* Victor Nogueira
foto JLCF - Porto, Natal de 1949, na Travessa da Carvalhosa, a 1ª vez que estive em Portugal
VER 1949 / 50 - em Portugal
Porto - Natal de 1969, na Rua Fernandes Tomás
Foto jjcf - Natal em Paço de Arcos - Rui Pedro, João Filipe, Celeste, Teresa, Susana, Zé Luís, Carlos.
2019 12 24 NOTA PRÉVIA - Nos Trópicos ou no Equador, não há neve, mas há outras crianças vítimas da fome, da guerra, da doença ..... (vn)
De Augusto Gil, em Luar de Janeiro
Balada da Neve
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
- e cai no meu coração.
2014 12 24 Foto victor nogueira - Mindelo - não, não é uma avioneta mas um tractor com reboque aspergindo o campo relvado onde daqui a umas semanas brotará o milho no milheiral. O renque de árvores ao fundo - a cerca duns 500 m - foi cortado depois do passado Verão deixando à vista os edifícios da área de serviço da estação de gasolina e do minicentro comercial na chamada recta do Mindelo, que vai até Vila do Conde, cerca de 5 km a Norte.. Enquanto não urbanizarem e retalharem o terreno, permanecem a vista e a paisagem desafogadas.
2014 12 24 Jorge de Sena (poema) e Portinari (quadro)
Natal de 1971
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Ou de quem traz às costas
as cinzas de milhões?
Natal de paz agora
nesta terra de sangue?
Natal de liberdade
num mundo de oprimidos?
Natal de uma justiça
roubada sempre a todos?
Natal de ser-se igual
em ser-se concebido,
em de um ventre nascer-se,
em por de amor sofrer-se,
em de morte morrer-se,
e de ser-se esquecido?
Natal de caridade,
quando a fome ainda mata?
Natal de qual esperança
num mundo todo bombas?
Natal de honesta fé,
com gente que é traição,
vil ódio, mesquinhez,
e até Natal de amor?
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm,
ou dos que olhando ao longe
sonham de humana vida
um mundo que não há?
Ou dos que se torturam
e torturados são
na crença de que os homens
devem estender-se a mão?
Jorge de Sena
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Cândido Portinari (1903-1962), Retirantes, 1944, óleo sobre tela, 190 x 180 cm, Coleção Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand São Paulo, Brasil.
2013 12 24 Feliz Natal, Amigos, por Ana Wiesenberger
Feliz Natal, amigos!
Que a paz e a harmonia
Derramem uma luz suave
Sobre a vossa mesa
Que os rostos se alumiem
Em júbilo e calor
Pela dádiva da partilha e da união
Que vos faz felizes lado a lado
Na consoada e na vida
Feliz Natal, amigos!
Que todos os sorrisos e os risos em redor
Sejam feitos de verdade e não de hipocrisia
Que o tempo seja de amor
E todos os ressentimentos sejam perdoados
Feliz Natal!
O Natal que desejámos viver
Em cada minuto
Promessa de raízes, sal e sangue que sustém
A alma frágil num itinerário comum
Feliz Natal!
Libertai o amor universal
Calai o ódio
Realizai Fraternidade
Ana Wiesenberger
24-12-2013
2013 12 24 Obviamente que este não era o natal dos pobres em Portugal nem da maioria dos angolanos ou dos povos das outras colónias, mas o duma minoria, hoje em extinção acelerada na Europa ! Naquele tempo era o Natal em que as casas de penhores aceitavam tudo - objectos do quotidiano - em troca dum empréstimo eventualmente resgatável e não - como hoje - apenas metais preciosos para derreter, definitivamente perdidos ! (Gravura - Volpedo - O 4º Estado)
2011 12 24 Natal, por Yolanda Botelho
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Ary dos Santos . Meu Camarada e Amigo
Revejo tudo e redigo
meu camarada e amigo.
Meu irmão suando pão
sem casa mas com razão.
Revejo e redigo
meu camarada e amigo
As canções que trago prenhas
de ternura pelos outros
saem das minhas entranhas
como um rebanho de potros.
Tudo vai roendo a erva
daninha que me entrelaça:
canção não pode ser serva
homem não pode ser caça
e a poesia tem de ser
como um cavalo que passa.
É por dentro desta selva
desta raiva deste grito
desta toada que vem
dos pulmões do infinito
que em todos vejo ninguém
revejo tudo e redigo:
Meu camarada e amigo.
Sei bem as mós que moendo
pouco a pouco trituraram
os ossos que estão doendo
àqueles que não falaram.
Calculo até os moinhos
puxados a ódio e sal
que a par dos monstros marinhos
vão movendo Portugal
mas um poeta só fala
por sofrimento total!
Por isso calo e sobejo
eu que só tenho o que fiz
dando tudo mas à toa:
Amigos no Alentejo
alguns que estão em Paris
muitos que são de Lisboa.
Aonde me não revejo
é que eu sofro o meu país.
in "Resumo"
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