foto victor nogueira - sombras na casa do mindelo
Castro Barroso Gato Nogueira - Blog Photographico - lembrança da moça do Alentejo
domingo, 27 de setembro de 2015
O trabalho deles é fotografar arquitectura
João Morgado, José Campos, Fernando Guerra, Ivo Tavares e Luís Ferreira Alves viajam pelo país e pelo mundo para fotografar arquitectura. Ficam sozinhos com a obra, estudam-na sem a máquina e depois retratam-na, sempre à procura de novas perspectivas (e aqui entram, também, os drones). Ser fotógrafo de arquitectura é uma profissão com saída em Portugal
Texto de Ana Maria Henriques • 24/09/2015 - 12:37 mir
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João Morgado
“A minha base é o meu carro”, garante ao P3 João Morgado, 30 anos, fotógrafo de arquitectura desde 2007. Começou “por acaso”, ainda durante o curso de arquitectura — profissão que nunca chegou a exercer — e agora já conta com quase 600 reportagens fotográficas no currículo. É em viagem, de Sever do Vouga para o Porto, onde vive, que Morgado fala da recente distinção da publicação “Top Teny”, que o incluiu na lista dos 10 melhores fotógrafos de arquitectura do mundo. Estão lá as imagens tiradas do ar, com recurso a drones, da Piscina das Marés em Leça da Palmeira (de Álvaro Siza Vieira) e do Parque Tecnológico de Óbidos (de Jorge Mealha), dois trabalhos que o fotógrafo considera terem tido um “alcance diferente e especial”. Gosta de fotografar para mostrar ao público um edifício “o mais próximo possível da realidade”, sem romantizar ou “espectacularizar a obra”. O ideal é quando consegue surpreender o arquitecto com um novo ponto de vista, “sempre em trânsito” e a conhecer arquitectura nova. Bragança, Aveiro, Lagos e Sardenha, na Itália, são os próximos destinos.
José Campos
Estudou arquitectura mas nunca foi arquitecto e a culpa é da fotografia. José Campos, 34 anos, prefere o prazer de fotografar um edifício a ter de o conceber. Procurar uma perspectiva nova em obras que demoraram anos a concluir é um desafio. Em 2012, ementrevista ao P3, considerava-se um “fotógrafo do mundo”, com um trabalho “muito solitário” que exige “dedicação contínua”. Tudo isso se mantém — sobretudo os “dias doentios”, em trânsito ou à espera do momento ideal para fotografar. O Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, na ilha açoriana de São Miguel, foi um dos edifícios que mais gostou de fotografar nos últimos tempos. Continua a trabalhar na Alemanha, como já tinha referido há três anos, mas Portugal é o melhor mercado (e onde não lhe falta trabalho, “felizmente”). Para breve está a divulgação das fotografias da Casa do Rio, a nova extensão do hotel Quinta do Vallado, no Douro.
Fernando Guerra
O “Archdaily” apelidou-o de “um dos mais proeminentes fotógrafos de arquitectura” quando viajou com os arquitectos Álvaro Siza e Carlos Castanheira pela Ásia, em 2014. Foi uma “viagem histórica”, contou Fernando Guerra ao P3, dois meses depois de ter regressado. “Tenho o melhor arquivo do Siza de sempre. (…) O lado pessoal, que eu consegui nos últimos anos, para mim não tem preço”, revelou na altura o fotógrafo de 45 anos. No site Últimas Reportagens, Guerra lista quase 900 reportagens, em 15 anos de trabalho a partir de Lisboa. Para Álvaro Siza há uma secção especial, onde consta o trabalho fotográfico do “Edifício sobre a água”, construído sobre um lago artificial em Huaian, na China. Mas há outros arquitectos de renome, portugueses e não só, cujas obras foram retratadas por Guerra: Manuel Graça Dias, Gonçalo Byrne, João Luís Carrilho da Graça, Paulo Mendes da Rocha, ARX Portugal, Mário Kogan e Zaha Hadid (só para mencionar alguns). “Entre os edifícios que fotografa não se percebe, exactamente, um juízo de valor sobre os conteúdos da arquitectura; antes um controle, ao nível das emoções, que busca homogeneizar todos os registos”, lê-se no site.
Ivo Tavares
Estar sozinho com a obra é o que Ivo Tavares mais gosta na fotografia de arquitectura. “Só tens que controlar a luz, o resto está lá, é interpretação tua”, explica o jovem de Aveiro. “É como fotografar natureza morta, sozinho. Adoro.” Dedica-se a retratar edifícios há seis anos mas, ao contrário de muitos dos colegas, não tem formação em arquitectura mas sim em fotografia. A partir do Ivo Tavares Studio, em Aveiro, o foco são “empresas que criam materiais para arquitectura”. “A linguagem é a mesma, os clientes também, mas aumentamos o espectro da empresa para implementar mais pessoas”, diz. Ivo, de 30 anos, nunca fotografou uma obra de um arquitecto famoso — “por uma questão de opção”, sublinha. “Trabalho ao contrário, prefiro projectos pequenos, de arquitectos não tão conhecidos mas que me dão muito mais gozo.” Para breve está a reestruturação do Archmov, um projecto de vídeo de arquitectura que o P3 apresentou no final de 2012.
