Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

domingo, 21 de março de 2021

o Mosteiro de Alcobaça

 * Victor Nogueira


(rolo 359)


(1967)


(1967)


(rolo 371)



(rolo 224)


(rolo 224)



(fachada do dormitório)

 Fachada lateral na praça 25 de Abril  (rolo 229)

Visitamos Alcobaça, onde chegamos já de noite, com uma chuva miudinha que cai continuamente. É uma vila simpática onde se destaca a fachada comprida do respectivo mosteiro, da Ordem de Cister, situado destacadamente na Praça 25 de Abril: uma Igreja ao centro, dum amarelo rendilhado, exuberante, contrastando com a horizontalidade branca e ascética dos dois corpos laterais. Corpos que nas outras fachadas estão escurecidos e degradados, resultado das "conservações" para turista ver. O Mosteiro, considerado Património Mundial desde 1989, não é esmagadora e massivamente impositivo à povoação circundante, como o de Mafra. A Praça está ajardinada e num dos passeios de calçada à portuguesa figuram, oh! céus, os signos do Zodíaco. Num recanto umas carroças miniaturais com toldo, presumivelmente bancas do mercado que de dia ali terá lugar. 

(...) Foram poderosos os frades da Ordem, dona das ricas terras agrícolas (coutos) em redor e dos seus habitantes, do interior até ao mar.  (Notas de Viagem, 1997.10.31)


Para além de descobrir o castelo, como se refere em nota de rodapé anterior, visitamos a igreja do Mosteiro, cujas portas estão inopinadamente abertas. É um choque a visão daquela nave branca, ladeada duma floresta de colunas, elevando-se para os céus. De cada lado antes do altar-mor, maravilho-me com os túmulos góticos de D. Inês e D. Pedro I, finamente lavrados, cujas estátuas jacentes estão suspensas por anjos. As arcas tumulares assentam em leões (D. Pedro) e em pessoas que me parecem monges ou nobres (D. Inês) e cada uma delas conta em quadros (baixo relevo), respectivamente e por um lado, a vida e morte de Cristo, e por outro a vida de S. Bartolomeu e dos dois amantes. (Notas de Viagem 1997.12.08)


Relicário (rolo 371)


Presépio (rolo 371)

Numa nova visita passamos para além da igreja do mosteiro, passeando pelos claustros e pela sala do capítulo, defronte da qual existe um lavabo. Visitámos a sala dos reis, com estátuas de todos eles até determinada altura, para além duma série de peanhas vazias, talvez porque entretanto não tivessem concluído a estatuária por extinção das ordens religiosas; inexplicavelmente, do D. Manuel I salta para o D. José, sendo a peanha da filha deste, vazia, mais larga que as restantes. Reparámos na floreada porta para a sacristia, tomámos consciência da vastidão do dormitório, do refeitório (com o seu púlpito encrustado na parede) e da cozinha, na qual passa um braço do rio Alcoa e onde antigamente se guardaria o peixe vivinho da costa antes de passar aos caldeirões. Na sala dos reis, que foi panteão real, até transferirem os túmulos para outra sala, existe um painel de azulejos que pretende contar uma história, afinal inventada, relacionada com a coroação de D. Afonso Henriques, pelo papa e pelo fundador da ordem de Cister! As arcas tumulares daqui transferidas têm menos riqueza decorativa relativamente que as de D. Pedro e D. Inês. (Notas de Viagem, 1998.02.21)


NOTA - William Beckford nas suas «Recollections of an Excursion to the Monasteries of Alcobaça and Batalha», realizadas nos finais do século XVIII, refere a opulência da vida dos frades, nada condicente com as Regras iniciais. Por outro lado os Abades tinham-se tornado poderosíssimos, e nas suas vastas terras havia os coutos, onde se refugiavam criminosos fugidos à justiça d´El Rei, que neles não podia entrar. E deste modo conseguiam os frades braços para cultivarem as suas imensas terras, com porto de mar, com métodos agrícolas inovadores para a altura.

Tão poderoso era o Abade que nas terras de Alcobaça, em momento de aflição, não se gritava "Aqui d'El Rey" mas sim "Aqui, do Abade". Os povos queixaram-se a D. João I das prepotências da Abadia, mas as suas súplicas pela Justiça d'El Rey não foram atendidas, dado o poder imenso da Ordem.


Alcobaça - Mosteiro (Panteão Real) - Este é um dos vários panteões dos reis, rainhas e princípes de Portugal, a par dos da Igreja do antigo Mosteiro de Santa Cruz (Coimbra), do Mosteiro da Batalha (Aljubarrota), da Igreja do Mosteiro de São Vicente de Fora (Lisboa) e do Mosteiro dos Jerónimos (Lisboa). 

