* Victor Nogueira (Fotos 2013)
1997
Lourinhã
Viemos em busca desta povoação na sequência dum programa televisivo de José Hermano Saraiva, Horizontes de Memória, a ela dedicado. Da memória do programa ficaram-me as imagens e as histórias do cabeço onde outrora ficava o castelo e hoje se encontra uma igreja gótica, do século XIV, com magnífica vista de campos cultivados, que outrora alimentavam Lisboa, pesasse embora o desprezo da burguesia pelos saloios que a alimentavam, bem como as pinturas da antiga Misericórdia salvas do desbarato anticlerical do século XIX, para além dos ovos de dinossauro preservados no museu local [que também possui uma secção de instrumentos e ferramentas de artes e ofícios, a maioria já desaparecidos].
Mas disto apenas encontramos a igreja, porque a noite é adiantada, a vista não rompe a escuridão e as portas se não abrem apenas porque tal seja meu desejo.
As pessoas vão para a missa à Igreja do Convento de Santo António, em cujo interior painéis de azulejos contam a vida de Santo António. As ruas estão iluminadas devido à quadra natalícia e engalanadas com a propaganda eleitoral. Lateralmente à igreja um largo parque de estacionamento, bordejado pelo Tribunal, Correios e quartel de Bombeiros, as camionetas da carreira estacionadas na garagem das estrelas. No outro lado da igreja um pequeno largo ajardinado com praça de táxis, donde partem uma série de ruas pedonais bem, conservadas, que percorremos.
Contudo esta boa conservação é apenas para inglês ver, pois que as interiores estão mal cuidadas! Da toponímia registo apenas a travessa da Misericórdia e as ruas dos Arcipestres e da Misericórdia. Nesta última encontra-se a igreja do mesmo nome, com um portal manuelino, para além duma discoteca a cuja entrada inúmeros jovens cavaqueiam. Seguindo pela rua acima chegamos a uma escadaria, após a qual deparamos com a trazeira da igreja gótica, iluminada, cercada de andaimes. ([1])
Daqui seguimos para Praia d'El Rey, terra de marisco, mas o negrume da noite em nada facilita a diligência, pelo que nos encontramos a descer rumo a Lourinhã, cuja igreja matriz brilha lá em baixo no cimo do cabeço, feericamente iluminada.
Neste circuito ainda tomo notas sobre Atalaia, povoação simpática sem nada de relevante, salvo a existência duma igreja moderna com ninhos de andorinha e torre sineira, tocando as horas com sonora Avé Maria! (Notas de Viagem, 1997.12.05)
[1] - Neste local ermo apanhamos um valente susto. Ao contornar a igreja, encontramos uma motocicleta estacionada, mas prosseguindo, afoitamente, chegamos à fachada principal, que não tivemos tempo de admirar e fotografar, pois alguém assomou e gritou por entre os arbustos; resolvemos abreviar a visita e procurar local menos isolado, incomodados pelos passos rápidos que se aproximam até que surge um jovem de capacete na mão, olhar esgazeado e fixo, dirigindo‑se-nos sem responder às minhas interpelações, sempre a direito em direcção a nós, sem que eu encontre no chão algo que permita defender-me. Tratava‑se afinal dum surdo mudo, que pareceu querer falar-nos das obras na igreja, cuja conversa procurei abreviar pois poderia apenas estar a entreter-nos até aparecer mais alguém. Conseguimos largá-lo e ele foi noutra direcção interpelando alguém mais além na rua deserta, o que em nada contribuiu para aumentar o nosso sossego. Estugámos o passo, descemos a escadaria rumo ao grupo de jovens, ouvimos uma motorizada aproximar-se, alcançamos os jovens e a motorizada passa por nós, pára e o jovem mudo faz grandes gestos de alegria por encontrar-nos e segue viagem rumo ao largo lá mais abaixo. Não ganhámos para o susto! Mas resolvi voltar à igreja, para admirá‑la, desta feita de carro, mas nem parei quando lá encontrámos dois ou três carros despejados dos seus ocupantes, rapazes de mau aspecto àquela hora tardia e solitária, pelo que segui viagem sem abrandar, não fosse aquele local de prostituição e tráfico de droga!
