Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Mostra reúne 27 obras de Gerhard Richter na Pinacoteca


Gerhard Richter, Seascape (Contre-jour)
óleo s/ tela, 200 x 200cm, 1969


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21/07/2011 às 11:50:07 - Atualizado em 21/07/2011 às 11:50:07


O pintor alemão Gerhard Richter nunca veio ao Brasil, mas, antes de completar 80 anos, no próximo ano, manda lembranças na forma de 27 obras reunidas em "Sinopse", sua primeira individual brasileira em mais de meio século de carreira, realização do Ifa (Instituto de Relações Culturais com o Exterior) em parceria com o Goethe-Institut. Sentado na sala que abriga os trabalhos, na Pinacoteca do Estado, onde a mostra será inaugurada no sábado, seu biógrafo, Dietmar Elger, também diretor do arquivo que leva o nome do artista, em Dresden, garante que Richter selecionou cada um dos trabalhos exibidos, auxiliado na tarefa pelo historiador Götz Adriani. Nada mais apropriado para um artista organizado, sistemático e com rigoroso controle sobre sua produção, a ponto de anotar quantos metros de tela pinta por ano. Justificável: uma pintura sua pode custar até US$ 9 milhões.
Nem sempre foi assim. Richter amargou um período cinzento na Alemanha Oriental até escapar definitivamente do realismo socialista em 1961, ano em que estava sendo construído o Muro de Berlim. O pintor fugiu com a primeira mulher para Düsseldorf, na Alemanha Ocidental, onde estudou pintura com Karl Otto Götz, integrante do grupo Cobra, que contribuiu para o advento da arte informal nos anos 1950. Richter tem muito de seu mestre, que também oscilou entre a figuração e a abstração, tanto em monotipias com em fotos experimentais. Götz também foi professor de Sigmar Polke, companheiro de Richter na criação da paródica escola do "realismo capitalista", em 1965, resposta irônica à ditadura estética da Alemanha comunista e ao mercantilismo da arte pop americana.
Há, na retrospectiva da Pinacoteca, pelo menos uma obra dessa época, marcada pela amizade com os pintores Konrad Fische-Lueg e Georg Baselitz. Ela ilustra o método de apropriação de imagens fotográficas por esses "realistas capitalistas". Trata-se de Tio Rudi, que retrata o irmão da mãe do pintor, vestido como oficial nazista. Richter era adolescente durante a Segunda Guerra. Tragédias familiares - como a do tio, que morreu na França durante a Ocupação, e de uma tia doente mental, enviada para um campo de extermínio - fizeram de Richter um artista avesso a ideologias, segundo seu biógrafo. "Até mesmo a série de trabalhos sobre o grupo radical Baader Meinhof, feita em 1988, revela mais o medo de que sua filha Betty seguisse o caminho da terrorista Ulriche Meinhof, morta na prisão, em outubro de 1977, do que um comentário político sobre os atos da facção esquerdista", diz Elger.
Betty, hoje com 45 anos, é a filha mais velha de Richter, três vezes casado e pai de duas garotas e dois rapazes, todos retratados por ele. O caçula Moritz ficou por último e, quando lhe perguntam a razão, Richter simplesmente responde: "É que ainda não fiz nenhuma foto dele". Parece brincadeira, mas não é. O pintor vê o mundo por intermédio da imagem fotográfica. Desde que fez sua primeira exposição, em 1963, na Mobelhaus Berges, uma loja de móveis de Düsseldorf, Richter usa a fotografia como documento mais confiável que o olho, incapaz de perceber o que uma máquina registra com precisão. Se ele pinta depois de fotografar, é só pelo impulso subversivo de contestar a hierarquia da arte, como nos tempos do "realismo capitalista".
"Ele não está interessado em verossimilhança nem na pureza da arte, mas numa reinterpretação da realidade via fotografia, no entendimento do mundo por meio dela", observa seu biógrafo. De fato, por que alguém passaria a vida replicando fotografias em pinturas tão "realistas" que chegam a colocar o espectador em dúvida sobre o que vê? Não para criar ilusionismo, isso é certo. Richter escapa até mesmo da prisão temática que prende outros pintores. Há 40 anos começou seu bouvardiano projeto de construir uma enciclopédia de imagens que explicassem, de alguma maneira, o mundo moderno. Chama-se Atlas, foi exposto na Documenta de Kassel de 1997 e tem mais de 4 mil fotografias extraídas de jornais, revistas e livros, muitas delas referências para séries que se tornariam famosas - e cuja marca registrada é a luz suave que emana de uma pincelada leve, como suas paisagens encobertas pela bruma.
Naturalmente, a pintura de Richter acabou evoluindo para a abstração. O marco zero dessa fase é uma tela de 1976. Nela, o pintor usa a mesma técnica de suas pinturas de representação, encobrindo detalhes que possam sugerir figuras e raspando a superfície para expor traços e pinceladas anteriores. Tanto nas dimensões como no procedimento, Richter reproduz o ato heroico dos expressionistas abstratos americanos diante da tela. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Gerhard Richter - Pinacoteca do Estado (Praça da Luz, 2). Tel. (011) 3324-1000. 10 h/18 h (fecha 2ª). R$ 6 (sábados, grátis). Até 21/8. Abertura sábado, às 11 h
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14.7.11


