Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

domingo, 14 de setembro de 2014

Amarante e o Rio Tâmega

* Victor Nogueira (texto e fotos)




A mais antiga representação fotográfica da Vila de Amarante, tirada pelo escocês Frederick William Flower, cerca de 1850



1997

Nas faldas da Serra do Marão, na margem do rio Tâmega , situa‑se Amarante, com o seu Mosteiro de S. Gonçalo e ponte homónima sobre o rio onde se reflecte o arvoredo das margens. As ruas são estreitas, o ar escuro, húmido, enevoado. Algumas casas possuem varandas salientes, de balaustrada, cobertas, de madeira, como nos países nórdicos. (Memórias de Viagem, 1997)

1999

Fotos Igreja, ponte, chafariz, casa fotográfica e vista panorâmica. Num coberto arte nova um painel de azulejos ilustra uma das cheias do rio Tâmega. Em Amarante são muito pontuais na saída/encerramento e no trânsito os automobilistas  facilitam ainda menos que no Porto, ignorando os sinais vermelhos. Contudo a maioria das pessoas são simpáticas.

Museu Amadeu de Sousa Cardoso – senhor Cardoso, deficiente, é o guarda e bilheteiro; não nos deixa visitá-lo por já serem 17h 10, faltando contudo ainda 20 m para o seu encerramento. Os funcionários administrativos são zelosos com a hora de saída (sê-lo-ão também com a de entrada?). 

História dos postais e das contas (como foi?) e a atrapalhação com a máquina de calcular. Postais do expositor que não vende apesar de ter em stock outra colecção (???) e desenhos de Sousa-Cardoso.

Invasões francesas, defesa e saque da vila. Convento e ponte. Rio sinuoso.

A saída de Amarante pela IP 4 tem uma vista muito bonita, mas não sem podem tirar fotos. O caminho é muito montanhoso e verdejante, com videiras e pinheiros e casas espalhadas pelas encostas; de vez em quando avista-se o campanário duma igreja. Nalguns troços árvores queimadas testemunham pretéritos incêndios.

Atravessamos o rio Ovelha (?) a 27 km de Vila Real e os vales lá ao fundo são profundos, mal se distinguindo por entre a neblina.

As encostas já não são de cultivo, estando cobertas de erva rasteira, nem sempre uniformemente. Os nossos ouvidos zunem por causa da altitude e das diferenças de pressão; estamos na serra do Marão. Há um dito popular: “Para cá do Marão mandam os que cá estão”.

A neblina é cada vez maior; são 17h 40m e estamos a 17 km de Vila Real. Dois km depois começa uma íngreme descida e a visibilidade aumenta. (Notas de Viagem - 1999.09.02)

2014

Acordei de manhã com uma estrondosa trovoada e chuva a bátegas, que ameaçavam o passeio até Amarante, nas margens do Rio Tâmega, mas  tempo levantou e a tarde foi soalheira, luminosa, francamente estival. Consegimos estacionar o Fiesta mesmo no centro, à sombra do Convento de S. Gonçalo, junto à estátua a Teixeira de Pascoais, defronte do Museu [de Arte Moderna e Contemporânea] Amadeu de Sousa-Cardoso. A importância do povoado só começou depois de nele se instalar o eremita S. Gonçalo, venerado como casamenteiro, após várias peregrinações e deste ter construído a ponte velha sobre o rio. A construção do Mosteiro data do século XVI (D. João III) sendo concluída no reinado de Filipe I  e a nova ponte foi edificada após a primitiva ter ruído em 1763 devido à força das cheias. Cheias caudalosas que ao longo dos séculos alagavam o centro da povoação, disso dando conta lápides num prédio da Avenida General Silveira, a maior das quais em 2001, quando da queda da ponte Hintze Ribeiro, de Entre-os-Rios, em Castelo de Paiva, VER Tragédia de Entre-os-Rios, em  http://pt.wikipedia.org/wiki/Trag%C3%A9dia_de_Entre-os-Rios//pt.wikipedia.org/wiki/Trag%C3%A9dia_de_Entre-os-Rios

A vila foi destruída, incendiada e saqueada durante as invasões francesas, como represália pela resistência ao exército ocupante, tendo-se notabilizado no comando da sua defesa o General Silveira, factos relembrados na ponte. Outros filhos ilustres da terra são o poeta Teixeira de Pascoais e o pintor Amadeu de Sousa-Cardoso, 

Da história de Amarante fazem parte o Diabo e a Diaba, figuras eróticas e de culto popular e pagão,  dedicadas à fertilidade, perseguido pela Igreja Católica, de que se fala aqui:

~ A procissão dos Diabos - http://pt.wikipedia.org/wiki/Prociss%C3%A3o_dos_diabos
~ O diabo e a diaba de Amarante - http://www.amarante.pt/museu/admin/galeria/formularios/historia_diabos_net.pdf


 serra do Marão


estátua de Teixeira de Pascoais

RIO TÂMEGA





Praça da República, antigo Largo de S. Gonçalo




RUA FREI JOSÉ AMARANTE




CONVENTO DE S. GONÇALO




loggia



Varanda dos Reis e Pórtico principal - Na Varanda dos Reis estão representados D. João III, D. Sebastião, D. Henrique e Filipe I. No Pórtico estão representados Nª Sª do Rosário, S. Pedro Mártir, São Gonçalo, S. Thomas, S. Francisco, S. Domingos, e sobre a porta os bustos de S. Paulo e S. Pedro.



CLAUSTRO PRINCIPAL ou NOBRE


chafariz



PEDRAS DE ARMAS





2º CLAUSTRO


este claustro foi adaptado para nele funcionarem os Paços do Concelho a partir de 1863


tecto da capela de S. Gonçalo, onde existe uma estátua jacente polícroma (túmulo simulado dos séculos XVI-XVII) que não poucos visitantes acariciam à sua passagem  

SACRISTIA




cadeirais no altar-mor da igreja


PÚLPITO




RIO TÃMEGA E A PONTE


casas nas traseiras da Rua General Silveira















AVENIDA GENERAL SILVEIRA e PONTE SOBRE O RIO TAMEGA





marcas das cheias



MUSEU DE AMADEU SOUSA-CARDOSO








Eduardo Teixeira Pinto, fotógrafo de Amarante
ver http://www.eduardoteixeirapinto.com/home.html


bustos de Teixeira de Pascoais, por Aureliano Lima (1955), e de Florbela Espanca, por Raúl Xavier (s/ data)


bustos de Miguel Torga, por Eduardo Tavares (1955) e de Teixeira de Pascoais, por Aureliano Lima (s/ data) 


busto de Eugénio de Andrade, por  José Rodrigues (s/ data)





antiga Casa da Calçada, hoje unidade hoteleira

1 comentário:

JOÃO SILVA disse...

Existindo algumas imprecisões no legendado, na globalidade tudo condiz historicamente com esta JÓIA DO TÂMEGA que Amarante é!