Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quarta-feira, 3 de março de 2010

André Cypriano - . Fotografia // Arte da resistência

Diário de Pernambuco - Edição de terça-feira, 2 de março de 2010 
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O fotógrafo documentarista André Cypriano andou por onze comunidades negras remanescentes dos quilombos no Brasil. Nenhuma delas fica em Pernambuco, mas todas vivenciam realidades que trazem à tona questões culturais, sociais, econômicas. As fotos resultantes dessas viagens estão na mostra Quilombolas - Tradições e cultura da resistência, que será aberta hoje, às 19h, no Centro Cultural Correios, no Recife Antigo. "Encontrei lugares diferentes, alguns urbanos, outros na mata, no Sertão, com culturas diversas, mas todos volltados à preservação da tradição afro-brasileira', comenta.
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São 27 fotografias em preto e branco no formato 50 cm x 75 cm; sete fotografias panorâmicas (40 cm x 440 cm); seis no tamanho 30 cm x 40 cm, além de dois mapas, painéis de textos e legendas. A mostra tem fotos, por exemplo, do grupo quilombola Mocambo, na comunidade Porto da Folha, em Sergipe; da comunidade Tapuio, em Queimada Nova (PI); da comunidade Cafundó (SP). "Lá encontrei três pessoas que ainda falam uma língua africana; umalíngua fluente, mas que só existe ali. A tribo deles inclusive já foi extinta".
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O principal problema das comunidades visitadas, atesta Cypriano, ainda é a questão da legalização dos seus territórios. "Além disso, é interessante notar o quanto a realidade é distinta da nossa, principalmente nos quilombos que não tem tanto acesso à urbanização. São comunidade mais felizes. De tardinha, ao invés de estarem na frente da televisão, brincam ciranda, jogam futebol", diz. A escolha por fotos em preto e branco, explica o fotógrafo, é por conta da "impressão mais forte. Vejo o preto e branco como uma interpretação e o colorido como reflexo da realidade".
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André Cypriano abraçou o projeto a convite da curadora da exposição, Denise Carvalho. Além da mostra, as fotos também viraram livro (R$ 78), com textos, mapas e pesquisa de Rafael Sanzio Araújo dos Anjos. A mostra já percorreu mais de 15 cidades brasileiras, oito cidades da América Latina e depois do Recife ainda deve seguir para lugares como Macapá, Teresina e Natal.
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Lugares remotos - "Aceitei de primeira esse projeto porque é um tema que tem muito a ver com o meu trabalho, lugares remotos e ainda uma tendência para o raro e extraordinário", comenta. Com o livro sobre os quilombos, já são quatro na carreira do fotógrafo. O último deles é O caldeirão do diabo, sobre um presídio já extinto na Ilha Grande. Cypriano também fotografou a favela da Rocinha e favelas da América Latina, e a capoeira. "Fiz imagens dos grandes mestres do Brasil, inclusive em Pernambuco. É uma exposição que também deve ser levada ao Recife", aposta.
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Apesar dos temas sociais sempre terem permeado as imagens de Cypriano, "os problemas sociais acabam sendo uma consequência, mas não é a minha intenção retratá-los. Meu projeto não é promover mudanças. A Rocinha, com todos os problemas que ela tem, pra mim, naquele momento da foto, é o ideal". O mais importante é que a fotografia retrate emoção. "Se ela mexer com as emoções, é uma boa foto. Os americanos tem até uma expressão, it's all about emotion". (Pollyanna Diniz)
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Serviço

Quilombolas - Tradições e cultura da resistência, até 18 de abril
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Local: Centro Cultural Correios (Av. Marquês de Olinda, 262, Recife Antigo)
Visitação: De segunda a sexta, das 9h às 18h; e sábados e domingos, das 12h às 18h
Entrada franca 
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Exposição fotográfica – Quilombolas – tradições e cultura da resistência

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 Quilombolas – Tradições e Cultura da Resistência, 
exposição do fotógrafo André Cypriano
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Quilombolas – Tradições e Cultura da Resistência

Museu Oscar Niemeyer
Rua Marechal Hermes, 999 - Centro Cívico  Ver Mapa

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A Exposição 

Os descendentes de negros africanos que ainda hoje vivem em comunidades quilombolas, espalhadas por vários Estados brasileiros, resistem ao tempo e preservam a memória de seus antepassados. No Brasil, há cerca de três mil comunidades quilombolas. Nesses pequenos redutos de persistência, perpetuam tradições ancestrais, na culinária, no vestuário, nas danças, nas crenças e na agricultura.  O fotógrafo documentarista André Cypriano revela esse universo através de suas imagens em preto e branco. A exposição tem o patrocínio da ITAIPU BINACIONAL e o apoio do Ministério da Cultura, Governo do Paraná e CAIXA.
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As imagens integram um documentário realizado em 11 comunidades negras remanescentes dos quilombos. Cafundó (SP), Itamatatiua (MA), Oriximiná (PA), Kalunga (GO), Mocambo (SE), Rio de Contas – Barra do Brumado (BA), Conceição dos Caetanos (CE), Tapuio (PI), Curiaú (AP), Mumbuca (TO) e Campinho da Independência (RJ) estão entre os lugares pesquisados e que deram origem ao livro Quilombolas – Tradições e Cultura da Resistência e às mostras. A exibição é complementada pela apresentação de seis mapas, produzidos pelo geógrafo e pesquisador Rafael Araújo dos Anjos. Juntos, o fotógrafo e o cartógrafo retratam os quilombos na atualidade. A pesquisadora e curadora Denise Camargo também integra o trabalho.
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Segundo ela, esse trabalho apresenta um tema “ainda desconhecido para a maioria da população brasileira” e ressalta a importância de discutir a questão dos quilombos no Brasil, “como um espaço de preservação das matrizes africanas ancestrais formadoras da identidade nacional”, conforme declarou ao Fotosite. Denise afirmou ainda que as fotografias “não revelam todos os desafios que envolveram o projeto”. “Não contam as conversas emocionantes que tive com os quilombolas durante a produção da viagem. O André Cypriano, desde que o vi pela primeira vez, mostrando um portfólio na (extinta revista) Irisfoto, dez anos atrás, se mostrou um fotógrafo como poucos. Ele sabe que o que está em jogo em um trabalho como esse é o relacionamento humano. Essas fotografias falam de um enorme respeito pelo outro, pela cultura brasileira, pelas memórias ancestrais.”
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Quilombolas - Tradições e Cultura da Resistência
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Projeto patrocinado em 2005

Trata-se da edição de um livro sobre as comunidades negras remanescentes dos quilombolas, enfocando suas relações com a terra e a idéia de territorialidade, o desenvolvimento sustentável dessas comunidades e os principais programas realizados: turismo étnico, resgate da cultura de criação, promoção de artesanato local, resgate da atividade agrícola, resgate da cultura e preservação do meio ambiente.
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Desde 2000, o pesquisador e coordenador do Centro de Cartografia Aplicada e Informação Geográfica (Ciga) da Universidade de Brasília (UnB), Rafael Sanzio Araújo dos Anjos, trabalha no mapeamento das comunidades quilombolas existentes no Brasil.
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A atualização do mapeamento tem por objetivo preservar a cultura quilombola, auxiliar o desenvolvimento da comunidade em auto-sustentabilidade, além de guardar uma parte da história brasileira e de resistência dos antigos quilombos. O trabalho foi realizado com os quilombolas de Cafundó (São Paulo), Itamatatiua (Maranhão), Oriximiná (Pará), Kalunga (Goiás), Mocambo (Sergipe), entre outros. 

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