Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

segunda-feira, 5 de julho de 2010

CineTua arranca



 3,2,1 Câmara Acção, ou Projecção!

O Cinema no Tua arrancou! Partimos de Lisboa rumo a Trás-os-Montes, mais precisamente para Mirandela, e começámos a viagem pelo maravilhoso mundo das aldeias ribeirinhas do Tua.
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Na mala levámos um projector, um sistema de som, um lençol, um computador, filmes da linha do Tua e uma vontade enorme de ouvir as populações que ficarão mais directamente afectadas com a eventual construção da barragem e destruição da Linha do Tua. A escuta do sentir das populações é o nosso objectivo principal, aquilo que nos traz a Trás-os-Montes.


As primeiras projecções


As projecções começaram na Sexta-feira, dia 02 de Julho, na aldeia do Castanheiro, concelho de Carrazeda de Ansiães, no meio das festas de S. Pedro. Cerca de 60 pessoas assistiram ao filme! 
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Preparação para a  projecção
No dia seguinte, fomos para a Brunheda, onde mais cerca de 60 pessoas estiveram presentes. Domingo fomos para Codeçais, onde de novo projectámos o filme, desta feita dentro de uma sala, onde estiveram cerca de 40 pessoas.
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A receptividade tem sido bastante boa à chegada do CineTua. Todas as aldeias têm configurações diferentes e em todas elas surgem discussões que têm tido dinâmicas diferentes, apesar de a tónica ser muito semelhante: a vontade das pessoas expressarem a sua opinião e demonstrarem o seu desagrado pelo fecho da linha do Tua.

Audiência em CodeçaisAquilo que mais nos contam
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Muitas vezes ouvimos:
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"A barragem a nós não nos serve de nada"; "A nossa zona produz tanta electricidade, mas somos a região de Portugal que mais paga por KW"; "Querem melhor potencial para o turismo que uma linha como esta?"; "Mesmo para a agricultura, a água será cara e de má qualidade e não precisamos de uma barragem para ter água"; "Não era melhor ter mini-hídricas ao longo do rio Tua?"; "As barragens ao longo do Douro só trouxeram mais miséria àquelas populações"; "A linha do Tua traz muito mais emprego do que a barragem trará"; "Estamos cada vez mais isolados"; " Se o Sócrates vivesse aqui, já não deixava construir a barragem".


Falar da história do Tua

Nestas aldeias vivem muitos antigos ferroviários, que nos contam sobre a história e as estórias dos últimos 30 anos da linha. Uma história que passou de uma actividade dinâmica, com muitos empregos na manutenção e funcionamento da linha, para uma realidade de abandono. A linha afinal já estava abandonada muito antes de os comboios terem parado. Uma explicação para os acidentes que vieram a acontecer?


O Sentimento de impotência

Até agora percebemos que as populações mais afectadas com a construção da barragem e a paragem gradual da linha do Tua têm podido expressar a sua opinião de forma muito limitada, sendo que quando o fazem não são ouvidas. Demonstram o sentimento de se sentirem desamparadas, sozinhas e cada vez mais isoladas. O poder central é demasiado distante e autista, o poder local incoerente e obscuro nas suas declarações e decisões.


Acima de tudo esta experiência é uma aprendizagem enorme, que depois se deseja tornar viva, usando-a para construir a vida e a sociedade que as populações desejam.
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