Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

domingo, 3 de janeiro de 2010

2009 - Balanço da Associação Portuguesa de Arte Fotográfica


 

domingo, 27 de Dezembro de 2009


2009 - balanço de um ano de crise

O ano de 2009 chega ao fim com alguns motivos de reflexão. Neste ano que agora finda sentiram-se mudanças no mercado da arte, mudanças que não deixaram incólume a fotografia. O grande gigante oriental que é a China, depois de se tornar uma força incontornável na política, na economia e na questão ambiental, assume-se igualmente como o terceiro mercado mundial da arte. Fotógrafos chineses são cotados nos mercados de arte internacionais e expõem em grandes galerias de Londres, Nova Iorque ou Paris. Concertado ou não, este movimento demonstra visão política e pragmatismo cultural, sabendo-se que a cultura é uma forma de afirmação política com retorno económico. Que bonito seria que uma qualquer instituição cultural portuguesa, eventualmente dependente do Ministério da Cultura, tivesse uma efectiva política de promoção dos artistas nacionais, muito para além da atribuíção de subsídios e muito mais de resultados a médio prazo no mercado internacional da arte. Como primeiro passo bastava parar para pensar.
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É certo que em 2009 a euforia especulativa deu lugar à prudência, fazendo com que alguns valores artificialmente inflacionados se tenham reduzido até ao seu valor real, num paralelo com a discrição adquirida por algumas das fortunas do leste europeu. Na fotografia aconteceu o mesmo. Em resumo, o risco foi trocado pelos valores seguros, o que foi acompanhado pelas instituições bancárias que hoje estão menos disponíveis para investir em arte ou conceder empréstimos para esse fim. Alguns coleccionadores particulares e Fundações retraíram-se nas suas compras e investimentos, apesar dos coleccionadores serem hoje quem comanda o mercado.

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Será que vivemos uma situação de crise na arte e no coleccionismo? É claro que não. Trata-se apenas de uma purificação do mercado, em que a falta qualidade se esfuma e se mantém apenas o que realmente tem valor.  Deveria também fazer pensar todos os fotógrafos, alguns dos quais na net e nas revistas pensam “fazer arte” ou ficam surpreendidos pelo facto de não venderem o que esperam quando expõem numa parede. Não é também uma situação nova, ocorrendo ciclicamente, o que faz com que muitos dos que chegam às galerias e ao coleccionismo mais baseados na força dos euros em vez dos conhecimentos sejam duramente castigados, lembrando a quem compra e a quem vende o valor da seriedade do trabalho e da qualidade. É também o momento em que o mercado fica mais limpo e vale a pena investir.  É evidente que este ambiente de cautelas tem consequências na procura de novos criadores, na vitalidade dos agentes culturais ou na vida económica das grandes feiras de arte. Ou seja, a instabilidade do mercado tem consequências nos criadores, que não só vendem menos, como se mostram menos motivados à criação, quer pela queda nas aquisições quer pela menor disponibilidade psicológica. Claro que há excepções  quando vemos em Lisboa o Museu Berardo a apresentar obras da sua colecção com She is a Femme Fatale – um novo percurso pela Colecção Berardo ou quando vemos a Galeria Baginski a expandir as suas instalações e a sua carteira de fotógrafos. São esses gestos que nos levam a acreditar que 2010 será um ano melhor que 2009. 

quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009


Por cá...nada se move

Comprei hoje a Aperture, uma revista de fotografia a que dou alguma atenção. E confesso que fiquei triste. Fui atraído não apenas pelos trabalhos de Walker Evans, mas também pela fotografia compenporânea iraniana e pelos trabalhos de Nan Goldim. Até aqui nada de novo, é apenas mais uma (boa) revista com preocupações de mostrar coisas novas. Depois, lembrei-me que há uns dias tinha também comprado a Images Magazine e ali vinham duas excelentes reportagens, uma sobre a 8ª Bienal de Fotografia Africana, com imagens esteticamente inovadoras, além de uma excelente reportagem sobre a Paris Photo, de cuja edição de 2009 tive o privilégio de ver algumas exposições em finais de Novembro. O tema era a fotografia iraniana e dos países árabes, tendo sido apresentados trabalhos de grande valor conceptual e de uma abrangência estética notável.
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E por cá? No campo da arte em geral há notícias animadoras e que revelam a existência de valores de projecção internacional. A directora da Experimenta-Design, depois de muitos anos a tentar convencer as entidades públicas do valor da iniciativa, foi convidada para comissariar a programação do La Gaité, um novo núcleo cultural em Paris. Isabel Carlos, directora do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian vai integrar o júri do Prémio Turner, em 2010.
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E na fotografia? Tirando uma ou outra exposição, como a de Jorge Molder na Gulbenkian, da persistência de alguns fotógrafos, estou a lembrar-me de repente do nome de António Júlio Duarte, dos projectos irreverentes da Kgaleria, do trabalho persistente da Pente 10 ou do trabalho social e cultural do Movimento de Expressão Fotográfica, o panorama é desolador. Continuamos a apresentar velhas fórmulas já gastas de tanto vistas. Continuamos a fotografar como se estivessemos nos anos oitenta e nenhum mal daí viria se ao menos tivéssemos consciência disso e o assumissemos esteticamente.
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Entretanto mudámos o governo. Pensava eu (ingénuo!) que também mudavam as políticas de apoio à fotografia. O Centro Português de Fotografia, que depende do Ministério da Cultura, vai fazendo algumas exposições como de uma qualquer galeria se tratasse. Não ensina a fazer ou a ver exposições. Deixou de apoiar a descoberta de novos valores da fotografia. Não sabemos quais as recentes incorporações de obras e espólio. Nada se sabe da orientação de projectos e a sua actividade continua restrita ao norte do país, apesar de nacional. Sabemos sim e vem hoje nas páginas do Público, que os estudantes de fotografia do Instituto Politécnico de Tomar estão acampados, no átrio principal da escola, em protesto contra a falta de condições no ensino da fotografia. Sabemos que os novos valores só são episodicamente vistos numa ou outra galeria ou em iniciativas como os Encontros de Imagem de Braga. Se quiséssemos falar de um movimento da nova fotografia portuguesa, talvez para apresentar em algumas iniciativas a decorrer em Paris ou Nova Iorque, não sei o que acharíamos para mostrar. É que por cá...nada se move. 
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Publicada por APAF em 16:19
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