sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

fontenários e chafarizes 30 - Monte da Arouca (Vale de Guiso - Alcácer do Sal)

 * Victor Nogueira


Fonte no Monte da Arouca / Unidade Colectiva de Produção Soldado Luís - Vale de Guiso (Alcácer do Sal) .

Não havia água canalizada nas casas dos trabalhadores e famílias moradoras no Monte e era em bilhas ou cântaros como os da foto que os habitantes acartavam água, o recipiente à cabeça ou apoiada na cintura. Neste local ficava também o tanque de lavagem da roupa, que se punha a secar e a corar ao sol. A maioria das casas, de telha vã, estavam vagas, porque muitos dos trabalhadores preferiam viver na aldeia de Vale de Guiso, na outra margem do Rio Sado, que atravessavam de bote, por nela haver mais comodidades. A do agrário com mais comodidades estava também desocupada, pois este preferia viver na vila de Alcácer do Sal. Para além das casas dos trabalhadores, a herdade possuía uma escola do ensino primário, onde a Celeste dava aulas, para além dos galpões e dum enorme tanque para rega que a miudagem por vezes utilizava como "piscina"

O acesso fazia-se por um caminho bordejando a vala de irrigação, desde a Herdade da Barrosinha, intransitável no Inverno, ou através dum emaranhado intrincado de trilhos, a partir da estrada de Alcácer do Sal para  Montemor-o-Novo.

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O lavadouro, junto à fonte




fotos de 1973 a 1978

Ao Monte da Arouca podia chegar-se a partir de Alcácer subindo o Rio Sado, estreito e de margens verdejantes. Em Vale de Guiso, um cais de madeira. Para a outra margem, para Arouca, o acesso era mais difícil. A ligação entre as duas margens fazia se por barco, sendo necessário muitas vezes chamar o barqueiro. Daqui, pelo meio dos arrozais, a pé, com o carrego na mão, às costas ou à cabeça, chegava se ao monte, a uma certa distância. 

Outros dois acesos eram por terra, de automóvel, ou a partir da Herdade/Estalagem da Barrosinha, seguindo por uma estreita estrada à beira rio, que nalguns pontos derrocava no inverno, impedindo o acesso por automóvel. Restava o outro caminho, pelo meio do montado e seguindo estreitos e múltiplos carreiros, quase intransitáveis no inverno, salvo para os jipes e o nosso Renault 4L, carreiros sem sinalização sendo a escolha certa fruto da memória e da experiência. 

O Monte da Arouca era quase uma aldeia, com as casas dos trabalhadores rurais, de telha vã, chão de lajedo ou cimento, com dois quartos e uma sala comum, esta com lareira, sem portas interiores e quase sem janelas. Para além desta a casa grande dos agrários, no caso os Lince, a escola primária, com tanque de rega adjacente, o armazém (com lajes com inscrições, talvez provenientes dalgum cemitério). 

Tirando a casa grande, as outras não tinham instalações sanitárias; as necessidades satisfaziam se no campo, por detrás dum muro ou dum arbusto. Também não havia electricidade (sendo a iluminação feita por candeeiros a petróleo, dentro de casa, ou com pilha eléctrica no exterior, em noite de lua nova). Não havendo também água canalizada, esta era fornecida pela fonte, mais adiante, junto ao canal e perto da ponte de madeira que permitia a passagem dos tractores agrícolas. A água era transportada em bilhas ou cântaros, trazidos à cabeça ou à ilharga. Junto à fonte, com bomba, encontrava se, no meio de canaviais, o tanque, utilizado para a lavagem da roupa. Espalhadas pelo campo, ao abandono e em degradação, várias alfaias agrícolas, algumas delas sendo maquinaria.

Na altura em que lá vivemos a maior parte das casas estavam desabitadas: habitavam apenas a família do capataz, que havia aderido à Reforma Agrária, e a família do senhor Custódio: esposa (sra. Catarina), filhas (Aciolinda e ... ) e neta (Eva), filha da primeira. (Memórias de Viagem, 1997.08.20)

VER

A Vida no Monte da Arouca - UCP Soldado Luís (1)

A Vida no Monte da Arouca - UCP Soldado Luís (2)


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Uma Photographia por si só vale por mil palavras?