Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Exposição no Museu Berardo mostra trabalhos dos candidatos ao BesPhoto

CCB

Exposição no Museu Berardo mostra trabalhos dos candidatos ao BesPhoto

01.02.2010 - 18:46 Por PÚBLICO

Os trabalhos de André Cepeda, Filipa César e Patrícia Almeida - os artistas candidatos ao maior prémio de fotografia português - podem ser vistos a partir de hoje, às 22h, na exposição da 6ª edição do prémio BesPhoto, no Museu Colecção Berardo, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Fotografia de André Cepeda, um dos candidatos ao prémio 
Fotografia de André Cepeda, um dos candidatos ao prémio ()


Os artistas, que foram seleccionados por um júri composto pelos críticos de arte e comissários Delfim Sardo, Miguel von Hafe Pérez e Nuno Crespo com base nas exposições que realizaram o ano passado, apresentam propostas bem diferentes.
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André Cepeda (1976) foi escolhido por Ontem, exposição da Galeria Zé Dos Bois (ZDB), e River, na Pedro Cera. O júri considerou que havia "consistência de apresentação" nos dois projectos, que retratam realidades e contextos sociais, e viu neles "um amadurecimento notável das formas expressivas do autor". Nas fotografias deste artista vemos uma mulher nua encolhendo a barriga; um casal a ter relações sexuais; quartos com ar desolador nas chamadas "Ilhas", casas construídas em banda e com instalações sanitárias colectivas. Cepeda sentiu necessidade de fotografar o que se encontrava à sua volta, o quotidiano.

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Filipa César (1975), a artista mais conhecida dos três finalistas, foi seleccionada pelos projectos Le Passeur, na Fundação Ellipse; Rapport/ Raccord, na Galeria Distrito Cuatro, em Madrid, e The Four Chambered Heart, na Galeria Cristina Guerra, em Lisboa. O júri apontou "as qualidades fílmicas de documentário" do projecto Le Passeur e destacou nele "o olhar fotográfico consciente da tradição retratística do fotógrafo", considerando que esta relação está também bem explícita nos outros projectos da artista. Filipa descobriu que Castro Marim tinha sido um destino de degredo e que durante o Estado Novo as mulheres homossexuais eram enviadas para lá.
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A exposição Portobello (e livro de autor), apresentada na Galeria ZDB e no Art Allgarve 2009, valeu a Patrícia Almeida (1970) a chegada a esta fase do BesPhoto. Neste caso o júri realçou "o olhar pessoal e atento da artista sobre um contexto social específico" e salientou a importância da publicação do livro. No caso de Patrícia não se trata simplesmente de mostrar fotografias, mas de convidar o leitor ou espectador a visitar atmosferas (como os festivais de Verão).
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Cada artista recebeu uma bolsa de produção para a realização desta exposição que ficará até 4 de Abril. Um júri internacional escolherá depois um vencedor para o prémio de 25 mil euros que em edições anteriores foi entregue a Daniel Blaufuks (2006) e Edgar Martins (2008).
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Fotografia

O amor invadiu a exposição do Prémio BES Photo

por MARIA JOÃO CAETANO  Diário de Notícias - 01 Fevereiro 2010

O amor invadiu a exposição do Prémio BES Photo
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Os três finalistas mostram seus projectos, a partir de hoje e até 4 de Abril, no Museu Berardo. Só um irá ganhar 25 mil euros
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"A coisa mais importante da vida, aquilo que nos faz acordar todas as manhãs, é o amor. É o que fica se nos tirarem tudo o resto." Quem o diz é o fotógrafo André Cepeda mas, vendo bem, podia ser qualquer um dos outros finalistas do Prémio BES Photo. A paixão espalha-se pelo Museu Berardo (no Centro Cultural de Belém, em Lisboa) onde, esta noite, se inaugura a exposição que reúne as propostas de André Cepeda, Filipa César e Patrícia Almeida. 
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Escolhidos pelo júri composto por Delfim Sardo, Miguel von Hafe Perez e Nuno Crespo, pelas exposições que fizeram em 2009, os três artistas (que receberam uma bolsa de produção para esta exposição) apresentam-se com os pés bem assentes na terra. Não se trata de fotojornalismo nem sequer de fotografia documental mas a verdade é que esta é, muito provavelmente, a edição do BES Photo em que as imagens estão mais presas à realidade que representam. Sem abstracções, nem manipulações, nem instalações.
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Há um grupo de jovens em fato-de-banho na berma do rio. Um par apaixonado - ela a rebentar uma borbulha na testa dele. Vegetação. Um mergulho. Para o seu projecto All beauty must die, Patrícia Almeida foi aos festivais de música de Paredes de Coura e do Ermal. "O romantismo, uma certa ideia de comunidade e a paisagem são os eixos" desta exposição com fotografias, um vídeo e algumas citações que tanto podem ser de poetas românticos como William Blake ou John Keats como de músicos dos anos 70 como Neil Young ou The Byrds. Uma mistura que começa logo no próprio título, referência a Keats e a Nick Cave.
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Dissemos romantismo? Foi através de um anúncio no jornal que André Cepeda encontrou o casal disposto a ser filmado para a peça que está no centro da sua exposição. "É um casal em que existe verdadeiramente um sentimento de amor trágico, de último amor, pois esse casal perdeu tudo. Eles vivem sem nada. Disseram-me que se não fosse o amor que sentiam um pelo outro já estariam loucos, separados. Isso tocou-me de tal forma que quis filmar o que eles sentiam." Ao longo de um minuto e meio, vemos três planos de um casal nu, abraçado. "Eles estão parados, mas sabemos que é um filme por causa da respiração." O filme é acompanhado por cinco fotos de outros pares - duas colunas, dois pássaros, duas árvores, etc.
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Podiam ser duas mulheres - aquelas que por causa do seu amor foram degredadas para Casto Marim e inspiraram o trabalho de Filipa César. Tem um vídeo documental (Memograma) com entrevistas a historiadores sobre o caso de Castro Marim e tem depois um vídeo ficcional (co-realizado por Marco Martins com a colaboração das actrizes Mónica Calle e Joana Barrios) onde se conta a história como poderia ter sido filmada. A Filipa César, mais do que o amor, interessa-lhe a memória e a dualidade entre o que é visível e o que não visível. Interessa-lhe tornar visível. A trilogia completa-se com uma fotografia baseada na censura que em Portugal se fez ao filme As Lágrimas Amargas de Petra von Kant. 
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A exposição fica patente até 4 de Abril. Um júri internacional seleccionará o vencedor da 6.ª edição do BES Photo que irá receber os 25 mil euros do prémio
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Fotografia

