Pare evitar entrar no pára-arranca na travessia do Tejo rumo ao Sado, havia que preencher o tempo até às 20 horas, Descartada a sugestão de ir sozinho contemplar a paisagem para a beira-rio afastado o sentar-me num café a ler, decidi-me por nova visita ao Parque dos Poetas. Alguma da estatuária é figurativa, outra abstracta, e pelas aleas, no lajedo, "pétalas" contêm versos de vários autores. Junto a cada escultura uma lápide faz uma breve descrição do homenageado, contendo também informação sobre o escultor. Lá no cimo da encosta, em posição dominante, o chamado Templo da Poesia.
O entardecer estava descolorido e frio, com uma desagradável aragem varrendo as áleas, a luminosidade deficiente. Fica o registo das minhas
"contemplações" no Parque dos Poetas, sem musa nem música
Marquesa de Alorna
José Anastácio da Cunha - Pinheiro Manso
Copado, alto, gentil Pinheiro Manso;
Debaixo cujos ramos debruçados
Do sol ou lua nunca penetrados,
Já gozei, já gozei mais que descanso...
Quando para onde estás os olhos lanço,
Tantos gostos ao pé de ti passados
Vejo na fantasia retratados,
Tão vivos, que jàmais de ver-te canso!
Ah! deixa o outono vir; de um jasmineiro
te hei-de cobrir, terás cópia crescida
De flores, serás honra dêste outeiro.
E para te dar glória mais subida,
No meu tronco feliz, alto Pinheiro,
O teu nome escreverei de Margarida.
Correia Garção
Filinto Elísio - soneto
Estende o manto, estende, ó noite escura,
enluta de horror feio o alegre prado;
molda-o bem c’o pesar dum desgraçado
a quem nem feições lembram da ventura.
-
Nubla as estrelas, céu, que esta amargura
em que se agora ceva o meu cuidado,
gostará de ver tudo assim trajado
da negra cor da minha desventura.
-
Ronquem roucos trovões, rasguem-se os ares,
rebente o mar em vão n’ocos rochedos,
solte-se o céu em grossas lanças de água.
-
Consolar-me só podem já pesares;
quero nutrir-me de arriscados medos,
quero saciar de mágoa a minha mágoa!
Nicolau Tolentino
Manuel Maria Barbosa du Bocage
António Feliciano de Castilho
Templo da Poesia
poema de Alexandre Herculano
Arrábida (Excerto)
III
Oh, como surge majestosa e bela,
Com viço da criação, a natureza
No solitário vale! E o leve insecto
E a relva e os matos e a fragância pura
Das boninas da encosta estão contando
Mil saudades de Deus, que os há lançado,
Com mão profusa, no regaço ameno
Da solidão, onde se esconde o justo.
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