Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

domingo, 1 de agosto de 2010

Impulso para a fotografia


IMAGEM

Impulso para a fotografia

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Tiago Santana, autor de "Benditos": importantes livros de fotografia foram viabilizados através da lei de renúncia fiscal
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1/8/2010
A lei de incentivo possibilitou a fotógrafos como Celso Oliveira, Tibico Brasil e Tiago Santana o lançamento de livros registrando sua produção

A criação da Lei Estadual de Incentivo à Cultura deu uma reviravolta na vida dos artistas das mais diversas áreas. Considero o que de mais importante aconteceu nos últimos anos no Ceará. Até então, quase não havia publicação de livros de fotografia, nem aqui, nem no Brasil". As palavras do fotógrafo carioca Celso Oliveira, que adotou o Ceará para morar e trabalhar há mais de 30 anos e vem fazendo um precioso registro artístico das manifestações culturais e festas populares do povo nordestino, traduzem a importância da lei para os fotógrafos locais.

Quinze anos depois da publicação do belíssimo "Mar de Luz", que reuniu imagens feitas por mais de 30 profissionais que tinham na gaveta registros de um Ceará pouco conhecido, o cenário é outro. "Para nós, poder contar com incentivos fiscais da classe empresarial foi determinante. Tiramos da gaveta 20, 30 anos de filmes. Ainda era tudo analógico", recorda Celso. "Participamos diretamente dos debates, das reuniões. Toda a classe artística foi convidada a dar sugestões. Tinha muito quebra-pau, porque cada um queria fazer valer suas ideias. Mas, se cometemos erros, foi por descuido, não por intenção".

Em 1996, os amigos Tibico Brasil e Tiago Santana, além do próprio Celso Oliveira, que já tocavam o foto-arquivo "Tempo de Imagem", transformaram a empresa na editora pioneira no setor no Ceará. "Lembro do José Guedes, Roberto Galvão, Gentil Barreira, Augusto Pontes, Francis Vale, Glauber Filho, Rosemberg Cariry, José Albano, Márcio Figueiredo, e muitos outros, buscando fazer valer essa possibilidade de realizar projetos. Tínhamos poucas referências".

O "Mar de Luz" trouxe consigo, literalmente, uma grande exposição no então recém-criado Instituto Dragão do Mar, com as paisagens das praias e falésias do interior do Ceará, ampliadas em imagens de 2m x 3m. A mostra percorreu, além de diversas cidades cearenses, lugares como Inglaterra, Nova Zelândia e Estados Unidos.

Difícil prestação de contas

"Realizar o sonho de publicar o litoral cearense foi o primeiro passo. E foi relativamente fácil, porque o conteúdo estava pronto, o trabalho foi somente selecionar o material de cada um. Na verdade, no início, praticamente todos os projetos eram aprovados pela lei", lembra Celso. "Nunca tivemos dificuldade para que as empresas cedessem parte do ICMS, a isenção fiscal exigida pela Lei 12.464. O problema mesmo veio depois, na prestação de contas. Quase nenhum artista estava preparado para fazer isso. Foi nossa maior dificuldade".

Outro livro de muito sucesso publicado através do Fundo Estadual da Cultura, foi "Visões", resultado da parceria entre a escritora Rachel de Queiroz e o fotógrafo Maurício Albano. A união dessas duas personalidades abriu caminho para muitos trabalhos. "O livro ´O Olhar de Cada Um - Unidades de Conservação do Ceará´, por exemplo, foi 80% patrocinado pela lei. Esse trabalho, que pretendemos relançar durante a ECO 2012, no Rio de Janeiro, dificilmente teria sido possível se não fosse esse caminho", destaca Celso.

10 anos de Benditos

Em 2010, o fotógrafo Tiago Santana comemora 10 anos de sua primeira publicação individual, "Benditos", viabilizada através da Lei Jereissati. De acordo com o artista, o incentivo estadual possibilitou a realização de projetos que, normalmente, não teriam espaço através de editoras do circuito comercial.

"Começamos a perceber que o cinema brasileiro, por exemplo, era todo financiado pelas leis de incentivo. Se o cinema, que era uma coisa caríssima, conseguia se viabilizar, por que a fotografia não?", resgata. "Até a regulamentação da lei, praticamente não havia publicações de autor, porque esses projetos não são meramente comerciais. São livros de arte, bens culturais, caros e de retorno a longo prazo. Sem esse mecanismo, talvez o ´Benditos´ não existisse. Claro que houve problemas, mas questões pontuais não podem colocar abaixo o que esse mecanismo tem possibilitado nos últimos 15 anos", avalia.

Hoje o Brasil e o mundo conhecem, além de "Benditos", o outro legado solo de Tiago Santana, intitulado "O chão de Graciliano". "Me dediquei muito. Nesses últimos 15 anos, publicamos, pelo menos, 25 livros, tudo através da lei, realizados em parceria com muitos profissionais, inclusive de outros estados. É um número bastante considerável, se levarmos em contar que, até então, não existia quase nada de produção desse gênero no Brasil".

NATERCIA ROCHARepórter
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