Quando volto a este local em 2013 verifico que as moitas donde surgiu o surdo-mudo são um bosquesito que ladeia o chamado sítio do castelo e que defronte fica o cemitério da vila.
2000
rRegressamos a Lourinhã num passeio por Torres Vedras, Termas dos Cucos (que estavam fechadas para obras), Vimeiro (Maceira). Desta vez a viagem faz-se de dia e das notas tomadas na altura pela navegadora e ajudante de fotógrafo resta apenas isto, que não desenvolvi na altura: "Várias fotos: igreja, casas e janelas". Como as fotos não estão organizadas e digitalizadas, fica apenas o registo (Notas de Viagem 2000.07.14 ou 17 ?)
2013
Após a febre do Rei Leão, o entusiasmo pelos dinossauros, pelo que lá vamos, com o Francisco, de abalada à Lourinhã, em busca de vestígios dos simpáticos animais. Do museu já se falou anteriormente, embora agora esteja ampliado com novas secções com fósseis, reconstiruições, textos descritivos e gravuras explicativas. Na era das Capitais, Lourinhã intitula-se a dos Dinossauros.
Seguimos pela AE do Oeste e os moinhos que enchem as cumeadas estão - muitos deles - reccuperados, distinguido-pela sua alvura e velas. Característicos, os enormes geradores eólicos.
Lourinhã
Foi Gonçalo Mendes senhor da Lourinhã, mas tendo apoiado o rei de Castela contra o futuro D. João I, os seus domínios foram entregues a um dos partidários do Mestre de Avis, o bispo [de Braga] D. Lourenço Vicente, cujo corpo mumificado se encontra na Sé de Braga, responsável pela edificação renovada da Igreja de Santa Maria do Castelo. O donatério seguinte foi o célebre João das Regras, de quem descenderam os Condes de Monsanto, o 3º dos quais, D. Pedro de Meneses, enriqueceu o recheio dos templos, designadamente com os quadros do chamado Mestre da Lourinhã, que se encontram na Igreja da Misericórdia.
O guia não é para trilhos de pegadas mas para o Museu, instalado no antigo edifício do Tribunal, [1] um guia que nada tem a ver com os do tempo da outra senhora, com o discurso memorizado, regresando à repetição do mesmo desde o início se interrompido, sem saberem responder a qualquer pergunta. Este é um guia sábio, que permite as perguntas e fá-las, para que os visitantes participem. O que vemos dos dinossauros são fósseis, isto é, ossadas mineralizadas por agentes químicos que actuaram sobre os animais mortos e depositados em pântanos, cujos esqueletos foram cobertas por camadas sedimentares e elevados por movimentos tectónicos, cujos fósseis são postos a descoberto sobretudo devido à acção de agentes erosivos ou abrasivos, designadamente o vento. Ao conrário dos ossos brancos dos desertos, esses não fósseis, os dos dinossauros são negros, resultado das reacções químicas resultantes da composição dos solos em que se encontram. Através de pedaços fósseis de dinossauros e dos trilhos das pegadas é possivel reconstituir o animal, o tipo de alimentação (herbívoro ou carnívoro) e a sua velocidade de deslocação e peso. Também se encontram fósseis de ovos e de embriões.
A região litoral de Portugal entre Ourém e Sesimbra é rica em vestígios de dinossauros, alguns dos quais ainda não surgiram noutros países. Estes animais extinguiram-se há 45 milhões de anos, por causas desconhecidas, muito anteriormente ao aparecimento do homem na Terra. Nem as tartarugas, nem os crocodilos - foram encontrados fósseis de ambas as espécies na Lourinhã - nem os morcegos são descendentes dos dinossauros mas sim as aves. Estas tiveram como antepassado comum dinossauros carnívoros, os terópedes. Quando se pensa na altura, peso e dimensões avantajadas dos dinossauros, é espantoso que as aves sejam os seus descendentes, como o simpático e minúsculo colibri.
