Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

domingo, 19 de novembro de 2017

O Bairro [operário] Baptista, em Setúbal

* Victor Nogueira

António José Baptista foi um industrial setubalense ligado à indústria conserveira, sendo responsável pela introdução em Portugal da arte da pedra litográfica nas latas e embalagens do pescado.


Nos finais do século XIX surge o primeiro complexo industrial já fora da cidade de Setúbal e da malha urbana primitiva— as fábricas de conservas de António José Baptista e Manuel Neto, erguidas perto da estação dos caminhos de ferro e ao longo do que actualmente é a Rua António José Baptista. Foi nesta zona que cerca  de 1890, na óptica do paternalismo patronal, foi edificado o chamado Bairro Baptista, inicialmente destinado ao operariado, em tomo da Praça de Touros D. Carlos, actualmente designada por Praça Carlos Relvas. Na toponímia do local para além do "benemérito"  que me parece ter sido Presidente da Câmara como poderoso influente ou cacique local figuram ainda o seu filho Luís Baprista e Dona Maria Baptista.

Na época este foi um conjunto habitacional "marca" do seu proprietário com imponência e qualidade relativamente às condições habitacionais das camadas laboriosas de Setúbal, vivendo em condições insalubres em pátios e barracas. que ainda existiam nos anos 80 do século XX mas que persistem apesar de tudo. Muitas destas habitações depressa e pouco depois da sua construção passaram para o mercado de arrendamento, tornando-se inacessíveis à generalidade do operariado setubalense. Presentemente e visto do exterior o Bairro encontra-se relativamente bem conservado, nalguns casos com mudança de uso para restaurantes. Na fotografia aérea do Google Eaerh verifica-se que os prédios têm logradouro interior, alguns transformados em pátio habitacional, e num deles, arborizado, existe mesmo uma piscina.

Na minha deambulação um homem de barba e cabelo negros, cheirando a vinho à légua, depois de vasculhar num contentor do lixo, mete conversa comigo, convidando-me insistentemente para ir com ele ver um jogo do Comércio e Indústria no estádio circum-vizinho "não se paga, venha daí comigo!", e acaba a pedir-me uma moedinha, "notas, não. só moedas", diz-me, enquanto me mostra a perna onde há semanas terá levado uma cornada dum touro que o teria obrigado a intervenção cirúrgica e internamento hospitalar.

Sobre "habitação operária" em Setúbal ver Paulo Guimarães  A habitação popular urbana em Setúbal no primeiro terço doséculo XX. in 
Análise Social vol. xxix (127), 1994 (3.°), 525-554
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A verde o campo de futebol do Comércio e Indústria

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