Também a Igreja de Santa Engrácia (Lisboa) se destinava a Panteão Real, mas a centenária morosidade na conclusão das suas obras ("obras de Santa Engrácia", expressão que significava morosidade e inacabamento) inviabilizam-no, acabando por tornar-se já no século XX e após a implantação da República, Panteão para os Heróis e Glórias da Nação, tão ecléctico que nele repousam desde Almeida Garrett a Aquilino Ribeiro e a Sofia de Mello Breyner (a 2ª mulher), dos ditadores Carmona e Sidónio Pais democraticamente coabitando com adversários como Manuel de Arriaga e Humberto Delgado, este assassinado pela PIDE a mando de Salazar, na Presidência de  ... Carmona. 

Depois de Amália, outras glórias se pretende que lá repousem,  como o futebolista Eusébio ... Mas quem fala em José Afonso ou na assalariada rural alentejana morta pela GNR quando reclamava "Pão e Trabalho". ou em Bento Gonçalves, morto no Campo de Concentração do Tarrafal com muitos outros presos políticos, ou em Dias Coelho, escultor, assassinado pela PIDE numa rua de Lisboa ?

Lá está  ele a meter a política  em tudo, dir-me-ão algumas das minhas leitoras mais ou menos fiéis. Pelo que ...

... o convite hoje é para uma deambulação pela vila de Alcobaça e alguma da sua história. e do Mosteiro cujo Abade era tão ou mais poderoso que o Rei de Portugal, a tal ponto que nos seus domínios se gritava em pedido de socorro "Aqui do Abade" e não "Aqui d'el Rey". Vasto domínio criado na terra de ninguém entre  os cristãos a norte e os muçulmanos a Sul, "revolucionou" a agricultura na região. Com os tempos os seus frades e o Abade "renderam-se" a prazeres pouco ascéticos, a eles se podendo aplicar a expressão  "Comeu como um Abade" ou "Gordo que nem um Abade", desse estado falando um viajante inglês William Beckford nas suas Memórias.

«Os primeiros túmulos reais
Dentro da igreja encontram-se os túmulos dos reis D. Afonso II (1185-1223; túmulo datado de 1224) e D. Afonso III (1210-1279). Os túmulos situam-se dos dois lados da Capela de São Bernardo (contendo a representação da sua morte), no transepto sul. Diante destes túmulos, numa sala lateral, posicionam-se oito outros túmulos, nos quais se encontram D. Beatriz, mulher de D. Afonso III, e três dos seus filhos. Um outro sarcófago pertence a D. Urraca, a primeira mulher de D. Afonso II.

Não se conhece a história dos outros sarcófagos, estando estes, hoje em dia, vazios, após terem sido novamente selados entre 1996 e 2000. O edifício lateral, nos quais esses sarcófagos se encontram actualmente, foi construído na sequência dos estragos causados pela grande inundação de 1774. A partir do século XVI, os sarcófagos encontravam-se no transepto a sul e, anteriormente, provavelmente na nave central.






(Fotos jj castro ferreira)

D. Pedro e D. Inês de Castro - Os sarcófagos
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Quando subiu ao trono, D. Pedro I tinha dado ordem de construção destes túmulos para que lá fosse enterrado o seu grande amor, D. Inês, que tinha sido cruelmente sentenciada à morte pelo pai de D. Pedro I, D. Afonso IV (1291-1357). Este pretendia, também, ser ele próprio ali enterrado após a sua morteOs túmulos de D. Pedro I (1320-1367), com o cognome O Cruel ou também O Justo, e o de D. Inês de Castro (1320-1355), que se encontram agora em cada lado do transepto, conferem, ainda hoje, um grande significado e esplendor à igreja. Os túmulos pertencem a uma das maiores esculturas tumulares da Idade Média.

As cenas, pouco elucidativas, representadas nos túmulos, ilustram cenas da História de Portugal, são de origem bíblica ou recorrem simplesmente a fábulas. Por um lado, esta iconografia é bastante extensa, sendo, por outro lado, muito discutível.»


Mosteiro de Alcobaça (dormitório dos frades) - 1998.02.22

«Dormitório
Em seguida, abre-se uma porta para o Dormitório. Esta escada foi somente descoberta em 1930, quando se fizeram as obras de renovação. O Dormitório, que se localiza no primeiro andar, tem o comprimento de 66,5 m e a largura de 21,5 m até 17,5 m sobre o lado oriental total da parte medieval da abadia, tendo deste modo uma área de perto de 1300 m². 

