* Victor Nogueira
1969
Silêncio.
Violência. Brusquidão. Violinos e piano defrontam‑se de novo. Implacavelmente o
piano tenta impôr-se. Consegue, com alguma luta. Os violinos aceitam a derrota
e rendem‑lhe homenagem. Ele aceita‑a do alto da sua vitória. Os sons ora
dialogam, ora competem entre si. Os violinos são os árbitros. Parece que nada
mais pode deter o piano, soltito, com ternura, com delicadeza, umas vezes, com
altivez, outras. Ah! os outros silenciaram‑no.
Mas ele debate‑se, liberta‑se, corre, surdo à majestade dos violinos.
Está sozinho. É perseguido, tenta fazer‑se ouvir. Mas é tarde! Este final
soberbo, empolgante, arrebatador! (NSM -
1969.01.23)
CENAS DO JARDIM
geometricamente desconfortável
artificial
No coreto
a banda tocava.
Além
caridosamente
alguém partilhava com os
"jardineantes"
as goelas do transístor escancaradas
No banco
ao meu lado
uma matrona e uma gaiata conversam
banalmente,
"Puxa a mala um bocadinho mais para baixo.
Isso! Assim!
Para que te não vejam as pernas"
E eu sorrio-me
por entre a sisudez duma "Introdução à
Vida Política"
Pobres e ridículas gaiatas!
Pobres e ridículas matronas! (POE 1969.02.24)
O
rádio transmite neste momento a valsa O
Danúbio Azul [de J.Strauss]. E eu deixo‑me levar na onda dos seus
acordes, vogando liberto deste quarto deserto. Mas a valsa terminou e alguém
pediu um disco dum tipo qualquer que pede à querida que relembre os momentos felizes, para que ele
possa esquecer todo o seu amargor. É o programa do Matos Maia. A malta telefona,
repete uma frase publicitária, pede um disco e, frequentemente antes de
desligar, pergunta: "Posso dizer o meu nome?" E ficam todos felizes
da costa ! ... Pobres pessoas que se
contentam com tão pouco! (ASV - 1969.02.29)
Neste
momento ouço um disco da Rita Olivais. As músicas são
calmas, repousantes. Parece que os sons musicais vão caindo ou talvez brotando
de alguma saída. Os poemas, quanto a mim, nada de especial têm. Mas alguns dos
versos, a forma como representam as ideias, são, a meu ver, felizes. E a música
valoriza‑os bastante.
O disco terminou e surge agora o Adriano Correia de Oliveira. Os versos dele são um pouco diferentes. Ou não fossem muitas das letras do Manuel Alegre. Mas a poesia deste (duma "Praça da Canção" são panfletárias demais, falsas. Ouvir uma Trova do Vento que Passa ou Canção com Lágrimas ou lê‑los é muito diferente. Ao lê‑los parecem‑me inautênticos, talvez porque só me agrade aquilo que sinto, que me diz alguma coisa. O que não sucede com os poemas do Manuel Alegre. (MED - 1969.04.28)
Vivaldi
é um compositor muito
agradável de ouvir‑se. A sua música é sonora, alegre, colorida! (NSF -
1969.12.12.)
1970
A
tarde cai e do gira-discos evolam‑se as notas da "Dança Macabra", que de macabra nada tem. (NSF -
1970.05.17)
A
tarde está tristonha. Dos alto-falantes do gira‑discos saem as notas da "Rapsódia Húngara" de Liszt. Não há dúvida que
o piano é um instrumento agradável de ouvir. E a Rapsódia Húngara nº 6?! Dá
uma sensação de afirmação persistente, que nunca se quebra. Mas uma das minhas
composições preferidas é o "Concerto para piano, nº 1", de
Tchaikowski. (NSF - 1970.03.21)
À "Rapsódia Húngara" de Liszt (o piano é maravilhoso!) junta‑se o chilrear dos pássaros no telhado, o ronronar duma avioneta pelos ares e o ruído abafado do trânsito na Praça do Giraldo, aqui a dois passos. (NSF - 1970.05.17)
1971
Escrevo‑te e ouço a "Sagração da Primavera" do Stravinsky.
