Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

fotos de capa em janeiro 04

 * Victor Nogueira



Maria Emília - Porto 1920.01.04 Setúbal 2013.04.19
-  com 3 anos de idade (foto de estúdio)


2020 01 04 Foto de família- Hoje a Maria Emília (1920 - 2013), 2ª a contar da esquerda, celebraria o seu 1º centenário


2019 01 04 Em Paço de Arcos, foto victor nogueira - Maria Emília  (Porto, 1920 . Setúbal 2013). Hoje comemoraria 98 anos


2018 01 04 Maria Emília - Porto 1920.01.04 / Setúbal 2013.04.17 - Do livro dos finalistas dos cursos de  engenharia (1943)

As quadras contradizem o destino que não quis seguir, mas sim ser uma mulher independente e não uma prendada "fada do lar", apesar de devotada à família e às amizades.

LÁGRIMAS, um dos escritos de Maria Emília, a Milaças

Sonhei com um amor que não vivi
E perdido o encanto de viver,
Mortos os afagos que não senti,
Afundei-me num sombrio abismo.

Lágrimas profundas embaciaram
Meus olhos cansados deste vazio.
Cheios de amargura se ofuscaram
Não visionrando um longínquo clarão.

As lágrimas são alívio da dor,
Também de solidão e tristeza,
Deixando que se perca o calor.

Dum grande amor que não chegou a florir.
As lágrimas secarão por encanto
E meus olhos voltarão a sorrir


2017 01 04 foto de família - Luanda 1951 - baptizado do meu irmão José Luís. Hoje - 04 de Janeiro - a minha mãe faria 97 anos

ACOMPANHAMENTO MUSICAL - Chopin -Nocturno en do menor Op 48 Nº 1 (pianista  Arthur Rubinstein) in 



2016 01 04 maria emília - fases da vida ou as marcas do tempo (fotos de estúdio) - Porto 1920.01.04 / Setúbal 2013.04.17


2015 01 04 foto victor nogueira - maria emília -a chegada a Campanhã - Porto 1920.01.04 - Setúbal 2013.04.19


2014 01 04 Foto de estúdio em Luanda


Maria Emília - Porto 1920.01.04 Setúbal 2013.04.19
Manuel - Porto 1921.09.04 Setúbal 2013.06.06
Zé Luís - Luanda 1951.05.29 Paço de Arcos 1987.02.26
Victor Manuel - Luanda  1946.01.05 - ........

Fernando Pessoa - (Álvaro de Campos)
 
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais       copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, 
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

15/10/1929

Sem comentários: