* Victor Nogueira
O escultor João Duarte tem em Setúbal quatro esculturas em espaços públicos, conhecidas como as "meninas gordas", cuja inspiração são segundo ele as Vénus pré-históricas e os modelos de Rubens, embora me façam recordar as esculturas e pinturas do colombiano Fernando Botero. Inauguradas a longo dos últimos anos, elas são "A menina com bicicleta", "A menina da mala", “Menina com cadeira” e "Dolce Vita"
«O escultor explica a sua obra.
Das vénus pré-históricas, símbolos de fecundidade à sensualidade luxuriante das mulheres gordas da pintura barroca e romântica de Rubens, que encontram o seu natural prolongamento na pop-arte, e agora no meu lirismo sensual, tal perspectiva histórica, tão antiga quanto recente, não se esgota, antes adquire hoje uma pertinente actualidade, ao confirmar o íntimo acordo que sempre existiu entre a arte e a natureza, entre o arquétipo de beleza, que exalta o que é gordo e cheio, e a sabedoria popular que diz ”Gordura é formosura”.
Nesse âmbito o insólito, o grotesco e o fantástico estão na génese dos trabalhos que estou a apresentar na parte velha da cidade de Setúbal.
São figuras com formas convexas, redondas e repletas, cheias e prenhas, com expressão pela totalidade das suas formas e pelo modo como essas formas se enchem, discursando sobre seres sempre em repouso. São contemplativas, mas têm contemplações do prosaico ao poético
A escultura “ menina c/ cadeira”, é uma figura dessas, com a suavidade e a harmonia, devolvida ao quotidiano dos mortais, vivendo dum modo simples e prazenteiro, a garridice feminina, o abandono lúbrico de quem aguarda o tempo provável da fecundação.
Ela manifesta uma enorme volumetria das aparências, feita de grandes sínteses, com expressão poética, com um genuíno amor às coisas e aos prazeres simples da vida que eu expresso num jeito natural e despreocupado.
Divirto-me com a lógica das proporções, caricaturando o real, mas sem perder o sentido da amabilidade da carícia, num jogo de volumes sintéticos, em que conjugo as intenções satíricas e o afloramento lírico, sem agressividade corrosiva, sempre com um humor expressionista terno.»
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