Sou doido! Estou endividado, preciso urgentemente de renovar o meu inestimável
guarda‑roupa, não quero pedir dinheiro para casa, não sei como ganhá‑lo
... E continuo a gastá‑lo em livros e
discos! Sei que não devo fazê‑lo, que ficarei chateado por isso, mas continuo a
fazê‑lo. (NSM - 1971.01.14) (*)
Como única companhia nesta tarde o José Afonso, melhor, a voz do Zeca Afonso,
que sai dos alto‑falantes e enche o quarto, mas não a minha alma, demasiado
grande para a minha alma tão pequena. (NSF - 1971.02.28) (*)
Como sempre ouço música. Desta
feita o meu amigo Vivaldi e os seus
concertos, que têm algo de primaveril, recordando bosques e pássaros e riachos.
(NID - 1971.04.05)
(…) obrigado pelo tecto que me abriga, pela luz que me
ilumina,
pela
música que ouço
obrigado pelo Zeca Afonso, pelo Vivaldi
obrigado pelos livros, pelo Steinbeck pelo Jorge Amado,
pelo
Manuel Alegre e pelo António Reis
obrigado por tantos eles
obrigado pelo ramo de flores,
pela
erva no telhado, pequenas florestas galgando montes (…) (POE 1971.04.14)
Bach
é agora um hino à alegria. Se fosse traduzir por imagens o que ele me desperta
falaria de flores cujas pétalas se abrem lentamente, ao retardador, de qualquer
coisa de esvoaçante, de saltitante, duma sensação de leveza. Bach permitiu que
se rompessem os diques feitos das recusas, das negações, das violências destes
dias de exames, calor e frustração. (MCG - 1972.07.14)
A D.Teresinha lá ficou. "Entrou de
férias", tendo ido contrariada para Barrancos. Não sei se regressará.
Depois de vocês partirem e como fora vaticinado, passou a visitar‑me. Mas o
respeitinho é muito lindo e ficava muito caladinha sentada numa cadeira,
ouvindo música. (MCG - 1971.08.14) (*)
(...) É depois do jantar. Um enorme cansaço, desolador, entorpecedor,
tem‑se estado apoderando da minha cabeça. Completamente alheio enfiei a comida,
acabando primeiro que os outros, uma grande irritação pela barulheira do rádio
na cozinha (sempre a merda ruidosa do rádio), um enfado pelas desajeitadas
tentativas do sr. Marquês para tirar‑me do meu
alheamento, do meu mutismo, a despedida brusca. Todo este cansaço, todo este
desalento, pelo clarão súbito da última página, pela consciência de que todas
as nossas relações são um jogo cujas regras (subconscientemente) sabemos (mas
não queremos admitir), que toda a vida é uma enorme representação teatral, um
palco mundano. (Lembras‑te, Shakespeare? Lembras‑te, Stau Monteiro da
"Angústia para o Jantar"?)
(NSM - 1971.12.01/03) (*)
Pronto. Lá arrefeceu tudo ao pegar na caneta para dizer do meu espírito, do que nele se passa. Esvai‑se‑me por entre os dedos e nas mãos apenas o resto do que não é. No gira‑discos, Strawinsky. É ao lusco‑fusco, o candeeiro aceso defronte a mim, enquanto o Rocha tira apontamentos do "Rapport Sur la Situation Sociale dans le Monde en 1963", edição da ONU ([2]). Apesar do aquecedor, tenho os pés gelados. Estou enfiado no roupão. O silêncio é perturbado apenas pelo leve respirar, os ruídos das canetas deslizando rápidas pelas folhas, o roçar das mangas nas mesas. (...) O Rocha pôs outro disco: Bach, uma cantata. (NSM - 1971.12.01) (*)
O meu fiel amigo permite que o Luís Góis cante para mim, neste momento, a "Toada Beirã" Ontem à noite o Carlos [Nunes da Pont] esteve cá em casa. Tencionava ir ao cinema para ver "Sete Noivas para Sete Irmãos", mas atrasei‑me a escrever, mudando por isso de planos, o que permitiu‑lhe encontrar‑me. Estivemos a conversar até às tantas. (NSM - 1971.12.02) (*)
1972
Aqui em casa novamente; a tua carta amiga e cordial diante de mim, Zorba no gira‑discos, uma vontade doida, que acordou esta manhã comigo, uma vontade doida de bailar até ao delírio para cansar sei lá o quê ... as tensões pela alegria e pela impossibilidade da tua presença ... Mas o importante és tu e a alegria ao pensar-te. Como ficaria ou me sentiria se aceitasses namoro ao Diogo? É parva, a miúda! Sei lá como ficaria ou me sentiria se isso acontecesse! Vê lá se queres que eu me estenda ali na cama a pensar no que sentiria se.... Somos demasiado cautelosos para nos comprometermos e, portanto, somos livres de fazermos o que quisermos (ou pensamos ser o nosso querer); continuando com as nossas interessantes conversas sem nada de concreto, podendo dar‑lhe o significado que queiramos. Apenas sei dizer‑te que gosto da tua maneira de falar e de escrever - reflexo teu - e que sinto um enorme desejo da tua presença, do teu riso, do teu corpo, em suma, de ti. E sei também que a minha maneira de ser, a minha frieza e austeridade, se não permitem que eu viva tão intensamente como desejaria, também não me deixarão morrer. Eduquei‑me para nunca me entregar totalmente e deixar sempre assegurada a retirada. Esta é a única resposta que posso dar á tua questão hipotética. (MCG - 1972.07.06) (*)
Estirado no divã,[do meu quarto] olhos fechados, o Carlos [Nunes da Ponte] ouve as gravações [de órgão] que efectuou no sábado - algumas composições de sua autoria, outras de Bach. Está contente com a sua genialidade. (MCG - 1972.07.10 - ?) (*)
São 12:30. [Em Paço de Arcos] ouço o portão chiar e assomo á janela ... e não vejo ninguém (Algum miúdo que entrou e saiu, penso eu). Mas eis que batem com a aldraba na porta. Abro‑a e lá está o carteiro no gesto habitual, mão estendida com as cartas (hoje, apenas carta!) Cumprimentamo‑nos e agradecemos mutuamente. Fecho a porta. Regresso á sala de estar, pego na tesoura para abrir o sobrescrito, que resguarda as notícias da Celeste. "Olá, mocinho! Tenho apenas 21 anos dizem‑me (a idade das, de algumas liberdades consentidas) ... " e continuo numa surpresa crescente, como a quem se revela numa faceta até aí ignorada. Todo eu sou uma crescente surpresa estupefacta! Apago o gira‑discos - que transmite canções do Nelson Eddy. Estou agradavelmente surpreendido e preciso de concentrar‑me para perceber isto tudo, estas linhas inabituais. Volto ao princípio. Releio com os olhos, com a inteligência, com sofreguidão, com todo o meu ser, para aperceber‑me duma Celeste desconhecida. Surpreso, não tanto pelo conteúdo, mas pela forma, pela linguagem invulgar (nela). É verdade que há alguns "senãos". (Não me apercebi ainda, p. exemplo, que ela soubesse que existe uma "certa técnica" aprendida, de beijar). Continuo a ler e, repentinamente, tudo se desmorona, numa enorme decepção. "Não Victor, tens razão, o palavreado não é meu ... "
Resta‑me pois saber como é a personagem dum conto de [Urbano] Tavares Rodrigues com quem te queres identificar. É uma curiosidade desenganada que fica em mim. (MCG - 1972.09.06) (*)
Ali o José Emílio pergunta‑me se estou escrevendo as minhas memórias, entre uma garfada de arroz e outra de carne. (...) É depois do jantar. Chove e as pingas caiem descompassadamente no cimento, lá em baixo no pátio. O rádio transmite uma música solene e majestosa que não identifico
O Aristides vai folheando um livro de poesia e divido a minha atenção entre o que escrevo e o que ele me diz. - lá vou dando conta do recado (O Aristides comenta o Fernando Pessoa dizendo que é poesia de salão). (MCG - 1972.10.12)
O tempo já convida a vestir‑se o roupão, acender o aquecedor e ficar‑se pacatamente em casa, ouvindo música ou conversando, quando não se joga uma partida de cartas (MCG - 1972.10.30)
rodeada dos seus amores
a Guida
com
Bach e Beethoven
com
as "humanidades"
com
a Poesia (POE - 1971.07.24) ([3])
De que vou falar te, eu que neste momento consideraria a felicidade suprema chegar a casa e sentar me numa poltrona confortável, com Bach ou Mozart no ar e talvez amigos - ou amigas - o corpo sereno sem dentes cerrados! Mas não tenho dinheiro nem livre curso ao meu dinamismo em algo que me entusiasme! (MCG - 1972.11.20)
1973
Cheguei agora do Arcada. Já foi tempo de arrumar a livralhada, despir o casaco, ligar o aquecedor e pôr no gira‑discos "Pequena Serenata Nocturna" de Mozart. Estou fatigado. Uma tarde inteira com o Camilo e ainda não começamos a redigir o texto-base provisório do nosso trabalho para Planeamento Social - análise das contradições entre os princípios e objectivos do III Plano de Fomento, para 1968/73. (MCG - 1973.02.02) (*)
O inverno, lá fora, voltou com a chuva e o frio, e também o nariz entupido e a cabeça pesada pela constipação; silenciados o gravador e o gira‑discos (agora sem Bach ou Mozart) enquanto o rádio vai transmitindo música latino‑americana e alguém faz ouvir os seus passos pelo corredor antes de fechar a porta. Passo a mão pela cara e é lixa; com mais uns dias seria uma penugem sem aspereza. Sinto‑me engordurado e gostaria de ter tomado um bom banho que o frio pelo vidro partido e a constipação não determinaram. As pontas do bigode incomodam e não encontro o espelho nem uma tesoura pequena para apará‑lo. Será que ao botá‑lo abaixo perderei o "it"? (MCG - 1973.03.11) (*)
Verdadeiramente o quarto até parece outro,
mesmo atendendo à evolução na continuidade. Que não gostou muito da
brincadeira foi a D.Vitória,
que ficou enxofrada por eu ter posto no corredor a abominável moldura do
espelho da cómoda. Ao regressar a casa hoje aquilo estava de novo no meu
quarto, arrumado embora num canto. Quando desci a ilustre senhora começou a
mandar vir, que aquilo ficava no meu quarto e mais blá‑blá que me ia
enchendo as medidas. Enfim, disse‑me que me alugou o quarto para dormir e se eu
queria uma sala de convívio que alugasse um apartamento. (!) Ah! Ah! Ah! ... e este até tem sido um
ano sossegado: pouca gente vem para cá para o paleio e para ouvir música ou
estudar como nos primeiros anos, nem as meninas ([5])
ainda cá puseram os pés, como algumas de outrora, muito menos tendo eu feito
qualquer tentativa nesse sentido. Enfim, a gente tem de desculpar os nervos dos
outros! (Aquilo deve também ser por causa das fotografias e posters "imorais e contra os bons
costumes". " Porcarias e palhaçadas", como doutras vezes
desabafou). Mas o problema é que o monstro acima referido não ficará no meu
quarto. Vamos deixar arrefecer o copo de água e quando a vozinha estiver menos
agreste e o olhar menos sofredor atacarei novamente, desta vez com um sorriso
Pepsodent, que doutro modo não vai a ilustre senhora. (MCG - 1973.03.13)
Os ares lá por casa andam tempestuosos. Começou já não sei bem porquê, continuou no dia em que paguei a pensão e deve ter piorado ontem: o João Luís e a Maria Antónia estiveram no meu quarto, á tarde, ouvindo música. A D.Vitória não grama o João Luís e uma rapariga lá em cima - ai Jesus, credo, que lá se vai o bom nome da minha casa! Para além disso o João Luís não tem o mínimo sentido das conveniências, o que de modo algum serve para lançar água na fervura. (MCG - 1973.03.20) (*)
O céu está novamente azul e a tarde vai a meio. (...) No gira‑discos, música do século XVII, de Corelli. Nada condizente com a desarrumação que vai pelo quarto, com livros e papéis pelo divã, conjuntamente com as calças que a D. Vitória nunca arruma naquele simulacro de guarda‑fatos (MCG - 1973.05.01)
Podia falar‑te da tristeza sem sentido desta vida que levo. Da necessidade de agarrar o presente com ambas as mãos. Do nenhum entusiasmo ao avistar anteontem à noite as luzes de Évora. A viagem [de regresso da Amareleja] foi rápida, com minutos de silêncio, outros de conversa animada e outros de busca desesperada de palavras, no negrume da noite, com a estrada deslizando sob nós, o rádio transmitindo música e as pontes aparecendo bruscamente na curva da estrada, dois parapeitos brancos, esguios, varridos pelos faróis do automóvel. Chegados ao burgo, deixada a Marília e [outro] em casa, foi a busca dum lugar para estacionar. As aulas recomeçaram, mas ... quero ir‑me embora. É quase uma obsessão. Évora e o Instituto não são apenas o negativo. Mas é ele que sobressai. Obsessivamente. O Diogo e eu temos falado. Como dantes. Quanto á Adélia ... tenho de dar‑lhe a desculpa dos seus quinze anos! Quanto á D. Vitória tem‑me recebido com um sorriso bom. O sorriso que não tenho á minha volta nem dentro de mim. O Orlando tem feito grandes estádios no meu quarto. Por causa da máquina de escrever. O Camilo lá anda, com a verborreia do costume, um enorme trabalho de fim de curso (três caloiros a trabalharem para ele). O Carlos [Nunes da Ponte] com a pacatez habitual. O Guerreiro com os seus problemas, intolerável porque só descobre defeitos e motivos de críticas a mim. Sou a válvula de escape dele. Muito lhe deve aturar a Elvira! (MCG - 1973.11.20) (*)
1974
Apetecia‑me ir a casa de alguém, com uma
poltrona confortável, ouvir música ou conversar. (...) A partir de 6ª feira
os jornais diários passam a custar 2$50. Tudo aumenta, minha gente.
(1974.01.30)
No Arcada o João [Garcia], a
Filomena, o Camilo, o
Zé Pinto, o Ribeiro, o
"Chinês" e o irmão cantavam em coro desde as cantiguinhas da primária
("Ó Rosa, arredonda a saia", "Tia Anica de Loulé"...) às
excursionistas ("Santa Catarina", "Rapsódia Portuguesa"
...) passando por cânticos gregorianos e
pelos coros alentejanos e canções da Beira Baixa. Enfim, uma grande audição, no
café cheio e entretido com outros assuntos. (MCG - 1974.02.11) (*)
[Em Goios] Na varanda coberta e fechada e comprida para onde dão os quartos de dormir a família aguarda o compasso. O primo Adelino tem o gravador aos berros, transmitindo música de ranchos folclóricos. É uma música mexida e movimentada, própria para bailar. Gosto muito mais da música alentejana. (MCG 1974.04.16)
Acabei de jantar: o [Emídio] Guerreiro e eu comprámos comida no "snack" Camões e viemos de abalada até casa com um carregamento de salada russa (bah!), filetes de pescada (estavam bons mas tinham espinhas) e borrego assado com ervilhas (saboroso, mas a carne era tanta como os ossos). Meio queijito (que o Guerreiro tinha) e maçãs (que tenho ali) e fizemos a festa por 38$50 cada um. Ah! esquecia‑me, como fundo musical a "Pequena Sinfonia Nocturna", de Mozart. A cadeira (desmontável) que a minha mãe me deu permite um sentar confortável. Gosto muito de estar sentado nela: estuda‑se bem. (1974.04 24)
No gira-discos “Donovan" interpreta "Atlantis", quase abafando o cair da chuva no pátio, neste entardecer cinzento, que seguramente apagará as fogueiras de S. João. São 20:15 e a tua presença enche‑me os sentidos e a memória como se estivesses aqui junto a mim. Já é tarde e não me apetece ir jantar a casa do sr. Rolo. Não consegui almoçar senão um prego e um copo de leite, pois os "turistas" tomaram de assalto as tascas, cafés e restaurantes. (MCG - 1974.06.24)
1975
A mesa é pequena e está atulhada de livros,
empilhados uns sobre os outros. O rádio transmite música, aos soluços, Faz‑me
falta o gira‑discos, mas não tenho local para colocá‑lo aqui no quarto. Está um
domingo frio, enevoado - anteontem à noite choveu - e resolvi ligar o
aquecedor. (MCG - 1975.01.13)
Estou
ouvindo música assassinada, isto é, música clássica adaptada e interpretada por
um tal Waldo dos Rios (o tal do "Hino à
Alegria") e sua orquestra. (1975.06.29)
[1]
- Do filme Zorba, o Grego.
[2] - Organização das
Nações Unidas.
[3]
- Do poema "á Guida sem
amor hoje", escrito em 1971.07.24
[4]
- Mesa redonda, coberta, com braseira em baixo, ao centro,
[5]
- Hóspedes da casa.
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