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“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Azenhas ou moinhos de água - estrutura e funcionamento (25)

AI Overview

Os principais mecanismos de uma azenha ou moinho de água são a roda hidráulica, que é movida pela força da água; as mós, que são as pedras que moem o cereal; a levadoura, que ajusta a distância entre as mós; e a moega e tegão, que guiam o cereal para o centro das mós. A água move a roda, que por sua vez faz girar as mós, transformando o cereal em farinha através de um processo mecânico. 

Componentes principais

Roda hidráulica: É o componente principal que converte a energia cinética da água em energia mecânica de rotação. A água de uma calha (levada) atinge as pás da roda, fazendo-a girar.

Mecanismo de transmissão: A rotação da roda é transmitida para o interior do moinho através de um sistema de engrenagens (entrosga e carreto), que faz girar a mó superior.

Mós: Duas pedras cilíndricas. A mó superior (chamador) é a que gira, enquanto a mó inferior (olho) fica estacionária.

Ajuste das mós (levadoura): O moleiro utiliza a levadoura para ajustar a distância entre as mós, controlando assim a finura da farinha produzida.

Moagem: O cereal é introduzido pela moega e guiado para o centro das mós pelo tegão, onde é moído entre as duas pedras.

Armazenamento e peneiramento: A farinha resultante é recolhida na tulha e pode ser peneirada para separar as partes mais finas das mais grossas. 

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Legenda:


Legenda - 

a - Moega # b - Tremonha ou quelho # c - Rela ou chamadouro # d - Mó movente # e - Mó dormente # f - Suporte # g - Segurelha # h - Veio # i - Haste # j - Pela # k - Pena # l - Ponte # m - Trave do aliviadouro # n - Aliviadouro # o - Aguilhão # p - Cubo e agueira " q - Comporta ou pejadouro


Mas por força da inovação tecnológica, estes engenhos caíram em desuso na segunda metade do século XX, com a introdução de sistemas motorizados autónomos.

Apesar de assim conhecida trata-se de um moinho de rodízio. O engenho começa na construção de um açude que permite a represa de água e a sua condução para o interior do moinho através de um canal – a levada.

O desnível de água entre o açude e a sua entrada no cabouco põe em funcionamento o rodízio. O moleiro controla o caudal através de umas comportas.

Durante a época medieval, os moinhos e as azenhas constituíram importantes meios de produção, que  normalmente eram monopólio de monarcas, nobres e igrejas paroquiais. Supõe-se que este marco servisse para referenciar alguma propriedade pertencente á Colegiada da Igreja de São Pedro de Torres Vedras. A Professora Doutora Ana Maria Almeida Rodrigues no seu livro "Torres Vedras, a vila e o termo nos finais da Idade Média", regista a existência de 4 moinhos hidráulicos na ribeira de Alcabrichel na área de VIla Facaia/Ramalhal nos séculos XIV e XV. O achamento deste marco quando do restauro desta azenha em 1997, no cabouco da parede onde agora se encontra exposto,leva-nos a supor que ele demarcava uma propriedade que pertenceu á Colegiada de S. Pedro...talvez a própria azenha.(1)

AÇUDE: O açude é uma barragem ou muralha erguida no rio e lançada de margem a margem de modo a represar e consequentemente e ao mesmo tempo a elevar o nível da agua neste local. è uma construção mais ou menos poderosa e grosseira de pedras e terra aproveitando a curva do rio e utilizando já a penedia natural do leito como alicerce ou como elemento de apoio para tomar a feição de um muro inclinado. (2)