Para alem da secção de Paleontologia, possui o Museu as de Arqueologia, Arte Sacra e Etnografia, esta com instrumentos e objectos de trabalho de profissões extintas ou em vias de extinção, como as de alfaiate, torneiro, correeiro, segeiro, pitrolino, sapateiro, amolador, tanoeiro, ourives, lavadeira - engomadeira, marceneiro, canteiro,correeiro, arreador - tosquiador, não faltando mesmo os objectos duma escola do ensino primário, duma botica ou brinquedos antigos e os célebres pirolitos.
Depois duma breve passagem pela Praia da Areia Branca, imenso areal mesmo dentro da vila, enquanto o Francisco e os pais ficam numa esplanada, percorro a Rua da Misericórdia até à Igreja de Santa Maria do Castelo e, após um pequeno bosque, vou até ao cruzeiro no sítio onde se erguia o castelo, do qual não existem vestígios, apenas vasto miradouro. Tal como a Igreja do Convento de Santo António também estas duas estão encerradas. Note-se que num dos painéis de azulejos da Igreja do Convento no altar mor, se representa o Milagre da Mula. Q Igreja de Santa Maria é de estilo gótico, datando do século XIV. A da Misericórdia, com o edifício do antigo Hospital, data do século XVI, renascentista. A capela adjacente é mais antiga e possui um belo portal manuelino. O estar fechada impede que possa admirar o rico espólio museológico, designadamente de pintura quinhentista, de autores portugueses, um dos quais já atrás foi referenciado.
Para os amantes da gastronomia e da doçaria, da região são de referir a Lagosta Suada e as Caldeiradas, assim como o Pão de Ló de Miragaia, as Areias Brancas, os Peninsulares, os Amendoados, os Paimogos e, como não podia deixar de ser, as Delícias do Convento.Sem esquecer a célebre Aguardente da Lourinhã. Descobertas para outra visita.
Terminada a visita à Lourinhã, passamos pelo Vimeiro, por onde corre o rio Alcabrichel. Não é nesta freguesia mas na da Maceira que se situam as Termas do Vimeiro - Fonte dos Frades, de que tinha outra memória. O caminho para elas é uma vereda estreita ao longo da referida ribeira, bela na sua verde poluição, como se fora uma estrada atapetada de relva. Pura ilusão. Para lá das termas uma cancela, que dá acessoa a uma praia privativa.
Também o Vimeiro é célebre por aqui se ter travado a batalha do mesmo nome, em 21 de Agosto de 1808. facto que é assinalado por um padrão comemorativo e por uma série de painéis de azulejos, alusivos e ilustrativos, no largo fronteiro ao Centro de Interpretação, que já se encontra encerrado à hora a que chegamos. A Batalha colocou frente a fente as tropas napoleónicas comandadas por Junot e as anglo-portuguesas, comandadas por Wellesley, com a vitória destas e o fim da I Invasão Francesa. O velho e "fiel" aliado de Portugal permitiu a retirada das tropas francesas com todo o saque das riquezas que haviam feito, roubo que "enriquece" os museus e bibliotecas de França. À entrada da povoação do Vimeiro existe a estátua ao Soldado da Guerra Peninsular.
Portal manuelino da Igreja da Misericórdia
Antigo Hospital da Misericórdia
Igreja de Santa Maria do Castelo - pórtico lateral
Igreja de Santa Maria do Castelo - fachada principal
Igreja de Santa Maria do Castelo - pórtico lateral
(Rua dos Heróis do Ultramar)
Incongruências
Vista a partir das escadarias de acesso à Igreja de Santa Maria do Castelo
Rua na Lourinhã
Centro Interpretativo da Batalha do Vimeiro
Vimeiro - pormenor do padrão comemorativo (1908)
Batalha do Vimeiro
Rio Alcabriche nas Termas do Vimeiro - Fonte dos Frades
Termas do Vimeiro - Fonte dos Frades
Termas do Vimeiro - Fonte dos Frades
Gerador eólico
Para ver
Museu da Lourinhã
25 anos do Museu da Lourinhã (Lusa)
Dinossauros em Portugal
Monumentos Naturais em Portugal (dinossauros)
- Monumento Natural dos Lagosteiros (Cabo Espichel)
- Monumento Natural da Pedra da Mua (Cabo Espichel)
- Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurio de Ourém - Torres Novas
- Monumento Natural de Carenque (Sintra)
- Monumento Natural do Cabo Mondego
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