Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

sábado, 5 de novembro de 2016

Steve Mccurry e a mulher afegã - em torno dum texto de MEC

* Victor Nogueira

Bem muita gente e povos se recusavam a ser fotografados porque criam que desse modo a "máquina" ou o "fotógrafo" lhes roubavam a alma. Creio que há um "direito à imagem" entre os direitos humanos mas, na verdade, o direito pertencerá a quem a detiver e, neste caso, o fotógrafo (e tb a National Geographic ?) Há paparazzi  e paparazzi, uns de 1ª,, a preto e branco,  outros,cor-de-rosa. O mal não está no fotógrafo mas sim em torno de direito de propriedade. Em que consiste ? Sobre o que incide ? A quem pertence ? Quem dele deve beneficiar ? O artista/retratista/fotógrafo ou ao retratado/fotografado ?

EM TEMPO - Não fosse o fotógrafo, Steve McCurry ou  Nick Ut Lieux ou qualquer outro, muitos arriscando a vida em cenários de guerra, alguém saberia ou se preocuparia com  a existência e problemas de Sharbat Gula ou de  Kim Phuc ? E quem se lembra ou acode ou se preocupa com as restantes largas milhares de vítimas, vivas ou sobreviventes das mesmas guerras ou similares e todas elas devendo merecer igual reparação e memória ?



Steve Mccurry - Afeganistão


Nick Ut  - Vietname 1972


CRÓNICA

Ajudem esta mulher!

Como é que conseguem viver com o olhar dela, três vezes traído?
Sharbat Gula foi deportada depois de 11 dias de prisão. Os paquistaneses tiveram pena dela e, depois do consulado afegão ter pago a multa de 1500 euros, libertaram-na. Voltará para o Afeganistão de onde fugiu com os quatro filhos.
Em 1984, tinha ela 11 ou 12 anos, Steve McCurry fotografou-a para a National Geographic. A fotografia, Afghan girl, tornou-se a mais famosa de toda a história da revista. Toda a gente viu a fotografia – excepto ela.
McCurry, que ficou famoso e rico à custa daquela fotografia, fez várias tentativas para reencontrá-la. Só conseguiu em 2002, quando ela tinha 30 anos. Foi a primeira vez que ela viu a fotografia dela quando era criança.
A nova fotografia de Sharbat Gula – só com 30 anos mas envelhecida por uma vida duríssima – voltou a correr o mundo, para toda a gente ter o prazer de ver como a menina bonita dos olhos verdes tinha desaparecido para o rosto de uma mulher banal.
National Geographic ainda retribuiu parte do lucro pagando-lhe uma peregrinação a Meca e algumas despesas médicas. Fez também um fundo para educar crianças afegãs. Mas a sádica exploração de Sharbat Gula – indesculpável e abusiva desde o início – continua.
Então e agora? Como é que é, ó abutre McCurry? Como é que ninguém, à excepção de afegãos e paquistaneses, mexeu uma palha para ajudá-la? Ela é viúva e está doente. Porque não lhe compram uma casa e lhe dão dinheiro para viver bem durante o resto da vida? Como é que conseguem viver com o olhar dela, três vezes traído? 
https://www.publico.pt/mundo/noticia/ajudem-esta-mulher-1749999?

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