LEVADA E CUBO: Do açude até ao moinho a agua segue pela margem esquerda num canal - levada - de maneira a criar as melhores condições para accionar os rodízios. A levada é de construção mais ou menos cuidada e tem o comprimento em função da inclinação do rio, da localização do moinho e do necessário desnível a conseguir-se. Neste caso temos apenas uma diferença de cota de 0,70 metros o que normalmente seria reduzido. No entanto não nos esqueçamos que o engenho tem associados elementos desmultiplicadores de rotações que permitem aumentar as suas características (referencia ao carreto e entrosga intermédios que definem, portanto, uma transmissão sem ser directa) ao mesmo tempo que se tenta aproveitar o caudal volumoso da época das chuvas. À saída do açude, na boca da levada, uma comporta regula o volume de água que se pretende utilizar no moinho, evitando, que por excessiva (em relação com a sua saída no cubo do moinho), ela transborde durante o percurso até ao moinho, existindo uma comporta igual no seu final, á entrada do cubo. A levada termina junto ao moinho numa presa (característica das regiões onde há pouco agua de verão) que regula o volume da agua e de forma a encaminhar esta convenientemente para a roda motriz através de um cubo de pedra.(2)

APARELHO MOTOR - RODÍZIO: O rodízio é fixo á pela sendo uma peça constituída por uma roda de penas nas quais bate o jacto de agua que sai da seteira. As penas têm as pontas a entrar num rasgo circular cavado no fundo da pela, apertadas umas contra as outras e pregadas entre si e á pela e ainda envolvidas por um arco metálico que as contêm.(2)

PELA: É o eixo vertical que o rodízio acciona e consiste num pau elementarmente afeiçoado e com rudimentar intenção estética. A pela tem uma secção maior na extremidade inferior onde se situa o cepo ou maçã em que inserem as penas. Essa secção é quadrada no corpo da pela e circular no cepo. Na extremidade superior da pela está a entrosga e termina numa peça metálica que serve de eixo ao conjunto. A madeira de que é feito a pela será o pinho ou o carvalho podendo ser feiro com o troço inferior dessas arvores. (2)

VEIO: É um ferro direito contendo na parte inferior o carreto e terminando aí um tronco de cone que se apoia na rela situada no urreiro. Na parte superior tem secção quadrangular de forma a entrar no orifício da segurelha aguentando esta e suportando o peso da mó de madeira.(2)

SEGURELHA: É como já foi dito uma peça de ferro muito robusta com cerca de 25 cm de comprimento por 7 de largura, de formato quadrangular, abrindo ligeiramente em leque e com a face superior descaindo para as pontas - orelhas. A parte central da peça, direita e mais alta, possui um orifício de secção quadrada onde entra espiga do veio que desse modo, ela remata e com ela é solidário. A segurelha encaixa num rasgo cavado á sua feição no centro da face inferior da andadeira, impedindo-a de encostar ao pouso e imprimindo-lhe assim o movimento que recebe do veio. Ela é, portanto, a ultima peça do aparelho motor que o liga ao aparelho de moagem propriamente dito.(2)

AGUILHÃO E RELA: Na extremidade da pela está cravado um aguilhão que gira na rela encaixada no cabouco. Tanto a rela como o aguilhão terão sido feitos inicialmente de seixos duros do rio: o aguilhão oblongo e a rela espalmado. Chegou a durar cerca de dois anos podendo-se ainda trocar as posições de atrito.(2)

URREIRO E ALIVIADOURO: O urreiro é uma peça de madeira, um simples barrote, em que se fixa a rela que suporta o veio. Apoia uma das pontas numa parede e é suspenso pela outra do aliviadouro, varão de ferro de secção circular que depois de atravessar o sobrado vai terminar perto das mós, num dispositivo - a tarracha - que permite um pequeno curso de movimentos verticais: são estes que elevam ou baixam o conjunto carreto e mó andadeira, e permitem uma farinha mais ou menos fina. (2)

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(1) Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras - Placa Informativa afixada na azenha

(2) Martins, Jorge A. Reis - T.I.M.S. Portugal - The International Molinological Society

https://abrunhosa.blogspot.com/2006/04/moinhos-de-gua.html

Gravura em https://olesantoferna.blogspot.com/p/construcao-do-moinho.html

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