Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quinta-feira, 14 de maio de 2020

coretos 05 - Sobral de Monte Agraço - Igreja de S. Quintino

* Victor Nogueira


foto victor nogueira - rolo 216 - Sobral de Monte Agraço - coreto (1998)

«Construído em 1914, o actual coreto fica situado na Praça Dr. Eugénio Dias substituindo o anterior, de madeira, datado de finais do século XIX. Com o seu gradeamento em ferro trabalhado e de reconhecida qualidade acústica é, hoje, um ex-libris, da vila de Sobral. Por ali passaram inúmeras bandas de música e foi palco das transformações sociais que o concelho viveu durante o século XX.» ( 1)

SOBRAL DE MONTE AGRAÇO - A viagem para Sobral de Monte Agraço faz-se já de noite, contingências dos passeios em curtos dias de inverno. Da ruralidade da paisagem não me apercebo, mas sim e apenas do relevo do terreno, ora subindo, ora descendo, ora curvando, ora contracurvando. A povoação fica lá em baixo, mas é uma desilusão. Uma igreja barroca, na Praça da República, e um teatro (Eduardo Costa?), perto da Praça Dr. Eugénio Dias (médico dos pobres) com elegante coreto, busto do homenageado, fontanário, edifício da Câmara e uma residência do século  XIX. 

As lojas têm um ar de antigas, na sua decoração interior. Mais adiante um outro largo arborizado, a praceta 25 de Abril, de edifícios recentes, permanecendo por enquanto uma casa estilo chalet, com um corpo estreitinho, lateral, estilo pequeno torreão, e restaurantes com nomes curiosos: Café Montagreste, Café Restaurante A Toca do Coelho, Restaurante Pé de Galo, Pastelaria Pan Diogo ... 

Já na saída da povoação a nossa atenção é desperta pelos painéis de azulejos do matadouro municipal (1940), representando cenas relativas à criação de gado: suinicultura, o pastor com as ovelhas, o ganadeiro com vacas e vitelos ... 


O adiantado da noite não dá para procurar as casas azulejadas e as varandas de ferro fundido referidas pelos livros.

As ruas ostentam ainda cartazes da campanha eleitoral para as autarquias. Insolitamente, os do CDS/PP (Centro Democrático Social transfigurado de Partido Popular) afirmam «Só prometemos trabalhar.». Curioso, esta do partido do grande patronato, que aliás não define o sentido da sua "trabalhia"!

Não é desta que visitamos as ruínas das Igrejas de S. Salvador (século XII) e do Salvador do Mundo.

Prosseguimos viagem em busca da Igreja de S. Quintino, do século XVI, insólita porque na sua fachada principal coexistem um imponente portal manuelino e um pequeno portal gótico, emparedado, este sobressaindo na parede de pedra não rebocada. Defronte, no adro, um telheiro com bancos, sítio onde talvez o povo se juntasse para conversar abrigadamente. 

Com o templo fechado não dá para visitar os painéis de azulejos dos séculos XVII e XVIII que cobrem as suas paredes. (Notas de viagem, 1998.01.13 e 2000.06.12)

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