Não são só os prédios que fotografa em todo o país – e também no Porto, mas já lá vamos – que estão em ruínas. “Nunca tive um único patrocínio na vida, por muito que isso me custe. Verdadeiramente, estou em ruínas. Estou a trabalhar por amor à camisola”, conta Gastão de Brito e Silva, que tem expostas, desde sábado, no Palácio das Artes, 20 fotografias que mostram um Porto esquecido.
O projecto tem 3 anos, chama-se
Ruin’Arte e é o reverso da actividade de fotógrafo de arquitectura que Gastão desenvolvia. “Fazia fotografia de publicidade de arquitectura. Fartei-me um bocado do meu mercado. Decidi fazer algo na área, mas mais filantrópico e artístico”, conta. “Voltei a ser fotógrafo amador, quase 20 anos depois de me ter tornado fotógrafo profissional”.
Em vez dos prédios impecavelmente arranjados, o fotógrafo lançou-se na procura de fábricas abandonadas, velhos palácios habitados por animais e plantas, casas que já foram moradia de vultos da história portuguesa entregues à sua sorte, à espera de serem demolidas ou de ruírem por si.
Nem uma rua sem ruínas
A relação de Gastão de Brito e Silva com o Porto estreitou-se no Verão de 2010. Desde então, o lisboeta tem vindo uma vez por mês à cidade, sempre com a máquina fotográfica por perto.
“O Porto é uma cidade magnífica. Tem uma arquitectura pela qual tenho uma admiração muito mais profunda do que tenho pela de Lisboa. Mas não há uma única rua que não tenha uma ruína – em Lisboa também há. Às vezes são 3 e 4 seguidas, fico doente com isto”, confessa.
No Grande Porto, impressionaram-no, sobretudo, a
Central de Captação de Água de Foz do Sousa, a central termoeléctrica do Freixo, desactivada nos anos 1960, “edifícios de arte nova extraordinários” e o
palácio da Quinta do Montado, em Gaia (“Está em ruínas. É um autêntico crime”, critica). Estes e outros exemplos do Porto em ruínas estão em exposição no Palácio das Artes até 24 de Abril.
O Ruin’Arte pode não ser lucrativo, mas as missões não têm que o ser. “Há várias coisas que me fazem continuar. Há perto de um milhão de ruínas em Portugal e eu só fotografei 700. Ao mesmo tempo, acabei por me tornar refém e prisioneiro deste trabalho. Começou como brincadeira, passou a causa, depois a vício e a missão. Já fiz tanto, tanto, que a única coisa que posso fazer é continuar. Não posso largar isto”.
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