Amor, festivais e degredo em exposição no BES Photo 2010 - vídeo

por André Rito, Publicado em 01 de Fevereiro de 2010   - Jornal i
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A sexta edição traz ao Museu Colecção Berardo o melhor da fotografia artística feita em Portugal
André Cepeda publicou um anúncio num jornal e descobriu a história de um casal em dificuldades. 
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Filipa César quis encontrar uma antiga professora de antropologia, em Castro Marim, mas acabou embrenhada na história de um lugar onde se escondiam os homossexuais no tempo do Estado Novo. Patrícia Almeida passou o Verão de 2009 a fotografar os contrastes do urbano e o rural nos festivais da Ilha do Ermal e de Paredes de Coura. Estes são os três pontos de partida que se cruzam na 6ª edição do BES Photo, cuja exposição começa hoje, no Museu Colecção Berardo, em Lisboa, e termina a 4 de Abril.

O projecto de André Cepeda parte de um filme com apenas quatro planos para fazer uma reflexão sobre o amor. "Cada plano distingue-se da fotografia apenas pela respiração". Na imagem amarelada, projectada numa sala escura, surge um casal despido e abraçado, sugerindo a ideia de vulnerabilidade. "Quis tentar perceber aquilo que nos faz acordar todos os dias, o que nos mantém vivos e com forças para lutar. E a conclusão é que o amor é o motor de tudo."

O trabalho, intitulado "Ontem" e que será brevemente publicado em livro, conta a verdadeira história de um casal que perdeu tudo depois de ser vítima de uma burla. Os planos do filme são complementados por uma série de fotografias cruas, expostas numa sala ao lado, e que evidenciam a ideia de união: dois bonsais, duas colunas, duas tomadas de electricidade e dois pássaros dentro de uma gaiola.

O pecado que virou sal Realizado anualmente, o BES Photo premeia o que melhor se faz na fotografia artística em Portugal. Na edição de 2009, o vencedor foi Edgar Martins (mais tarde protagonista de um desentendimento com o "New York Times", por manipulação digital de imagens). Este ano, o júri - Delfim Sardo, Miguel Von Hafe Pêrez e Nuno Crespo - escolheu três artistas portugueses, com base nas suas exposições realizadas entre 2008 e 2009.
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Filipa César foi seleccionada graças aos projectos "Rapport/ Raccord" e "Les Passeur", este último dedicado a histórias de fronteira. Em Janeiro de 2009, a artista decidiu visitar uma antiga professora em Castro Marim e descobriu a história que viria a inspirar a exposição. "Foi um local considerado degredo desde a idade média até ao século XIX". Era ali que se "escondiam" os homossexuais e os presos políticos durante o Estado Novo. O interesse estratégico (a mão-de-obra para as salinas) é retratado num filme de ficção a preto e branco, onde os enormes montes de sal extraído "representam o acto de esconder algo". "O filme é uma textura sobre a ideia de ostracismo, de individualizar e esconder", explica a cineasta.
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Patrícia Almeida, que foi seleccionada para esta edição do BES Photo graças a "Portobello", trabalho que esteve exposto no ano passado na galeria ZDB, apresenta no Museu Colecção Berardo uma série de fotografias dos festivais da Ilha do Ermal e Paredes de Coura. A artista focou-se "essencialmente na parte funcional do evento": "Interessou-me não tanto o tema mas aquele lugar e tempo, a possibilidade de encontrar e fotografar estas pessoas fora do seu habitat." O resultado é um conjunto de 15 imagens e um filme acompanhados pelas letras de Neil Young e Nick Cave. 
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