Governo de São Paulo e Secretaria de Estado da Cultura apresentam na Pinacoteca do Estado de São Paulo Gerhard Richter: Sinopse




A Pinacoteca do Estado de São Paulo apresenta a exposição Gerhard Richter: Sinopse.  Em sua primeira individual em São Paulo, a mostra traz 27 pinturas realizadas em diversas fases da produção de Gerhard Richter (1932, Desden, Alemanha), começando pelos trabalhos de fotografia-pintura, dos anos 1960, até as pinturas abstratas dos anos 1980 e 1990.  Esta exposição já passou por Curitiba, Salvador e Brasília, tem curadoria do próprio artista e do historiador Götz Adriani, e é uma realização do ifa (Instituto de Relações Culturais com o Exterior, Alemanha) em parceria com o Goethe-Institut.

Dia 21 de julho às 19h30, na Pinacoteca, acontece a palestra ‘Pintando Fotografias’ com o Dietmar Elger (Biógrafo e Diretor do Arquivo Gerhard Richter de Dresden), sobre a trajetória de Gerhard Richter.

Abertura dia 23 de julho, sábado, a partir das 11h.
Em cartaz até o dia 21 de agosto de 2011.

Gerhard Richter: Sinopse

A Pinacoteca do Estado de São Paulo apresenta a exposição Gerhard Richter: Sinopse.  A mostra é composta por 27 pinturas, escolhidas pelo próprio artista, que formam uma retrospectiva de todas as fases de sua produção, desde os trabalhos de fotografia-pintura dos anos 1960, até as pinturas abstratas dos anos 1980 e 1990. Gerhard Richter é o artista plástico alemão em atividade mais conhecido da contemporaneidade, considerado um dos responsáveis pelo resgate da pintura no final do século XX, quando muitos a consideravam perdida.

A arte de Gerhard Richter não segue uma intenção, um sistema, um estilo, ou uma mensagem. O que a rege é uma ética artística de prática cotidiana, relacionada somente às condições representadas por ela mesma. Richter utiliza motivos variados, estilos e citações da história da arte, porém, seu único e grande tema, em última análise, é a pintura. Suas peças ora são puras, sobre a tela, ora misturadas a fotografias e recortes de jornal. Em alguns casos, como em obras presentes nesta mostra, ele primeiro reproduz a fotografia em pintura, e, depois, volta ao modelo original, fotografando seu trabalho, sem que se percam as características da obra produzida à mão.

A resistência de Richter em se fixar em um estilo, tema ou conteúdo, tem origem em sua própria biografia. Com sua mudança de Dresden, na antiga República Democrática Alemã (RDA) para Düsseldorf, na então Alemanha Ocidental, em 1961, ele não somente muda de ambiente social e político, como entra em outra esfera artística. É nessa fase que Richter troca a tradição de uma pintura do realismo socialista da RDA, por um confronto com a pintura informal tardia e a iniciante PopArt.

Dessa mudança radical permanecem, para sempre, grandes dúvidas quanto às certezas e obrigações nas artes. “Eu não sou seguidor de sistemas, de vertentes ou de intenções. Eu não tenho nenhum programa, nenhum estilo, nenhuma razão especial”, avisou o artista em 1966. Gerhard Richter compreende a pintura como um ato; uma busca da realidade atual: “O que eu via como a minha grande fraqueza, ou seja, a incapacidade de criar uma imagem, não é de fato uma incapacidade, mas sim, uma instintiva busca de uma verdade mais moderna, que já estamos vivendo”.

Pintura X Fotografia

Como meio de comparação à pintura, Gerhard Richter usa a fotografia, sua eterna rival, na representação da realidade e, em 1962, pela primeira vez, parte de uma imagem para realizar uma pintura. Desde então coleciona, sistematicamente, fotografias que servem como matriz para suas pinturas. Desse modo, criou um acervo de imagens públicas e privadas, de 1945 até os dias atuais, compreendendo fotografias de jornal e de própria autoria, e cliques espontâneos de fotógrafos amadores. Esse acervo foi publicado sob o título de “Atlas”, em 1971, e exposto publicamente, de forma inédita, nesse mesmo ano.

É desse acervo que Gerhard Richter escolhe as fotografias que servirão como motivo, ampliando-as ou usando-as, em recortes, nas suas pinturas. Ao reduzir as cores a tons da escala cinza na transposição da fotografia para a pintura, esta fica reduzida e até irreconhecível. Com isso, o artista separa a pintura do objeto que, por sua vez, some na cor cinza, característica das “pinturas cinza”, criadas em fins dos anos 1960. Para Richter, essa cor sempre representou o indiferente e o nada. Mais tarde, volta a trabalhar com cores e encontra um novo caminho numa pintura complexa de camadas, típica de suas obras abstratas dos anos 1980.
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Fonte: Assessoria de Imprensa

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