Luís Ferreira Alves
Há mais de 30 anos que Luís Ferreira Alves fotografa arquitectura. Começou por ser fotógrafo amador e foi o desafio de um amigo que o levou a olhar para a área como uma oportunidade. “Em poucos meses fui obrigado a decidir entre a minha sólida situação como responsável comercial de uma grande empresa pelo desafio, sem rede, da aventura fotográfica. Decidi por esta”, contou à versão brasileira do “Archdaily” em Fevereiro deste ano. A partir do Porto, Ferreira Alves trabalha com uma assistente e “quase exclusivamente em fotografia de arquitectura, institucional e do território”. Diz privilegiar “ a luz existente, mesmo quando coexistem diferentes fontes luminosas”, com especial destaque para as obras do Prémio Pritzker 2011, Eduardo Souto de Moura. O Edifício Cantareira, o Convento das Bernardas ou o Loteamento e casas das Sete Cidades são disso exemplo.
http://p3.publico.pt/cultura/arquitectura/18229/o-trabalho-deles-e-fotografar-arquitectura
Ligações
sábado, 26 de setembro de 2015
o milho verde e a desfolhada portuguesa
* Victor Nogueira
Logo de manhãzinha
oiço uma barulheira inabitual, assomo à varanda e passam tractores puxando
enormes atrelados, saindo dum terreno contíguo. Vou às traseiras do quintal e
assisto à apanha do milho, segado pelas ceifeiras-debulhadoras, transformado em
grão e despejado num atrelado que caminha paralelo. Enchido este, outro lhe
ocupa o lugar, numa faina ininterrupta e barulhenta. Pouco depois uma pequena
empilhadora apanha o pouco restolho e em menos de duas horas o vasto campo está
completamente "limpo", sem que ocorram as desfolhadas de outrora de
que se fala no final deste post, após o registo fotográfico. O dia está de neblina, húmido e não soalheiro.
VER TAMBÉM
A DESFOLHADA DO MILHO (1)
A
desfolhada do milho é uma tradição que já perdeu alguns rituais de outrora, mas
ainda permanece bem viva no quotidiano anual da aldeia.
A
sementeira do milho é feita nos princípios de Maio. Quando o milho já é uma
plantinha verde, o terreno é sachado para tirar as ervas daninhas. Estas já são
raras devido aos produtos químicos lançados no solo. É nesta época que, vezes
sem conta, os agricultores vão buscar as águas das represas. Quando o milho
cresce, é-lhe cortado a bandeira que servirá de alimento aos animais.
[Em Junho, começam as regas. Quando o milho cresce e que a espiga já começa a estar criada, cortam-se a canas, ou seja a parte que fica a seguir à espiga, que é um óptimo alimento para o gado]. Em meados
de Setembro, princípios de Outubro, as espigas são colhidas. É aqui que a velha
tela da tradição das desfolhadas é bem revivida como nos tempos de antigamente.
De dia, o
milho é retirado dos campos e transportado, em gigas à cabeça, ou em tractores,
para a eira ou a casa do lavrador. Antigamente eram utilizados os carros de
bois. À noite, juntam-se os amigos, os vizinhos e os familiares para se
ajudarem uns aos outros como forma de troca de trabalho. As espigas são
desfolhadas, uma a uma, sendo amontoadas umas sob as outras em gigas. As gigas
cheias são esvaziadas no canastro/espigueiro. Os adultos, pela noite dentro,
vão contando histórias e as crianças brincando.
Antigamente
a desfolhada terminava sempre com comes-e-bebes ao som de algumas canções
populares. Não faltavam os petiscos gastronómicos, como a regueifa doce, as
azeitonas e o vinho, que acalentava a alma de todos os que ajudassem como forma
de agradecimento e de convívio.
Actualmente, já são poucas as pessoas que
retribuem alguns comes-e-bebes, é uma "pena". São estes belos e
pequenos momentos, entre muitos outros, que tornam a vida repleta de alegria.
Fazem-nos perceber de como os nossos antepassados, em tempos de trabalhos
árduos e de fome, eram tão alegres e não se esmoreciam perante os trabalhos
árduos.
