como rodeado de casas, havendo algumas destinadas ao apoio dos viajantes. Nas proximidades, aproveitando oportunidades de negócio com o movimento de peregrinos e romeiros, surgiu um importante centro produtor de telha e tijolo que deu origem ao atual lugar de Telheiras.
O Santuário, a nível regional, influenciou também o desenvolvimento de novas estradas. Logo em 1759, a confraria que ainda administrava o Santuário (ainda em construção) pede ao rei D. José uma ponte para a lagoa das Necessidades, entre Rio Tinto e Cristelo, em direção a Vila Seca e Barcelos. Mais tarde a importância desta via foi realçada com a nova estrada real (n.º 30), da Póvoa de Varzim a Valença, passando pelas Necessidades e Barcelos. Esta, em 1868, andava em construção na zona das Necessidades." (wikipedia)
Representação da chegada dos romeiros à tradicional romaria a Nossa Senhora das Necessidades, em Barqueiros - Barcelos, realizada pelo Rancho Etnográfico "A Telheira" e Necessidades Futebol Clube
foto victor nogueira - oeiras - ilha dos amores no parque dos poetas - escultura de Francisco Simões Pedro Barroso - Bonita
Primeiro foram as mãos que me disseram que ali havia gente de verdade depois fugi-te pelo corpo acima medi-te na boca a intensidade senti que ali dentro havia um tigre naquele repouso havia movimento olhei-te e no sol havia pedras parámos ambos como se parasse o tempo
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
atrevi-me a mergulhar nos teus cabelos respirando o espanto que me deras ali havia força havia fogo havia a memória que aprenderas senti no corpo todo um arrepio senti nas veias um fogo esquecido percebemos num minuto a vida toda sem nada te dizer ficaste ali comigo
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
falavas de projectos e futuro de coisas banais frivolidades mas quando me sorriste parou tudo problemas do mundo enormidades senti que um rio parava e o nevoeiro vestia nos teus dedos capa e espada queria tanto que um olhar bastasse e não fosse no fundo preciso queria tanto que um olhar bastasse e não fosse preciso dizer nada
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
Poema interpretado por Pedro Barroso em
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foto victor nogueira - oeiras - parque dos poetas - ilha dos amores - escultura de francisco simões
1. - Toda a noite trovejou e a manhã está fria, húmida e cinzenta, convidando ao borracho, sem Cinderela. Tudo é silêncio, salvo o sobrevoo dos aviões de Pedras Rubras (para mim é sempre este o nome e não Sá Carneiro). Depois de almoço virá o pedreiro, para reparação do telhado. A remodelação da cozinha terá de ficar para outro ano. Vou aproveitar o dia cinzento para escrever o artigo para o jornal sindical subordinado ao tema "a cantiga é uma arma". Antes será a quotidiana leitura de imprensa on line e de blogs, num dos quais estou em polémica (1). A trovoada afastou-se mas a manhã continua cinzenta.
2. - As obras no telhado quase de certeza não serão este ano. A tarde foi de céu azul com flocos de núvens brancas que por vezes largavam uns pingos de chuva estilo "molha tolos" e "molha tólas". Espero que Agosto termine e com ele a época de praias e dos engarrafamentos e do pára-arranca. Passo pela tabacaria em Areias, na vizinha freguesia de Árvore, para encomendar as Graphic Novels semanalmente distribuídas pelo Público. Reconhecem-me a empregada, a dona do café e a empregada ou dona do mini-mercado onde vou comprar pilhas para o esquentador. Sigo para Azurara, em busca duma oficina-auto e aproveito para fotografar de novo a Igreja de Santa Maria A Nova. Regresso ao Mindelo onde vou lanchar à Pastelaria Santa Clara, cujos donos também me reconhecem. Todos me reconhecem de anos anteriores e me falam simpaticamente.
Em casa e num dos meus blogs encontro um simpático comentário a uma das publicações. (2)
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(1) -farsas e farsantes inhttp://mundophonographo.blogspot.pt/2016/08/farsas-e-farsantes.html
igreja de santa maria de azurara e cruzeiro manuelino
O nicho tem a imagem de Nossa Senhora da Apresentação, vinda da primitiva capela de Azurara com a mesma designação.
Pórtico principal (pormenores) - decorado com motivos de grotesco
torre sineira e púlpito
A construção da igreja ter-se-á iniciado cerca de 1502, na sequência da autorização de D. Manuel I para se edificar uma nova igreja paroquial em Azurara em substituição da pequena Capela de Nossa Senhora da Apresentação; dessa edificação original sobrevive a imagem da Virgem integrada num nicho na parte superior do Portal. No essencial a construção terminou c. 1522, com a conclusão da capela-mor; a torre sineira é posterior, datando do final do século XVII (Wikipedia)
Esta Igreja é semelhante à Matriz de Vila do Conde, de que é coeva, embora de traça mais simples
MAIS SOBRE ESTA POVOAÇÃO EM
Azurara: Convento de S. Franciscohttp://kantophotomatico.blogspot.pt/2014/09/azurara-convento-de-s-francisco.html
Azurara (Vila do Conde)http://kantophotomatico.blogspot.pt/2014/08/azurara.html
entre Azurara e Vila do Condehttp://kantophotomatico.blogspot.pt/2014/08/entre-azurara-e-vila-do-conde.html
O milheiral verdejante é uma cortina à espera das ceifeiras debulhadoras e dos tractores que levarão a colheita para as fábricas que a transformará em ração para o gado. Nas trazeiras do quintal estão a horta e o pomar: couves, batatas, abóboras ... A oliveira, a tangerineira e o limoeiro pouco cresceram, ao contrário da árvore da borracha. Na correnteza do quintal a nascente, a floricultura de que desconheço o nome, conjuntamente com a palmeira. As borboletas esvoaçam rápidas mas ainda não saltaricam pássaros no quintal e no muro.