Na forma actual e restaurada, o Dormitório apresenta-se na sua forma medieval original. Na parte superior do lado sul, o Dormitório é aberto por uma grande porta ogival que dá acesso ao transepto norte da igreja. Antigamente, e nesse local, existia uma escada permitindo o acesso à igreja, cumprindo-se assim uma lei cisterciense que obrigava a que o dormitório possuísse duas entradas de acesso. Na parte superior do lado norte do Dormitório encontravam-se as latrinas, que se encontravam obrigatoriamente separadas por uma sala à parte – lei estipulada de igual modo pelos usos cistercienses. As águas eram escoadas para o jardim do lado norte da abadia. 

Os monges dormiam no Dormitório todos juntos e totalmente vestidos, sendo separados apenas por uma separação móvel. O abade possuía uma cela própria. Naquele tempo, era esta a disposição existente na maior parte dos mosteiros. A meio do lado ocidental, há uma porta estreita que dava acesso a uma escada em caracol, que hoje dá acesso à cozinha e, na Idade Média, permitia a entrada no Calefactório (ver abaixo). Por este lado, havia também acesso ao claustro superior. 

O Dormitório foi sendo alterado ao longo dos séculos. No início do século XVI, adquiriu um segundo chão, inserido mais ou menos ao nível do capitel dos pilares, continuando a existir um pé direito suficiente. Supostamente, era neste lugar que os noviços dormiam. 

Por baixo, na metade a norte, foram construídas salas, que eram utilizadas como biblioteca (até à construção da nova Biblioteca em 1755), e como arquivo. No lado sul foram construídas celas, uma vez que, com o alargamento do novo Mosteiro à volta dos claustros, que se encontravam a oriente, este tipo de alojamento substituía as velhas salas de dormir. No lado oriental, através dos alargamentos, o dormitório adquiriu um terraço de acesso directo. Em 1632, foi acabada a fachada Norte do Dormitório. Esta fachada foi coroada com uma estátua do fundador da abadia, D. Afonso Henriques. 

No ano de 1940, e no âmbito da restauração, foi eliminado o segundo chão inserido anteriormente. O Dormitório, tal como hoje é visível, é hoje uma sala de três naves de enormes dimensões, utilizado fundamentalmente para eventos culturais como, por exemplo, exposições.»

in WIKIPEDIA https://pt.wikipedia.org/wiki/Mosteiro_de_Alcoba%C3%A7a


Mosteiro de Alcobaça (refeitório dos frades) - 1998.02.22
«Refeitório
A oeste e ao lado da nova cozinha encontra-se o Refeitório, constituído por uma sala com três naves, com as dimensões de ca. de 620 m² (29 x 21,5 m). Por cima da entrada encontra-se uma inscrição em latim de difícil interpretação: respicite quia peccata populi comeditis (lembrem-se que estão a comer os pecados do povo).
A sala impressiona pelas suas proporções harmónicas, possuindo janelas tanto do lado norte como a leste. Do lado oeste, uma escada de pedra conduz ao púlpito do leitor, que lia textos espirituais durante as refeições.
Os monges sentavam-se com os rostos virados uns para os outros e tomavam a sua refeição em silêncio. O abade estava sentado com as costas viradas para a parede a norte. No lado oeste da ponta a sul, o Refeitório abria-se para a antiga cozinha medieval, hoje uma sala lateral, que conduz ao claustro de D. Afonso VI. Alguns metros à frente, encontra-se na mesma parede uma abertura de dois metros de altura e 32 cm de largura, que conduz à sala, não existindo nenhuma explicação para ela. A estreita porta, ao contrário do que se pensa, servia como meio de ligação para com o exterior do mosteiro, para passar refeições aos pobres.
Os danos causados pela transformação em 1840 do Refeitório num teatro foram remediados durante a sua restauração.»





Claustro de D. Dinis ou do Silêncio - 1998.02.22 (rolo 229)

O primeiro claustro e a igreja foram possivelmente completados em 1240. No entanto, é provável que o claustro se tenha desmoronado. Entre 1308 e 1311 ele foi substituído pelo ainda hoje existente Claustro de Dom Dinis ou Claustro do Silêncio, nome que se deve à proibição de conversação naquele tempo nesse local. O seu comprimento à volta é de 203 m e o seu pé-direito tem uma altura média de 5 m. Por ordem do rei D. Manuel I (1469-1521), no início do século XVI, foi adicionado um segundo andar, o sobreclaustro. O acesso ao piso superior do claustro efectua-se por uma escada em caracol na parede, interligando também a cozinha ao dormitório. (Wikipedia)

Gárgula




Pormenores da fachada principal (rolo 371)


Vista aérea de Alcobaça postal ilustrado VN

Rio Alcoa (rolo 229)

VER

Mosteiro de Santa Maria de Cós (Alcobaça)


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