Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

fotografiafalada, por Fernando Lemos

26 Novembro, 2009


 fotografiafalada



Ferrnando Lemos, Lygia Fagundes Telles, s/d, s/l
Fernando Lemos © Colecção Fundação Cupertino de Miranda


Há novas fotografias a sair dos negativos de Fernando Lemos. Fotografias nunca antes vistas publicamente e aqui divulgadas em primeira mão. O artista que criou as primeiras imagens fotográficas surrealistas em Portugal – mostradas na polémica exposição da Casa Jalco, em Lisboa, em 1952 – andou a vasculhar o seu arquivo a pedido da Colecção Fundação Cupertino de Miranda (Vila Nova de Famalicão), onde hoje é inaugurada uma exposição que já inclui as novas imagens. Enquanto as cópias estavam a ser ultimadas no laboratório, falámos com Fernando Lemos sobre este regresso a uma série marcante, cheia de retratos de amigos. O fotógrafo gosta de dizer que foram “actos amorosos”

Fiquei positivamente surpreendido ao ver estas imagens ampliadas com papel de alta qualidade. Ganharam outra energia. Tenho recordações de muitos dos retratados. Estas fotografias eram actos amorosos. Eram gente da oposição, não iam na conversa do Estado Novo. Vivíamos clandestinamente, fazíamos encontros às escondidas para mostrar e falar sobre as coisas que íamos criando. Estes retratos, de uma forma geral, representam muito para mim.


Fernando Lemos, Agostinho da Silva, s/d, s/l
Fernando Lemos © Colecção Fundação Cupertino de Miranda


Com este trabalho, há essa coisa que eu considero boa que é todos os retratados se terem tornado cúmplices do jeito de eu fazer a fotografia. Ninguém se aburguesou para tirar um retrato. Com gravata ou sem gravata, não interessava. Há muitas com dupla exposição, como eu gostava de fazer para mostrar as mudanças de fisionomia que vamos tendo de um instante para o outro. O retrato não é uma coisa estática. Eles saborearam muito isso.

Fernando Lemos, Willys de Castro, s/d, s/l
Fernando Lemos © Colecção Fundação Cupertino de Miranda

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Estes retratos nunca foram mostrados. Foram tirados dentro de um grupo de amigos e conhecidos no início dos anos 50. (…) Tenho muitos outros, mas achei que não valia a pena ampliá-los porque os negativos não estavam bons. É um pouco do Brasil que trouxe. As minhas amizades, as minhas relações. (…) Esta série é inédita até pela técnica. Talvez seja a última vez que esteja a tirar as imagens dos negativos originais. Há muito que não mexia neles. Ficaram com umas “bexigas” [marcas brancas, impurezas…]. O tempo vai deixando a sua marca.
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(Fernando Lemos, P2, Público, 27.11.2009)
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Fernando Lemos - Fotografia
Fundação Cupertino de Miranda, Vila Nova de Famalicão
Até 26 de Fevereiro
Post de Sérgio B. Gomes
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