Ao todo são 24 imagens no formato 95cm x 65cm, afixadas em 12 totens pretos e emolduradas com vidro. Elas foram produzidas durante oficinas com os moradores das áreas de alto índice de criminalidade e também do Conjunto Felicidade, Rosaneves e Jardim Metropolitano. De acordo com a coordenadora do programa, Sandra Mara de Araújo Rodrigues, além de proporcionar a capacitação técnica, os encontros viabilizaram também a troca de informações entre os participantes sobre os principais problemas locais.
“A importância do projeto está no fato de que cada comunidade pôde construir um novo olhar sobre si mesma e, a partir dele, articular fatores de proteção. Sob a perspectiva de quem vivencia diretamente os embates, as fotografias propõem a reflexão e a ação para mediar desavenças grandes ou pequenas que surgem no dia a dia”, explica Sandra.
A mostra nasceu como uma resposta às demandas trazidas pelas comunidades. O projeto teve início no ano passado com um seminário de abertura, que teve como sequência as oficinas, realizadas de novembro a fevereiro deste ano. As aulas foram ministradas pelos fotógrafos do grupo Coletivo Agnitio, formado por Henrique Teixeira e Marilene Ribeiro, tendo como convidados ainda os profissionais Daniel Gouveia e Luiza Viana.
Dois eixos
O grupo é parceiro da Seds desde 2006 e tem como foco central de suas oficinas a questão do desenvolvimento das identidades dos participantes. Graduado pela Escola de Belas Artes (EBA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Henrique Teixeira relata que a metodologia utilizada se apóia em uma abordagem que articula dois eixos: o estético, que trabalha o olhar fotográfico, e o antropológico, que ressalta a inserção dos participantes em um contexto cultural.
Cerca de 65 pessoas das oito comunidades participaram do projeto. Segundo Sandra Rodrigues, foram escolhidos moradores que já tinham alguma relação com o programa Mediação de Conflitos. Em cada localidade, pode-se observar um perfil diferente das turmas, no que diz respeito ao gênero e à idade. A moradora da Pedreira Prado Lopes, Valéria Borges Ferreira, de 45 anos, foi uma das alunas da oficina. Ela considera que a grande contribuição do projeto consistiu no despertar de um espírito de comunidade e do desejo de transformação. “Fotografo a Pedreira desde que me entendo por gente. Sempre quis fazer um curso de fotografia, mas nunca tive dinheiro”, conta.
O líder comunitário do Taquaril e cantor de rapp Wilson Wagner Brandão Ribas, de 29 anos, mais conhecido como W2, também avalia positivamente a experiência. Além de proporcionar o aprendizado do manuseio de uma câmera digital, a oficina foi um espaço de troca de ideias sobre os conflitos. A partir das aulas, ele conta que percebeu que uma fotografia, se bem tirada, pode traduzir mais do que palavras e servir de instrumento de reivindicação. “A fotografia poderá auxiliar até na divulgação de grupos culturais do Taquaril”, completa.
Dinâmica
Em cada localidade foram realizados, em média, oito encontros. Durante as aulas os integrantes trabalharam com a sensibilização estética, a vivência técnica e na confecção de um ensaio fotográfico autoral. Depois de discutirem sobre a arte fotográfica e os problemas das comunidades, os participantes escolheram um tema e saíram a campo para fotografá-lo. Valéria Ferreira, por exemplo, teve como foco do seu ensaio os becos da Pedreira Prado Lopes. Ela conta que a escolha se deveu ao fato de se tratarem dos espaços mais problemáticos do aglomerado, devido à ocupação pelo tráfico. “Quando tirei as fotos comecei a ver os meninos com outro olhar, enxergando um lado que não via antes”, afirma a moradora.
A partir de ensaios como o de Valéria, cada comunidade produziu cerca de 1.500 imagens. Todas foram exibidas e discutidas pelos participantes e facilitadores das oficinas, em sessões que duraram, em média, cinco horas. A publicação na internet das 50 fotografias previamente selecionadas possibilitou a escolha de quatro imagens por comunidade e que, após serem impressas, passaram a compor a mostra “Reflito o Conflito”. Todos os participantes têm a chance de mostrar seus trabalhos, no entanto, por meio de apresentação digital.
O rapper W2 destaca que se sente satisfeito com a produção final, pois acredita ter conseguido transmitir o seu olhar sobre os conflitos do Taquaril, em especial na questão da rádio comunitária. Valéria Ferreira também não esconde a alegria frente ao resultado das oficinas. “Tenho fotos da Pedreira desde 1970. Eu sempre sento na rua com os meus álbuns e todo mundo da comunidade vem ver. Sair daqui e ir para o centro, porém foi uma gratificação enorme. Eu não sei se minha fotografia será exposta porque houve uma eleição, mas tenho um orgulho enorme por quem quer que seja”, conta.
A exposição é itinerante e poderá ser vista até o dia 7 de maio em espaços culturais de Belo Horizonte e Ribeirão das Neves. Segundo a coordenadora do programa Mediação de Conflitos, Sandra Rodrigues, foram escolhidos locais centrais, como o Museu de Artes e Ofícios e o Museu Abílio Barreto. A intenção é facilitar o acesso dos participantes e do restante dos moradores das comunidades, além de chamar a atenção da população em geral e propor a reflexão.
Bem avaliada pelos realizadores e pelos participantes, a iniciativa também será realizada no interior de Minas Gerais. Em abril, Governador Valadares sediará a próxima edição do projeto.
Serviço:
Exposição fotográfica “Reflito o Conflito”
Museu de Artes e Ofícios – 23.03 a 26.03
Museu Histórico Abílio Barreto – 06.04 a 09.04
Mercado da Lagoinha – 13.04 a 16.04
Centro Cultural Alto Vera Cruz – 20.04 a 24.04
Arquivo Público Nonô Carlos (Ribeirão das Neves) – 27.04 a 30.04
Salão da Igreja Nossa Senhora das Vitórias (Ribeirão das Neves) – 04.05 a 07.05
Sem comentários:
Enviar um comentário