Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

José Gilberto Florindo de Oliveira

* Victor Nogueira




- foto Fátima Pereira - Em Lisboa, com o meu amigo Gilberto de Oliveira -

Victor Nogueira - ao camarada Gilberto


Ao Camarada Gilberto,
Mui feliz e mui contente,
Tenha um sorriso aberto,
Fique bom bem de repente.

Fique bom mui de repente
Regressando á Boa Hora
Com outra vida nascente
Na D.Vasco, onde mora!

Na D. Vasco, onde mora,
Numa casa com jardim,
Onde fique com demora,
Com amigos, em festim.

Cem amigos, em festim,
No seu cantinho bailando,
Com banda, um lagostim,
Mas sem rato formigando.

Pois com rato formigando,
Fica o caldo entornado,
A Fatinha rabiando,
Com mau sono, estragado.

Sem seu sono estragado,
Ao Gilberto desejamos,
Bom retorno, bem curado,
Florindo, com verde ramos.

Florindo, com verde ramos,
Com a Rosa e Margarida,
E assim andando vamos,

Oliveira, de saída.

Victor Nogueira
Setúbal, 1997.02.24


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Um dia falarei de como conheci o camarada Gilberto e como nos tornámos amigos até à morte dele. Hoje é apenas meu convidado, em retribuição das muitas vezes que estive em casa dele, onde por vezes lanchei, almocei ou jantei, ouvindo as suas memórias, conversando ou «fixando» a versão definitiva da poesia dele, uma vez que já estava cego.

Depois da sua morte, durante alguns meses, dizia para a Fátima: "Vamos visitar o Gilberto", mas logo caía em mim, pois o Gilberto já não estava entre nós.
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José Gilberto Florindo de Oliveira: foi preso pela 1.ª vez em I/1933, como dirigente das Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas. Saiu em liberdade em III/1935.

Em 1935 participou no VII Cong.º da Internacional Comunista e no VI Cong.º da Internacional Juvenil, em Moscovo, juntamente com Álvaro Cunhal.

Em VII/1936 é novamente detido, sendo enviado para o Tarrafal, onde fica enclausurado até I/1946.

Participou no II Cong.º Ilegal do PCP (1946). Passou entretanto à clandestinidade, aí permanecendo durante vários anos. Foi membro do Comité Central do PCP, na clandestinidade.

Após o regresso do Tarrafal ele e Álvaro Cunhal acabaram por colocar-se em campos opostos. Parte dos tarrafalistas defendiam a "transição pacífica", linha que foi vencida e considerada um "desvio de direita", e os seus defensores expulsos do PCP:.

Pouco depois do 25 de Abril foi membro da URAP e publicou o livro Memória Viva do Tarrafal - Edições Avante, colecção Resistência, para além de poesia e outros escritos inéditos.

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