Até 15
anos atrás, tinha-se também como ritual a descoberta do “milho rei”. Os mais
jovens tinham sempre a esperança de encontrar milho-rei ou rainha (uma espiga
vermelha) para poderem dar um beijo ou um abraço a um rapaz ou uma rapariga da
qual gostassem. [Esta era uma oportunidade única para se aproximar fisicamente das raparigas , das namoradas, até das noivas porque, na época, as convenções sociais eram muitas e a vigilância por parte dos pais era muito apertada]Por outro lado, as pessoas também contam uma outra versão: quem
encontrasse o milho-rei ou rainha teria que dar um abraço à pessoa que
estivesse a seu lado. Quando aparecesse uma espiga sem milho significava dar um
beliscão.
Actualmente
o milho-rei ou rainha já não aparecem com tanta frequência, e quando aparecem,
normalmente, chama-se uma criança e ela dá o beijo ou beliscão a uma pessoa.
Outrora,
eram nas desfolhadas que se começavam muitos namoros. Os rapazes vinham das
aldeias vizinhas e lá lançavam o seu charme a uma donzela de seu interesse.
Neste cenário também surgia uma personagem chamada de curandeiro. Tratava-se de
uma pessoa que aparecia no escuro sem que ninguém o visse e começava a
proclamar sons e frases criticas.
(1)
VER TAMBÉM Desfolhadas : O que são?
Milho Verde - José Afonso
Desfolhada portuguesa, de Ary dos Santos por Simone de Oliveira
Romeiros - Ourém - Grupo de música tradicional prtuguesa
"O milho da nossa terra" - Música e letra tradicionais
1. Milho Verde
Milho verde, milho verde
Ai milho verde, milho verde
Ai milho verde maçaroca
À sombra do milho verde
Ai à sombra do milho verde
Ai namorei uma cachopa
Milho verde, milho verde
Ai milho verde, milho verde
Ai milho verde miudinho
À sombra do milho verde
Ai à sombra do milho verde
Ai namorei um rapazinho
Milho verde, milho verde
Ai milho verde, milho verde
Ai milho verde folha larga
À sombra do milho verde
Ai à sombra do milho verde
Ai namorei uma casada
Mondadeiras do meu milho
Ai mondadeiras do meu milho
Ai mondai o meu milho bem
Não olheis para o caminho
Ai não olheis para o caminho
Ai que a merenda já lá vem
Letra e Música: Música Tradicional de Malpica, Beira Baixa, José Mário Branco e José Afonso
Álbum: Cantigas do Maio (1971)
2. Desfolhada Portuguesa (Ary dos Santos)
Corpo de
linho
lábios de
mosto
meu corpo
lindo
meu fogo
posto.
Eira de
milho
luar de
Agosto
quem faz
um filho
fá-lo por
gosto.
É
milho-rei
milho
vermelho
cravo de
carne
bago de
amor
filho de
um rei
que sendo
velho
volta a
nascer
quando há
calor.
Minha
palavra dita à luz do sol nascente
meu
madrigal de madrugada
amor amor
amor amor amor presente
em cada
espiga desfolhada.
Minha
raiz de pinho verde
meu céu
azul tocando a serra
oh minha
mágoa e minha sede
oh mar ao
sul da minha terra.
É trigo
loiro
é além
tejo
o meu
país
neste
momento
o sol o
queima
o vento o
beija
seara
louca em movimento.
Minha
palavra dita à luz do sol nascente
meu
madrigal de madrugada
amor amor
amor amor amor presente
em cada
espiga desfolhada.
Olhos de
amêndoa
cisterna
escura
onde se
alpendra
a
desventura.
Moira
escondida
moira
encantada
lenda
perdida
lenda
encontrada.
Oh minha
terra
minha
aventura
casca de
noz
desamparada.
Oh minha
terra
minha
lonjura
por mim
perdida
por mim
achada.
Simone de Oliveira interpreta "Desfolhada" no Festival RTP 1969, classificando-se em 1º lugar com 94 pontos.
3,
Milho
verde, milho verde
Ai milho
verde, milho verde
Ai milho
verde, maçaroca.
À sombra
do milho verde
Ai à
sombra do milho verde
Ai
namorei uma cachopa
.
Milho
verde, milho verde
Ai milho
verde, milho verde
Ai milho
verde, miudinho
À sombra
do milho verde
Ai à
sombra do milho verde
Ai
namorei um rapazinho
.
Mondadeiras
do meu milho
Ai
mondadeiras do meu milho
Ai mondai
o meu milho bem
Não
olhais para o caminho
Ai Não
olhais para o caminho
Pois a
merenda já lá vêm
.
O milho
da nossa terra,
ai, o
milho da nossa terra,
é tratado
com carinho.
É a
riqueza do povo,
ai, é a
riqueza do povo,
é o pão
dos pobrezinhos.
VER
TAMBÉM Desfolhadas : O que são?