Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Vila do Conde - Capela de N. Sra do Socorro

* Victor Nogueira

Entre o Cais dos Assentos e o Cais da Alfândega, no cimo dum maciço rochoso encontra-se a Capela de N. Sra do Socorro, anteriormente designada como  Ermida de N. Sra da Boa Viagem, ela também ligada às actividades marítimas, edificada em 1559 por iniciativa de Gaspar Manuel, "piloto-mor da carreira da Índia, China e Japão que custeou as obras" conjuntamente com sua mulher Bárbara Ferreira de Almeida, ambos nela sepultadosO templo distingue-se pelo seu   formato e cobertura, semelhante à de templos orientais por onde estanciou o seu patrono. O edifício é de planta circular e elíptica, formada por dois corpos,dos quais, o mais pequeno está curiosamente orientado para Meca.  Interiormente está decorada com notáveis azulejos do século XVIII, representativos da vida de Cristo, bem como para o retábulo de estilo rococó. 

Não posso deixar de reparar como a Igreja domina esta zona: imponente, lá em cima, isolado, impositivo, o na altura medieval Convento de Santa Clara, de que subsiste apenas a Igreja, com os túmulos da fidalguia, donatária e beneficiária de rendas e dízimos, incluindo a travessia de barca, cuja manutenção cabia no entanto aos habitantes da Vila. Mais abaixo e em confronto, face a face, num maciço mais modesto, mais ao rés-do-chão, num bairro de gente ligada à pesca e à construção naval, um templo mais simples mas dissonante relativamente ao que se lhe opõe, com a sua arquitectura influenciada pelos contactos com novos/outros Mundos, os de Ásia, e outras religiões, como a maometana, com uma capela virada a Meca, construído também para  albergar os túmulos dos responsáveis pela sua edificação, não senhores feudais dum mundo em desaparecimento, mas do mundo novo que surgia, virado para fora, no caso um piloto-mor da Carreira da Índia, de cuja ciência dependia em grande parte a segurança da viagem e o chegar a bom porto. Com efeito, o primitivo nome foi de Ermida de N. Sra da Boa Viagem, que teve de ser alterado por existir já na manuelina Igreja matriz de S. João Baptista (1502/1518 e 1573) uma capela com idêntica invocação, construída em 1542 pela comunidade de mareantes de Vila do Conde, 












azulejos do séc. XVIII que retratam aspectos da vida da virgem Maria




Rio Ave e Praça D. João II


iluminações natalícia


fotos em 2016.12.28

1 comentário:

Mona Lisa disse...

As tuas fotos estão muito parecidas com as minhas.
Mais um belo passeio.
😘