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Uma video-instalaçäo com seis vídeos, criados a partir da animaçäo de 3.300 fotografias com 120 câmeras pinhole. Como foi a experiência da bolsa de residência em artes na Alemanha? Fale um pouco sobre o trabalho (de fôlego) desenvolvido lá.
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Meu processo acaba sendo muito trabalhoso e cansativo mesmo. Nos dois últimos trabalhos, em Outeiro e Alexanderplatz [Alemanha], precisei da ajuda de outros artistas, principalmente durante a tomada das fotografias. Precisei fotografar sequencialmente e ao mesmo tempo de seis vistas diferentes para ter uma grande vista em 360°. Impossível fazer sozinho. Então nos dois trabalhos precisei da ajuda de outros artistas: em Berlim, de um grupo de artistas portugueses, o coletivo ‘O Piso’; e em Belém (Outeiro) de alguns amigos envolvidos com fotografia - Michel Pinho, Fábio Hassegawa, Luciana Magno, Bruno Assis, Daniel Cruz, Ionaldo Filho e Veronique Isabelle. Em Belém, além de ajudarem com a tomada das fotos, meus amigos participaram do processo de construção das câmeras e finalização dos vídeos. Em Berlim, usei parte das câmeras construídas em Belém. E precisei fazer sozinho o escaneamento e montagem final dos vídeos. Então nesses dois trabalhos meu processo acaba se coletivizando, o que é muito bom pra concepção que tenho e pro que me atrai nesse trabalho com fotografia pinhole. Tive a oportunidade de fazer uma exposição, espaço, estrutura e tempo para pensar e realizar meu trabalho autoral. Mas, muito mais que isso, tive a oportunidade de conhecer outra cultura e sua produção artística contemporânea. Vi muita coisa. Tive contato com artistas de vários lugares do mundo. Conheci seus processos de criação. Fui a muitas exposições de arte contemporânea e a muitos museus, não só em Berlim, mas em outros lugares da Europa. Por tudo isso, foi uma experiência riquíssima.
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Eu me interesso pela potência poética dos acidentes, acasos e “erros” que ocorrem no processo artístico. Não me interessa a precisão, a alta definição da imagem e todas essas coisas que são vendidas pelo mercado da fotografia como necessário para se fazer uma “boa” foto. Gosto de explorar justamente o outro lado: uma certa subversão do meio.
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Como foi que despertou a sua curiosidade pelos métodos mais artesanais na fotografia?
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Durante as oficinas ministradas na Fundação Curro Velho. Foi um grande laboratório pra mim. Tudo o que eu achava que era possível fazer, incentivava os participantes a construir. Aprendi muito durante essas oficinas observando as experiências dos alunos e aproveitando para experimentar coisas junto com eles também. .
.E como é o processo de finalização desse material? É aí que a tecnologia entra em cena?
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Sim, mas na verdade não domino muito essa tecnologia, às vezes utilizo programas simples. Normalmente preciso apenas animar as fotografias, não é tão complicado. A base de meu trabalho é a baixa tecnologia, mas sempre preciso usar uma tecnologia mais sofisticada para finalização. O que há é a adição de uma nova linguagem e de novas possibilidades para utilizarmos em nosso processo de criação. Tenho utilizado câmeras simples de fotografias (saboneteiras digitais) e celulares para fazer vídeos. Esses aparelhos, apesar da tecnologia embutida neles, são muito simples perto das câmeras de vídeo e fotografia com tecnologia de ponta. Gosto de “brincar” com suas “precariedades”, subverter seus programas e funções para chegar ao resultado que me interessa. Mas tenho feito algumas experiências que voltam ao suporte do papel fotográfico. São quimiogramas: desenho com químico sobre papel fotográfico. Fiz uma série de retratos utilizando essa técnica que também me atrai pela falta de controle sobre o resultado que se obtem no final.
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Fotógrafo convidado do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, você ministra a oficina ‘Fotografia para brincar de fotografia’ de 31/3 a 3/4. Como será a dinâmica dessa “brincadeira”?
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Será a dinâmica da experimentação. Quando comecei a fotografar, aprendi a obedecer certas regras e passos para se obter uma boa revelação e uma boa cópia no laboratório. Nesta oficina, não teremos regras para experimentação, tudo será permitido.
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Você foi repórter fotográfico do Diário do Pará. Sente falta da rotina apressada das redações?
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Trabalhei no Diário durante quase três anos, foi minha primeira experiência como repórter fotográfico. Foi um grande aprendizado pra mim. Depois de um ano longe das redações, confesso que começo a sentir falta da “rotina” de vivenciar os bastidores da vida. Essa é a grande experiência que tive como repórter fotográfico.
A fotografia paraense é respeitada no grande centro do Brasil. Lá fora, é difícil dizer... lá fora somos brasileiros. Na Europa, conversando com outros artistas, sempre que dizia que era brasileiro me perguntavam se era de São Paulo ou Rio de Janeiro. É a referência que eles têm do Brasil ali. Daí, começávamos um papo sobre a diversidade cultural brasileira. Então eu começava a falar de Belém e sua riqueza cultural.
(Amanda Aguiar - Diário Online)
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